O setor sucroalcooleiro perdeu quase 300 mil empregos no país desde o início da crise na economia global, no segundo semestre de 2008.
Nos últimos seis anos, o setor fechou quase 50 usinas e a massa salarial foi reduzida em 56,8%, passando de US$ 9,5 bilhões, em 2008/09, para US$ 4,1 bilhões, em 2013/2014.
Os dados estão num mapeamento do setor sucroenergético, apoiado por Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), Orplana (entidade de plantadores de cana) e Ceise-BR (indústrias).
O estudo, feito com o objetivo de traçar um diagnóstico desde que se iniciou a maior crise do setor, mostra que apesar dos problemas o mercado sucroalcooleiro respondeu por quase 2% do PIB nacional de 2013, estimado em US$ 43,36 bilhões.
Mas poderia ser maior, segundo o setor, se o governo tivesse dado suporte para que as indústrias superassem os momentos de dificuldade.
A avaliação é de Marcos Fava Neves, docente da FEA-RP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto), da USP, que conduziu o estudo. Segundo ele, o PIB do setor poderia ser 40% maior e atingir cerca de US$ 60 bilhões.
Na região de Ribeirão, polo sucroalcooleiro do Estado, os efeitos são devastadores. De acordo com economistas e especialistas, os indicadores econômicos de 2014 já são os piores da história.
A criação de empregos no primeiro semestre na região foi a menor dos últimos cinco anos, só atrás de 2009.
As dez cidades mais populosas criaram 19.082 vagas, ante as 21.400 de 2013.
Segundo a indústria, o resultado ruim tem ligação direta com a crise no setor, assim como a queda na movimentação do aeroporto Leite Lopes, de 9% no período.
“É uma miopia impressionante. Um setor que tem o respeito mundial não é reconhecido como deveria no Brasil. Nos EUA, a agência de proteção ambiental exige o uso do etanol, o que não temos aqui”, disse Fava Neves.
O estudo aponta que o que se viu “foi uma completa descontinuidade da política de estímulo ao etanol”.
O levantamento aponta ainda que dez usinas poderão encerrar as atividades na atual safra canavieira.
Gasolina
Entre os problemas apontados no estudo e que precisam de solução a partir de políticas públicas está a manutenção do preço da gasolina, considerado um dos principais entraves para o etanol.
Para evitar alta maior da inflação, a Petrobras vende a gasolina a preço mais baixo que o necessário para cobrir custos com o petróleo que importa. Com isso, o etanol perde competitividade.
Eduardo Leão, diretor-executivo da Unica, disse que o setor foi corroído também pela desoneração tributária da gasolina, que baixou ainda mais os preços –contendo as altas do etanol.
“O governo não reconhece os benefícios do etanol, o que é um erro. São vantagens que não são refletidas no preço. É bom para a saúde pública e para o ambiente [à medida que polui menos]”, afirmou.
Fonte: Folha de S. Paulo