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Em alta na usina, etanol já reage nos postos

Até pouco tempo atrás estáveis ou com viés de baixa, os preços do etanol hidratado ao consumidor final em São Paulo, maior centro consumidor do país, começaram a reagir com mais vigor e deverão subir ainda mais. De julho para cá, o litro subiu 9% nos postos paulistas, sendo que entre o fim de agosto e a última sexta-feira a alta foi de 3,2%. Como a valorização do biocombustível vendido pelas usinas a distribuidoras está mais acelerada – chega a 19% desde julho -, especialistas acreditam que as portas estão abertas para novas correções para cima nas bombas.

“Os repasses ao consumidor deverão ser mais intensos a partir desta semana”, diz José Antônio da Rocha, secretário-executivo da Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes (Fecombustíveis). “E devem persistir ao longo do ano”, complementa.

Só nos últimos 30 dias, o preço do hidratado nos postos de São Paulo saiu de R$ 1,381 para R$ 1,425, uma alta de 3,2%, conforme dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP). Apesar da reação, o percentual ainda está abaixo da alta nas usinas no intervalo – 4,8%, de acordo com o Cepea/Esalq, de R$ 0,83 para R$ 0,87.

Em outros Estados, houve poucas oscilações para cima nos preços do etanol hidratado nas últimas quatro semanas. As exceções foram São Paulo, Rio de Janeiro , Santa Catarina e Amazonas. Em 15 Estados do país o etanol continua mais competitivo do que a gasolina. Ou seja, tem o preço equivalente a até 70% do valor do concorrente fóssil nos postos, conforme a ANP.

No Estado de São Paulo, o valor médio do litro encerrou a semana passada a R$ 1,425, ou 58% do valor do litro da gasolina. “O etanol tem espaço para avançar, sem perder a competitividade. Atualmente custa R$ 0,87 em São Paulo, e esse valor pode chegar a até cerca de R$ 1 na usina, líquido de impostos”, afirma Antônio de Pádua Rodrigues, diretor-técnico da União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica).

Após o pico de preços do etanol em janeiro – que na média dos postos em São Paulo chegaram a R$ 1,55 o litro, enquanto na usina foram a R$ 1,20 -, os valores entraram em queda. A partir de abril, passaram a apresentar certa estabilidade, com alguns movimentos ainda de baixa. Nesse período, parte dos consumidores de etanol que migrou para a gasolina, afugentada pelos preços altos do início do ano, voltou a abastecer seus veículos com o biocombustível. Mas o saldo do ano ainda é de consumo menor do que em 2009.

Segundo dados da ANP, de janeiro a julho as vendas de etanol hidratado nos postos acumulam 7,9 bilhões de litros, 14% menos do que nos mesmos sete meses de 2009. “No primeiro trimestre do ano, o consumo de etanol chegou a cair 25% e migrou para a gasolina. As distribuidoras tiveram que fazer um malabarismo logístico para conseguir atender a uma mudança tão brusca no consumo”, lembra Rocha.

Isso pode, em parte, explicar a razão de as distribuidoras estarem mais lentas no repasse dos aumentos na usina, segundo ele.

Mas, para Alísio Mendes Vaz, vice-presidente executivo do Sindicom (Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes), a concorrência desleal de distribuidoras que não recolhem tributos é o principal motivo. “Apesar de sempre existir, essa forma de ilegalidade voltou com mais força neste ano”, diz. São empresas que se constituem legalmente e começam a operar, mas não pagam imposto, explica Mendes. Quando o acúmulo de inadimplência tributária chega ao limite, continua, essas empresas encerram atividade e uma outra distribuidora é aberta.

“Sem recolher imposto, essas distribuidoras conseguem vender o etanol a preços mais baixos e seguram todo o mercado”, diz Mendes. Segundo o Sindicom, a informalidade em etanol e gasolina atinge 30% do mercado nacional e, em São Paulo, fica entre 40% e 50%.

Essa concorrência se torna ainda mais predatória em um mercado como o da capital paulista, onde nenhuma distribuidora quer perder espaço. “As distribuidoras na capital estão operando com margem negativa para etanol para não perderem mercado”, diz Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura.

Ele reconhece que a informalidade tem forte impacto na manutenção dos preços baixos do etanol, mas acredita que outras questões estruturais estão reforçando esse movimento. “Sonegação sempre existiu. Tem altos e baixos, mas isso não explica tudo. É possível que as distribuidoras busquem reduzir suas margens para equilibrar o mercado de etanol e de gasolina, de forma a evitar movimentos bruscos, que geram problemas logísticos e necessidade de maior importação de gasolina”, pondera.

Mas, ainda que o mercado informal esteja ajudando a manter “artificialmente” os preços em baixa, em uma hora ou outra o mercado vai corrigir, de forma a buscar o equilíbrio entre oferta e demanda, diz Tarcilo Rodrigues, da Bioagência.

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