Mercado

Economia começa o ano desaquecida

José Roberto Mendonça de e Renata Ferraz de Toledo Machado*Barros

A recuperação do crescimento econômico esperada pelas autoridades monetárias no último trimestre de 2005 não se materializou. Dados preliminares sobre o Natal indicam que as vendas cresceram moderadamente. A produção industrial no quarto trimestre trará pequeno alívio, um crescimento de 1,2%, caso se confirme nossa previsão de alta de 3,4% na produção de dezembro ante novembro. No entanto, esse resultado não deve mudar o quadro de desaceleração do crescimento do produto interno bruto (PIB) em 2005, que deverá ser de 2% a 2,5%.

Ao mesmo tempo, o mercado de trabalho vem dando sinais de enfraquecimento, especialmente na indústria e na construção. O emprego na indústria calculado pelo IBGE aponta para uma estabilidade no pessoal ocupado em dezembro em relação a novembro. O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgou que em 2005 o número de vagas criadas foi 18% menor do que em 2004.

Há ainda o resultado ruim da Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação, da FGV, no quesito emprego. O saldo entre os empresários que esperam contratar menos os que esperam demitir foi negativo em 21 pontos porcentuais no primeiro trimestre de 2006 (a média histórica para o período é de -8 pontos porcentuais).

Além disso, muitas empresas, especialmente no setor exportador, estão cortando custos para fazer frente à forte valorização do real, substituindo funcionários com altos salários por novos com salários menores. O economista João Sabóia mostrou que este fenômeno não é novo. Entretanto, há indícios de se estar acelerando no período recente. Embora a relação câmbio/salário melhore, no curto prazo o ajuste é doloroso.

Segundo o IBGE, em dezembro o rendimento dos empregados com carteira assinada cresceu só 0,7% em relação a dezembro de 2004. Na construção civil foi de 1,1% no mesmo período.

Assim, o efeito positivo sobre o consumo advindo da queda dos juros ao longo do ano será mitigado pela alta rotatividade da mão-de-obra e pela fraqueza do salário real.

Entretanto, o pior cenário é o que se vem configurando na área dos investimentos.

Ao lado da lamentável operação tapa-buraco, pouco se tem a dizer quanto aos investimentos em portos e estradas. O setor elétrico continua complicado. As mudanças introduzidas com o novo modelo não trouxeram segurança aos investidores, como se viu no leilão de energia de dezembro. Dessa forma, o risco de novo apagão em 2008/2009 permanece no horizonte.

Há ainda a questão dos baixos investimentos no agronegócio. Salvo algumas atividades (cana, citros, café e eucalipto), foi difícil a situação do setor em 2005, cujos desdobramentos em termos de redução de área (4,7%), menor uso de fertilizantes (queda nas vendas de 14%), menor investimento em máquinas e equipamentos, etc., já são nítidos nos levantamentos divulgados por entidades do setor. É crescente o número de relatos de empresas ligadas ao setor exportador que vêm reduzindo seu investimento no Brasil e os levando para o exterior, conseqüência dos juros altos e do câmbio valorizado. Conhecemos inúmeros casos nas áreas de metais, automotiva, de bens de consumo duráveis, química, etc.

O consumo aparente de máquinas caiu recentemente e a construção civil teve um ano muito fraco.

Por último, em ano de eleição como este, em que de fato o que se sabe é que a corrida presidencial será acirrada, dificilmente os fenômenos citados acima serão revertidos. Isso nos leva a crer que o crescimento econômico em 2006 deverá, sim, ser um pouco melhor que o anterior, mas com muito pouco a festejar.

*José Roberto Mendonça de Barros e Renata Ferraz de Toledo Machado são economistas da MB Associados

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