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Economia quase não sente a crise

A consistência com que caminha a economia brasileira – em especial, no caso das contas externas – tende a atenuar as repercussões da crise política nos mercados, o que parece ter sido evidenciado pela evolução das cotações das ações e do dólar nos dois últimos dias.

Os investidores certamente não ignoram o risco de novas e fortes oscilações, na hipótese de um agravamento do quadro político. Mas, até agora, os mercados responderam com serenidade ao teste.

Um dos termômetros para essa avaliação é o índice Bovespa, que mede o comportamento das ações mais negociadas em São Paulo. Na terça-feira caiu 3,07%, uma queda inferior, por exemplo, à de 4,15%, ocorrida em 14 de abril, e à de 3,4%, de 4 de janeiro deste ano, as duas decorrentes de fatores estritamente econômicos, como a realização de lucros ou a saída de recursos de investidores estrangeiros. O índice Bovespa voltou a cair ontem (-2,04%, às 16h59), mas em proporção inferior à de segunda-feira.

Na história, as maiores quedas do índice Bovespa foram de 20,95%, em 20/3/1990, e de 22,26%, em 21/3/1990, na era Collor. Os recordes anteriores de baixa haviam sido de 16,13%, em 20/10/1987, no Plano Bresser, e de 15,82%, em 10/9/1998, na crise russa.

Quanto ao câmbio, o dólar havia atingido a cotação de R$ 2,37 na semana passada e já se vinha recuperando em relação ao real após o anúncio de que o Banco Central pretendia voltar a adquirir a moeda. Na segunda-feira, o dólar subiu 0,95%, fechando a R$ 2,45, após ter atingido a máxima de R$ 2,48. Ontem, era cotado a R$ 2,46, às 16h49.

A desvalorização dos papéis brasileiros no mercado internacional não chegou a ser expressiva, nesta semana. O risco Brasil aumentou de 416 pontos básicos, na sexta-feira passada, para 430 pontos básicos, anteontem (ou seja, pagam juros de 4,3 pontos porcentuais ao ano acima dos papéis norte-americanos de mesmo vencimento).

A reação dos investidores foi, portanto, madura, diferentemente do que ocorreria se o Ministério da Fazenda e o Banco Central estivessem adotando alguma política econômica heterodoxa, em vez de buscar a redução do déficit fiscal e a criação de superávits nas contas externas.

Investidores institucionais, como fundos de pensão e seguradoras, tendem a aplicar recursos a longo prazo, evitando o risco das oscilações do curto prazo. Como observou o ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore, “crises passageiras produzem efeitos passageiros”. O risco “é o da persistência da crise”.

Se não é possível isolar totalmente a economia da política, a garantia de continuidade da política econômica em curso poderá evitar maiores oscilações nos preços dos ativos, no caso das carteiras de longo prazo. Como previu a economista Rachel Fleury, no boletim de ontem da Consultoria Tendências, “a austeridade na condução das políticas monetária e fiscal deverá aumentar, na tentativa de o governo mostrar comprometimento com a estabilidade econômica”.

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