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Em viagem ao Brasil, Bush espera neutralizar Chávez

Quando anunciarem oficialmente o memorando bilateral de biocombustíveis em São Paulo nesta semana, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e George W. Bush estarão divulgando apenas uma parte dos objetivos reais do primeiro dos dois encontros que terão num intervalo de menos de um mês.

O álcool combustível, cuja produção mundial é dominada pelos dois países, é a estrela da “agenda positiva” citada pelo número três do Departamento de Estado, Nicholas Burns, e confirmada pelo chanceler brasileiro, Celso Amorim. Foi o ponto encontrado por Brasil e EUA para forjar uma nova aliança. Mas será usado como moeda de troca por ambos.

No caso americano, o principal interesse numa região relegada a segundo plano nos seis primeiros anos de mandato do republicano é neutralizar Hugo Chávez. Com ele, a ressonância cada vez maior na região que encontra seu discurso antiamericano movido a atos populistas bancados por petrodólares.

Apesar de Burns ter dito recentemente em Washington a jornalistas brasileiros que os EUA não ficam “acordados à noite só pensando” em Chávez, pessoas que estiveram recentemente com Bush dizem que ele está obcecado com a ascensão do venezuelano. Segundo esses interlocutores, Bush acredita que Chávez seja “mais perigoso” para a América Latina que Fidel Castro, pois conquista com dinheiro o que o cubano conquistava com ideologia.

Na quinta, o congressista republicano Dan Burton, do subcomitê da Câmara para a América Latina, traduziu a preocupação da Casa Branca: “Chávez usa a pobreza da região a seu favor ao usar vastas quantias do petrodólar que está ganhando para conduzir governos lá debaixo para a esquerda, e acho que isso é ruim para os EUA e para a região, no longo prazo”.

Mercosul

Reservadamente, Bush pretende cobrar de Lula uma posição mais clara -e mais dura- em relação ao venezuelano. Em troca, acenará com uma espécie de moratória ao ataque que o escritório de comércio exterior tem feito ao Mercosul ao tentar firmar tratados de livre comércio com países do grupo.

Reforçará ainda a idéia de uma aliança Brasil-EUA contra a União Européia como maneira de destravar a Rodada Doha, ambos assuntos caros ao governo Lula. Vem daí o anúncio de última hora de que Susan Schwab, titular do escritório de comércio exterior, acompanhará a comitiva presidencial.

Segundo diplomatas envolvidos na preparação do memorando, Lula baterá em público na tecla do fim da tarifa de importação que os EUA cobram ao álcool vindo do Brasil, atualmente de US$ 0,54 por galão (R$ 0,30 por litro), mesmo sabendo que é causa perdida.

Causa perdida porque a derrubada é atribuição não de Bush, mas do Congresso, hoje nas mãos da oposição. “E, mesmo se a tarifa fosse derrubada”, diz um empresário do setor que pede anonimato por estar entre os que se encontrarão com a comitiva americana, “o Brasil não teria como atender à demanda do mercado dos EUA”.

Outro ponto de barganha será o desejo brasileiro de ter assento entre os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU.

Os EUA declaram apoio à entrada do Japão e evitavam se posicionar em relação à América do Sul. Temiam alienar a Argentina ao apoiar o Brasil, e vice-versa.

Com o distanciamento do governo de Néstor Kirchner dos EUA e sua aproximação de Chávez, a Casa Branca pode indicar posição favorável ao Brasil. Não por acaso o giro de Bush pela América Latina não tem parada em Buenos Aires.

Não é por acaso, também, que Kirchner e Chávez têm reunião na capital argentina na sexta, dia que Bush passará a manhã e a tarde com Lula e o começo da noite com o uruguaio Tabaré Vázquez.

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