Mercado

Em concentração

ALÉM DA fartura de capitais no globo em busca de aplicações com retorno maior, a valorização das ações -fenômeno que atinge níveis recordes em todo o planeta- também é impulsionada por operações de fusões e aquisições entre grandes empresas. Os valores envolvidos nessas trocas de ações e dívidas que resultam em conglomerados gigantescos impressionam.

Na semana passada, a mineradora anglo-australiana Rio Tinto ofereceu US$ 38 bilhões pela canadense Alcan. Dois meses antes, a americana Alcoa realizara uma oferta hostil -sem a anuência dos controladores da parte que é objeto da tentativa de compra- de US$ 27 bilhões pela rival canadense. Nesse processo de múltiplas negociações, o valor das empresas explode, abrindo possibilidade para a realização de grandes ganhos de capital.

Com a operação, a Rio Tinto, terceira mineradora do mundo, tenta tornar-se a maior produtora de alumínio e alumina (matéria-prima do alumínio), superando a russa Rusal. Como resultado, o setor de mineração ficará ainda mais concentrado nas mãos das cinco grandes: BHP, Anglo American, Rio Tinto, Vale do Rio Doce e Xstrata.

Outra conseqüência inevitável desse processo de aglutinação é que os grandes conglomerados ampliam seu poder de definir preços para seus próprios produtos. No ano passado, por exemplo, a cotação do alumínio avançou 36%, impulsionada não apenas pelo crescimento da economia global e pelo apetite chinês por metais -o país responde por um quarto do consumo mundial de alumínio- mas também em razão do grande poder de negociação das mineradoras.

O Brasil também vive um processo notável de aglutinação empresarial. Fusões e aquisições têm ocorrido em alguns dos setores mais promissores em termos de perspectiva de expansão, até há pouco caracterizados pela dispersão do capital. É o caso, entre outros, do complexo da cana-de-açúcar e do setor frigorífico.

Na outra ponta, a dos segmentos industriais mais prejudicados pela valorização do real, a concentração de companhias também tem sido resposta para melhorar a capacidade de competir na nova realidade cambial. Em setores como o de têxteis, calçados e móveis, a redução do número de atores é concomitante ao aumento da escala de produção individual -o que ajuda a reduzir custos e viabiliza diminuições da margem de lucro.

Se os mercados de ações, dívida privada e crédito corporativo, em franca expansão no Brasil, parecem dar suporte a esse movimento no aspecto do seu financiamento, o descuido acerca do necessário “aggiornamento” das instituições de defesa da concorrência no país preocupa.

O capital empresarial se aglutina e ganha poder de mercado com rapidez. Mas o poder federal de mitigar efeitos colaterais danosos para o consumidor continua fragmentado e lento. O Planalto deveria, ao menos, acelerar a criação da chamada superagência de defesa da concorrência, reunindo numa só as três instâncias hoje existentes.

Banner Revistas Mobile