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Economia cresce 2,3% e mostra suas fragilidades

A economia brasileira cresceu 2,3% no ano passado, um resultado que afasta as suposições mais pessimistas – de uma recessão, por exemplo -, mas que não entusiasma quanto ao futuro. Os números do Produto Interno Bruto mostram que é preciso um novo motor de crescimento, já que o consumo perdeu o fôlego. O avanço de 2,3% no consumo das famílias foi o menor desde 2003. Há outros indícios ruins e o pior deles é a queda da já baixa taxa de poupança doméstica, para 13,9%, a menor em 12 anos, isto é, desde 2001. E, apesar de a taxa da formação bruta de capital fixo ter se expandido a robustos 6,3% em 2013, ela subiu apenas de 18,2% para 18,4% do PIB.

Aumento dos investimentos acompanhado de queda da poupança doméstica é uma combinação perigosa, que elevou o déficit em conta corrente a 3,66% do PIB e não pode persistir sem atrair a atenção dos investidores para a vulnerabilidade externa do país. As importações ganharam terreno em relação às exportações, estagnadas em 2013, e, assim, o comércio exterior roubou 0.9 ponto percentual do PIB, pela ótica da demanda.

Na ponta, na comparação de trimestre contra trimestre imediatamente anterior, a economia vem desafiando prognósticos, dada a montanha russa de altos e baixos. A mediana das previsões das dezenas de instituições que participam do Focus apenas acertou a previsão do PIB no último boletim de 2013, de 28 de dezembro – isto é, com o ano encerrado. O estado atual, por essa comparação, não é exatamente promissor, em que pese o desempenho extraordinário da agricultura. O setor sazonalmente não cresce no último trimestre do ano, seu desempenho pode ser negativo, como em 2012. Em 2013, isso não ocorreu. A indústria, ao contrário, colheu resultados negativos (-0,2%), enquanto que os serviços avançaram ao mesmo ritmo do PIB no período, 0,7%. Mas o curto prazo não serve para previsões firmes. Em 2013, o PIB nada cresceu no primeiro trimestre, deu um salto no segundo, foi negativo no terceiro e mostrou avanço moderado no quarto.

Já na comparação dos últimos quatro trimestres com os quatro anteriores, o PIB cresce ao longo do tempo e estaciona em 2,3% nos últimos dois trimestres. Há motivos para intuir que a taxa atingida está perto de ser quase um teto de expansão da economia em 2014. Isso porque o ritmo de aumento do consumo das famílias está arrefecendo. As taxas de desemprego estão muito baixas e dificilmente recuarão, enquanto que os aumentos reais dos salários tendem a declinar. Os investimentos deram um salto, mas sob uma base anterior muito baixa, enquanto o setor externo pode roubar força do PIB.

Uma reação possível viria do setor externo, após a desvalorização cambial, embora isso não deva ocorrer de imediato, nos próximos meses. As exportações recobrariam seu vigor, enquanto que as importações, mais caras, se manteriam mais ou menos constantes, dada a temperatura morna da atividade.

Incertezas sobre o rumo da economia, agravadas pelo aumento da taxa de juros e por eleições presidenciais não formam um ambiente favorável a uma alta significativa da taxa de investimentos. E, ainda pelo lado da demanda, é pouco provável que o consumo do governo, que contribuiu com 0,41 ponto percentual do PIB em 2013, tenha um papel mais forte em 2014. Após ter realizado o menor esforço de contenção de gastos em uma década, no ano passado, a administração pública deve repetir a dose este ano, com resultados semelhantes.

Resta ver o impacto da desvalorização cambial sobre a produção doméstica e a exportação das indústrias. A indústria de transformação continua no fundo do poço após anos de real valorizado e, em algum momento, deve reagir. Nada de muito diferente deve ocorrer no setor de serviços, que é em grande parte movido pela renda, que já não cresce à mesma velocidade do passado.

Os dados do PIB indicam que a economia precisa de outro padrão de expansão. Incentivos ao consumo e desonerações tiveram sua importância, mas não foram decisivos e deram contribuição menor para o crescimento. Elevar a taxa de poupança doméstica, passaria, entre outras coisas, pela diminuição importante dos gastos do governo, o que não está no horizonte. Resta a via do aumento de produtividade, onde é possível obter grandes avanços, se os gargalos estruturais forem atacados com seriedade e constância.

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