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Energia da lavoura

o solo do Norte Fluminense brota mais do que petróleo. Mamona, girassol, nabo forrageiro, dendê, gergelim e outras fontes oleaginosas são hoje alvo de pesquisas que já buscam soluções para um futuro sem o ouro negro, símbolo da riqueza econômica da região. Na Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), pesquisadores produzem biodiesel em pequena escala e estudam a fabricação de biogás a partir da cana-de-açúcar. Em Macaé, uma fábrica de biodiesel, projeto de estudantes do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet), será construída pela prefeitura.

O campus da Uenf, em Campos, vai ser a sede de um dos primeiros parques de energias alternativas do país. Com recursos da TermoRio, que financiará o projeto em troca de incentivos fiscais concedidos pelo governo do estado, será implantado na universidade um complexo tecnológico voltado para estudos sobre energias renováveis e onde serão fabricados biocombustíveis.

O projeto inclui uma casa ecológica, que será abastecida por energia eólica e solar e construída integralmente com materiais alternativos.

— Os dois primeiros centros tecnológicos de energia renovável do país serão instalados na Uerj (Universidade estadual de Rio de Janeiro) e na Uenf. Queremos transformar o Norte Fluminense em um pólo de produção de tecnologias e energia não convencional — afirma o secretário estadual de Energia, Indústria Naval e Petróleo, Wagner Victer, acrescentando que o investimento no projeto será de R$1 milhão.

As obras para a instalação do parque começam agora no fim do mês e deverão ser concluídas num prazo de seis meses. A idéia inicial é fabricar diariamente cerca de 500 litros de biodiesel por meio de um equipamento piloto já em funcionamento na Uenf. No momento, pesquisadores do Núcleo de Energias Alternativas (Neal) da universidade estudam as matérias-primas possíveis para a produção.

— Para fazer o biodiesel, precisamos de óleo vegetal ou gordura animal, catalisadores e álcool etílico ou metílico, o primeiro podendo ser obtido da cana-de-açúcar — explica o diretor do Centro de Ciência e Tecnologia (CCT) da Uenf, Paulo Nagipe.

O Neal trabalha em parceria com os pesquisadores da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (Pesagro), que já cultivam oleaginosas em Campos. Eles estudam quais espécies oferecem maior retorno técnico e econômico, reduzindo os custos do biodiesel em relação ao diesel de petróleo.

— A soja já mostrou que tem viabilidade de produção e que beneficia a rotação da cana-de-açúcar — afirma José Márcio Ferreira, pesquisador da Pesagro na área de extração de óleo.

No parque de energias alternativas da Uenf também serão realizadas pesquisas para a produção de biogás a partir do vinhoto — resíduo da produção de açúcar — fornecido pela Usina Coagro. Será montada uma microusina ainda este ano em parceria com a empresa El Paso. A turbina para a fabricação virá do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), de São Paulo. O projeto, avaliado em R$2,8 milhões, está em análise pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Para o pesquisador Sérgio Neves, responsável pelo Laboratório de Materiais Avançados da Uenf, o investimento em fontes renováveis de energia poderá conservar por mais tempo as reservas da Bacia de Campos e ainda tornar o município menos dependente do petróleo.

— Campos vai virar uma grande plantação de soja, girassol e mamona depois do petróleo — acredita o pesquisador.

O interesse por fontes renováveis já ultrapassa o campo da pesquisa: o município vem atraindo indústrias em busca de novas matérias-primas e desponta como um pólo de biotecnologia. Em Tocos, está em fase de instalação uma indústria de solventes — a Agacê — que fabricará propanona (acetona) e butanol por meio da cana-de-açúcar. A matéria-prima típica da região também servirá como base para produção de goma xantana — usada em cosméticos — pela Polican Campos Biotecnologia, que será inaugurada em dezembro.

Em Macaé, o movimento em torno de fontes que substituirão o petróleo também ganha força e apoio do governo. A prefeitura vai construir uma fábrica de biodiesel projetada por alunos do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet), que terá capacidade para a produção de três a quatro mil litros do biocombustível por dia. A expectativa é de que a unidade já esteja funcionando em dezembro, dentro do campus do Cefet em Macaé.

Inicialmente, as fontes para a fabricação serão o etanol, originário da cana-de-açúcar, e óleo de fritura usado, a ser coletado pela prefeitura. O município, além de fornecer a matéria-prima, arcará com os custos dos equipamentos, cerca de R$100 mil.

— A fábrica poderá também utilizar outras fontes renováveis. O projeto vai ao encontro das necessidades da região em relação ao meio ambiente. Vamos produzir dados que poderão servir como base para outras pequenas fábricas de biodiesel — diz a professora do Cefet Margarida Castelló, coordenadora da pesquisa.

O projeto de um grupo de alunos do Cefet chamou a atenção do município após se destacar em feiras de ciência de todo o país. No ano passado, a pesquisa ficou entre as 15 melhores do Brasil no concurso Técnico Empreendedor, promovido pelo Sebrae, e em primeiro lugar na Feira Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação. O projeto também ficou em primeiro lugar, em março deste ano, na Feira Brasileira de Ciência e Engenharia.

Um dos estudantes que participam do projeto, Adonis Paz — hoje aluno de engenharia civil da Uenf — pretende continuar as pesquisas científicas sobre novas matérias-primas na universidade.

— Esse projeto foi como uma iniciação científica para mim. Quero continuar trabalhando na área científica na engenharia civil, com pesquisas sobre materiais novos. Não podemos ficar presos a só um tipo de material — diz o universitário, ex-aluno do Cefet.

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