Os produtores brasileiros estão decidindo o que é, mais importante, quanto plantar em 2023/24. O “o que” costuma ser uma pergunta mais fácil de responder, pois na maior parte do Brasil é possível plantar milho como segunda safra, e a soja é preferida para o verão.
“Quanto” é a verdadeira questão, ressalta o analista o analista de Grãos e Oleaginosas da hEDGEpoint Global Markets, Pedro Schicchi.
“Este ano, temos custos mais baixos, porém preços também mais baixos. No entanto, os preços caíram mais do que os insumos e, portanto, as margens estão mais apertadas do que nos últimos três anos. Isso é verdade para ambos, mas as margens esperadas para o milho de inverno estão mais apertadas do que as da soja”, afirma.
Dois pontos decorrem desse fato. Um deles é que margens mais apertadas exigem mais atenção à gestão de riscos, pois movimentos de mercado podem erodir os lucros com mais facilidade. O segundo é que devemos esperar um crescimento de área menor do que vimos nos últimos anos.
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As margens afetam a área, mas o que podemos dizer sobre a produtividade?
Os rendimentos são difíceis de prever até mesmo enquanto a safra se desenvolve; você pode imaginar o quão precisas são as estimativas pré-safra. Ainda assim, temos um ano de El Niño pela frente com muitos impactos nas safras, conforme detalhes em recente relatório.
“No verão brasileiro, o El Niño tende a ser positivo para os estados do Sul, pois traz bons níveis de chuva – o oposto do que tem acontecido nesses últimos anos de La Niña. Por outro lado, ele tende a ser ligeiramente negativo para os estados do Centro-Norte, pois traz temperaturas ligeiramente acima da média, o que, se combinado com baixa precipitação, pode resultar em perdas”, observa.
Pedro Schicchi explica que, no entanto, nem sempre é o caso, já que o El Niño não é fortemente correlacionado com a precipitação no Norte. Rio Grande do Sul e Paraná normalmente produzem cerca de 40M ton de soja em anos normais, e o MATOPIBA alcançou cerca de 20M ton em 22/23. “Assim, as boas perspectivas para o Sul têm maior efeito no número final do Brasil”, diz.
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Quanto ao milho de inverno, o cenário não é exatamente o mesmo, de acordo com o analista. As tendências gerais permanecem: positivas para o Sul e negativas para o Centro-Norte. No entanto, o milho é mais sensível a temperaturas elevadas do que a soja e, além disso, o Rio Grande do Sul não produz milho de inverno, segundo Schicchi.
“Assim, as perdas nos estados do Centro e Norte podem ser maiores, enquanto o estado que mais se beneficia do fenômeno não está presente na equação para compensar esse efeito”, diz.
Estimativa produção Soja
Para a soja, temos crescimento de área, embora não tão alto quanto em anos anteriores, e uma perspectiva de produtividade moderada a favorável. Por sua vez, isso nos dá a projeção apresentada na Figura 5.
A hEDGEpoint Global Market estima uma produção em cerca de 163M ton. “Mas isso pode ser facilmente aumentado se tivermos bons rendimentos no Centro-Oeste e no MATOPIBA, já que o Rio Grande do Sul sozinho deve se recuperar das 15M ton deste ano para mais de 20M ton com boas chuvas”, pontua o analista.
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Estimativa produção Milho
Para o milho, de acordo com o especialista, este ano já foi economicamente ruim para os produtores do grão. “Aliado ao que se supõe ser uma boa safra nos EUA, o incentivo para plantar milho no Brasil é menor do que para plantar soja, embora isso seja discutível. Por sua vez, o crescimento da área que esperamos é também menor”, diz.
As perspectivas de produção de milho no Brasil são menos favoráveis devido a fatores econômicos e menor otimismo em relação ao rendimento, com a produção total estimada em 133M ton, semelhante à estimativa atual da empresa para 2022/23, apesar de algum crescimento na área.
“Além disso, não temos uma perspectiva tão boa para os rendimentos, e os resultados de 2022/23 foram espetaculares contra todas as probabilidades. Portanto, estimamos a produção em níveis similares a 2022/23, mesmo com o crescimento da área, já que os resultados deste ano podem não se repetir”, afirma.