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Doce vilão

O açúcar não é tão mau quanto se costuma crer. Seu consumo em doses moderadas é saudável – e necessário

Não é andar na contramão derrubar o mito de que o açúcar faz mal. É que, depois de a medicina sugerir a exclusão radical dessa forma mais simples de carboidrato (sacarose), surgem correntes que apontam a necessidade de inserir os cristais branquinhos na alimentação de forma moderada – e sem neurose. No Brasil, a tendência começou a dar os primeiros passos no ano passado, através do livro A nova revolução da glicose (Ed. Campus), que mostra como o açúcar não tem papel preponderante na causa da obesidade e de outras doenças.

De acordo com o médico nutrólogo Edson Credidio, diretor da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), existem fundamentos por trás dessas novas abordagens. “O organismo de uma pessoa que não inclui açúcar na dieta passa a sintetizar glicose de fontes que não são carboidratos. Há queima da proteína e da gordura dos músculos e, assim, é liberada a uréia, um resíduo que lesa os rins”, explica Credidio.

Está provado cientificamente também que qualquer fracasso na disponibilidade de glicose tem conseqüências negativas para o funcionamento do cérebro. É o que mostram estudos recentes da Universidade de Virgínia (Estados Unidos), cujos cientistas provaram que o açúcar reforça a memória e o aprendizado. A melhora do desempenho intelectual foi demonstrada no grupo que usou açúcar em limonadas, e não no outro segmento que utilizou adoçante. Eis o motivo: como os níveis de açúcar caem durante um período de intenso processamento cognitivo, a reposição de sacarose promove a recuperação da glicemia. É um achado e tanto para a pessoa deixar de se sentir cansada e lerda.

Ah, nesse quesito de fadiga, a sacarose também aparece como promotora da saúde – principalmente no caso dos atletas. “São pessoas que, durante e após os treinos, precisam repor o açúcar perdido para evitar o desgaste físico-muscular”, informa a nutricionista Rosa Costa, do Centro de Excelência Esportiva de Pernambuco (Cenesp/PE).

De acordo com ela, o ideal é tomar bebidas isotônicas durante o exercício para prevenir a desidratação. “São opções com concentração moderada dos açúcares essenciais para atletas”, afirma Rosa. “Já as bebidas energéticas, com maior concentração de maltodextrina (açúcar que age como repositor energético para quem treina intensamente), servem para depois da atividade física por terem ingredientes adicionais aos carboidratos, como vitaminas e sais minerais.”

Elementos extras também podem ser encontrados em alguns tipos de açúcar usados no dia-a-dia. É o caso do mais escurinho de todos, o mascavo: 100 gramas apresentam 85 miligramas de cálcio, 29 miligramas de magnésio, 22 miligramas de fósforo e 350 miligramas de potássio. Para comparar, na mesma quantidade do refinado (aquele tipo branco comum de mesa e presente no mel e xaropes), são encontrados aproximadamente dois miligramas de cada um desses nutrientes.

“O problema é que ninguém usa, em uma porção de bebida, 100 gramas de açúcar”, destaca a química Ana Cláudia Correia, especialista em alimentos e dietoterapia. Por isso, nem sempre vale a pena trocar o refinado pelo mascavo, que é no mínimo 50% mais caro do que o comum. “O mascavo é uma versão que pode ser mais saudável por não perder vitaminas e sais minerais no processo de refinamento, mas há de se considerar que é um tipo com mais impurezas.”

Viu só que o refinado não é tão mau como geralmente é apresentado? Veja os demais motivos que provam o lado mocinho desse tipo de sacarose: “O refinamento, que não é nocivo como mostram alguns estudos, é um processo semelhante ao tratamento da água. Claro que se usa enxofre, mas as indústrias utilizam em doses adequadas para não afetar a saúde”, completa Ana Cláudia.

A melhor dica, para quem não deseja abrir mão dos açúcares naturais, é optar pelas marcas vendidas por empresas que detêm selos de agências de certificação orgânica, como as internacionais Farm Verified Organic (FVO) e Ecocert. Os emblemas garantem que tipos defensivos, fertilizante ou ingredientes químicos, do plantio à embalagem, não foram utilizados.

Quer agora um recado final? Use açúcar de forma moderada: duas colheres de chá em uma xícara não vai levar à obesidade, nem trazer outras doenças. Afinal, não é a sacarose por si só que vai fazer mal, mas sim se for ingerida uma quantidade diária alta.

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