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Eficiência depende de avanço tecnológico

Os custos de produção de etanol, em curva crescente, tornam urgente um avanço significativo da tecnologia usada para fabricar o biocombustível. Para especialistas, disso depende também a viabilidade futura do produto feito de cana-de-açúcar, que perdeu competitividade neste ano até em relação ao etanol de milho americano.

Há 30 anos, lembra Arthur Yabe, gerente setorial do Departamento de Biocombustíveis do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), com uma tonelada de cana se produzia 3 mil litros de etanol. Ao longo dos anos, as tecnologias foram evoluindo a ponto de esse desempenho estar hoje em 7 mil litros.

Mas já há esgotamento dos ganhos de produtividade no sistema atual, diz Yabe. “Adicionar ganhos a esses patamares está cada vez mais difícil”. O banco de fomento, em parceria com a Finep, vai destinar pelo menos R$ 1 bilhão este ano para pesquisas que busquem tecnologias para agregar palha e bagaço ao processo de produção de etanol e outros produtos energéticos, a exemplo de estudos para tornar economicamente viável o etanol celulósico.

Especialistas também acreditam serem necessárias mudanças no modelo de negócio existente hoje. O diretor de Finanças Corporativos da Czarnikow Group, Tiago Medeiros, defende que o setor precisa deixar de ser “superintegrado”, ou seja, de concentrar todos os investimentos do processo.

“É preciso que outros investidores participem mais da cadeia de valor. Isso inclui mais terceirização do plantio de canaviais, de mecanização e de cogeração de energia”, exemplifica Medeiros.

Atualmente, em torno de dois terços da cana é produzida ou gerenciada pelas próprias usinas. O resto, por fornecedores, informa Marcos Fava Neves, professor de Estratégia da USP. Mas esse cenário deve mudar, avalia. “Entram no setor empresas do ramo petroleiro, tradings, etc, que terão menos incentivo para gerir as áreas agrícolas”, completa.

Além disso, afirma ele, os custos de produção de cana vêm se elevando consideravelmente, bem como o preço das terras. “O imobilizado para as usinas pode diminuir bastante, facilitando e financiando a expansão industrial”

Fábio Venturelli, CEO do grupo São Martinho, considerada uma das companhias de maior eficiência operacional por especialistas do setor, acredita que com a terceirização é possível dividir investimento, mas também significa dividir valor. Além disso, diz ele, a produção da cana é regida por legislação – ambiental e trabalhista – que impacta de “forma brutal” no modelo do fornecedor. “Trata-se de uma sofisticação incrível que traz ônus muito grande para os fornecedores menores”, diz.

O CEO da São Martinho não acredita que um modelo de consolidação em oferta de cana-de-açúcar vá funcionar. “Quando esse grande fornecedor de cana existir, ele vai querer construir uma usina pois já vai ter 80% do custo da produção, que é a cana”, avalia Venturelli. Ele vê vantagem na terceirização de atividades que não sejam “essenciais” da usina. Entre elas, a de transporte de vinhaça, por exemplo.

Para o executivo, o que pode de fato fazer diferença no crescimento do segmento é o adequado financiamento da lavoura de cana. Além de uma equação bem definida que envolva aquisição de maquinário, plantio e renovação de canavial, são necessárias linhas de crédito para plantio que considerem a cana como ativo, na opinião de Venturelli. “O crédito rural tem um ano de carência, mas o ciclo da cana é de cinco anos”. (FB)

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