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Diretor da Aralco fala sobre projetos desenvolvidos pela empresa

O diretor agrícola da usina Aralco, Miguel Blumer, fala sobre os projetos desenvolvidos pela empresa, entre eles os cuidados com o meio-ambiente e a polêmica sobre as queimadas. Abaixo, os principais trechos da entrevista.

Qual o objetivo da Semana de Valorização do Trabalhador Rural?

Na Aralco, estamos conscientes da nossa obrigação de harmonizar produção e geração de empregos no campo, respeitando, ao mesmo tempo, o meio ambiente. É consenso, também entre nós, que hoje, os maiores diferenciais que as empresas podem e devem oferecer à sociedade, são os investimentos em políticas e/ou estratégias que visem a preservação do meio ambiente, bem como os investimentos em programas sociais. Então, cumprindo nosso papel, a Semana de Valorização vem sendo realizada há três anos com a finalidade exclusiva de valorizar realmente o trabalhador rural, o cortador de cana. Mostrar a ele a sua importância dentro do sistema produtivo da nossa empresa e ensiná-lo a importância da sua contribuição para o meio ambiente.

Com relação ao meio ambiente, o que a Aralco tem feito?

Buscamos e tentamos sempre melhorar. Além de praticar as técnicas tradicionais de conservação e a obediência rigorosa às leis ambientais, temos, na medida do possível, de estar sempre procurando nos exceder, traçando metas a serem cumpridas. Nessa linha, estamos impermeabilizando nossos reservatórios de resíduos industriais e pretendemos, até o final do ano, atingir a meta de plantar 50.000 árvores nativas em reflorestamentos de áreas de preservação permanente, sendo que 40.000 já estão plantadas.

Ainda com relação ao meio ambiente, a Aralco faz colheita sem utilização de queimadas?

Colheitas sem queimadas, só é possível com a utilização de máquinas. Possuímos quatro e já faz três anos que colhemos 20% da nossa área “crua” e mecanicamente, exatamente o que manda a lei. Estamos encontrando muitos problemas devido ao corte mecanizado.

Quais os principais problemas e qual a sua opinião sobre a colheita mecanizada?

Pela maneira como foi imposta, independentemente do prazo, a colheita mecanizada é irreversível. Achamos que sua introdução deveria ser de forma espontânea e gradativa. Seria mais uma ferramenta a ser utilizada, no momento certo, para redução de custos, mas sempre respeitando a “vocação” da mão de obra de cada região, como aconteceu com outras culturas, caso do milho, algodão, etc. Existem ainda muitas barreiras a ser transpostas. A colheita mecanizada, num primeiro momento, aparentava ser, pelo menos aos olhos das autoridades ambientais, um claro processo de evolução tecnológica, inteiramente benéfica ao meio ambiente. Mas na prática, isto não acontece. Analisando-se os “prós e os contras”, por enquanto, no curto e médio prazos, a utilização das máquinas está causando, além dos entraves técnicos, econômicos e sociais já esperados, uma “faca de dois gumes” para a natureza. Ela causa, em nossa opinião, danos ao meio ambiente. A lavoura de cana-de-açúcar, que não utilizava pesticidas para combater pragas, que eram controladas pelo fogo, passou a utilizá-las de maneira generalizada. Nunca se usou tanto pesticida na cana como na atualidade, principalmente no combate às cigarrinhas que encontraram, sob a palha depositada no solo, um hábitat excelente para sua reprodução. Um ataque severo de cigarrinhas chega reduzir a produção da lavoura em até 50%. Outra ocorrência preocupante é a grande incidência de incêndios, acidentais e criminosos, de grandes proporções, nas palhadas depositadas e deixadas sobre o solo pelas colhedeiras. É um fogo lento e rasteiro, que prejudica muito mais o solo, que as programadas e controladas queimadas de pré–colheita. Enfim, achamos que o aumento do número de máquinas no campo deveria ser na mesma intensidade do número de soluções apresentadas para os problemas ambientais por ela causados e na proporção e medida da melhoria de sua “performance” — principalmente do crescimento da oferta de empregos no próprio campo. A redução da oferta de trabalho deve estar sempre associada às alternativas econômicas que garantam a qualidade de vida da população das regiões canavieiras.

O que é PROALFA?

É o Projeto de Requalificação Orientada e Alfabetização da Aralco. Na prática, visa a requalificar o trabalhador do corte de cana. O item I do Artigo 20 da Lei 11.241, que decreta a eliminação gradativa das queimadas, estabelece que as usinas têm de desenvolver programas destinados a requalificar profissionalmente os trabalhadores envolvidos na produção sucroalcooleira. Não só para cumprimento da lei, mas muito mais pela vontade de fazer, estamos nos antecipando e procurando, com muito gosto, realizar a nossa parte, ministrando, dentro dos alojamentos, que chamamos de Centro Habitacional Temporário da Aralco- CEHATA, aulas de Alfabetização e de Informática para nossos trabalhadores. São duas salas para aulas diárias de alfabetização, com 36 alunos. Uma sala com quatro computadores, onde são ministradas aulas de iniciação à informática com 80 alunos, mas com capacidade para atender até 120. Será inaugurada, ainda esta semana uma biblioteca abastecida pela campanha de arrecadação de livros e revistas entre os próprios funcionários do grupo Aralco. E assim vamos seguindo, tentando realizar as boas idéias que vão surgindo.

Por que a Aralco não contrata somente mão-de-obra da região para o corte da cana em vez de contratar migrantes?

Não só a Aralco, mas todas as usinas do estado de São Paulo contratam migrantes. As usinas do estado, hoje, são totalmente dependentes da mão-de-obra do migrante para o corte manual da cana. A profissão “cortador de cana” está em extinção em nosso estado. Por isso, pensamos que, quando o “problema” se torna irreversível, temos de aceitá-lo e aprender a conviver com ele da melhor maneira possível. Muitas vezes, o que era problema passa a ser solução. Hoje, os migrantes são a mão-de-obra disponível e a solução. Temos que dar a eles as melhores condições possíveis de treinamento, moradia, trabalho e segurança, para que tenham, durante os meses que passam conosco, estadias dignas e condições de progresso, pois são pedras brutas, que com pouca lapidação passam a brilhar.

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