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Em crise, indústria de etanol tem crédito mas não pode usar

Em abril, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) disponibilizou R$ 1,3 bilhão do Programa de Apoio ao Setor sucroalcooleiro para financiamento da estocagem da produção de álcool. O recurso emergencial se soma aos R$ 3,41 bilhões liberados pelo Departamento de Biocombustível do BNDES no primeiro semestre deste ano. O total é 28% superior ao que foi disponibilizado no mesmo período do ano passado.

Apesar da existência do crédito, as usinas não conseguem financiamento. Os produtores, que já deviam e rolavam suas dívidas com mais empréstimos antes do pico da crise, em setembro, não conseguem tomar novos empréstimos por falta de garantia. “Crise de crédito é crise de confiança”, diz o pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Francisco Santos, para explicar receios do mercado financeiro.

“O setor estava investi! ndo forte. Vinha se alavancando antes da crise, com grandes investimentos em usinas novas”, lembra o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, hoje presidente do Conselho do Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Somam-se a essa dificuldade a queda do preço do etanol e a renumeração de toda a cadeia produtiva. Segundo Rodrigues, a queda do preço do barril de petróleo depois da crise (que chegou a custar US$ 140 e chegou a cair para menos de US$ 50) inviabilizou o etanol no mercado externo.

“Com isso, o mercado de etanol evaporou, literalmente. O mercado internacional não se consolidou, os preços despencaram e a oferta voltou-se para o mercado interno. O crédito sumiu do mercado e todo mundo que vinha rodando à base de crédito levou uma trombada violenta e perdeu capacidade de continuar investindo”, acrescentou Rodrigues.

O assessor técnico da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) José Ricardo Severo acha que o c! enário não se alterou muito. “Os agentes financiadores estão voltando a compor o crédito aos poucos. Tem o dinheiro, mas as empresas não estão conseguindo os empréstimos por causa do nível de exigência. Quando conseguem, não é suficiente”, afirmou Severo.

“O grau de endividamento inibe o acesso ao dinheiro”, completou Roberto Rodrigues, que também critica o “modelo burocrático” de crédito. Nesse modelo, o banco acaba não repassando os recursos pela sistemática de controle, disse o ex-ministro, que defende “um pouco mais de flexibilidade” do sistema financeiro. Ele reclamou da falta de dinheiro para capital de giro, antecipações da exportação e investimento.

A dificuldade para tomar crédito gera concentração da indústria e favorece a internacionalização do mercado. “Os grandes grupos têm mais facilidade de pegar recursos, inclusive no mercado externo. Quem tem capital aberto consegue dinheiro na bolsa. As empresas que estão dependentes dos financiadores do mercado inte! rno estão com dificuldades”, assinala Severo.

A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) projeta que o percentual de capital externo no setor chegue a 14% até 2012, sem ameaçar a hegemonia do capital brasileiro no setor. Para a Unica, o interesse do capital estrangeiro vai além da crise.

“O que há é interesse de empresas que enxergam no setor sucroenergético brasileiro um futuro promissor, já que os fundamentos do setor são muito positivos: demanda crescente por etanol no mercado interno devido ao sucesso do carro flex, que hoje responde por mais de 90% das vendas de carros novos no país, perspectivas de abertura de mercados externos, particularmente a União Europeia e em algum nível os Estados Unidos, e novas frentes com boas perspectivas de forte crescimento, como a produção de bioeletricidade a partir da queima de bagaço de cana, a produção de bioplásticos etc”, afirma nota da entidade enviada à Agência Brasil.

De acordo com dados do Ministério da Agricultura, a safra 2008/2009 teve 563 milhões de toneladas de cana moída contra 495 milhões de toneladas da safra anterior.

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