JornalCana

Diplomacia do etanol aproxima Brasil e EUA

A passagem de oito autoridades americanas por Brasília, na semana passada, mostrou que o pragmatismo elevou o nível das relações Brasil-Estados Unidos e teve na cooperação na área de biocombustíveis sua mola propulsora. Para os Estados Unidos, houve inflexão nas políticas externas de ambos os países e boa dose de empenho dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e George W. Bush na construção de um projeto capaz de fortalecer a economia e a democracia no Hemisfério. Para o Brasil, sua peculiar vizinhança ajudou a atrair a confiança de Washington.

Sete desses oito funcionários americanos participaram da 1ª Cúpula Brasil-EUA de Inovação, em Brasília. Mesmo nas conversas oficiais com autoridades brasileiras, raros foram os momentos em que a palavra etanol não foi mencionada. Segundo o subsecretário-adjunto de Estado para o Hemisfério Ocidental, Thomas Shannon, a cooperação tem caráter simbólico relevante e trará repercussões em outras áreas.

Insistiu ainda que o projeto não está parado e os países estão empenhados no avanço de suas três vertentes – tornar o etanol uma commodity, atuar em terceiros países e desenvolver a tecnologia de produção a partir da celulose. Para Shannon, não haverá descanso na parceria. A rigor, a Casa Branca encontrou fortes razões econômicas para abraçar a causa dos biocombustíveis. Segundo Dan Arvizu, diretor do Laboratório Nacional de Energia Renovável do Departamento de Energia, a tendência de o preço do petróleo continuar na casa dos US$ 70 por barril torna o etanol cada vez mais atraente.

Na vertente externa da cooperação, o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, hoje na Comissão Interamericana de Etanol, acredita que as coisas vão acontecer rapidamente. Shannon igualmente aposta que, no próximo semestre, começará a cooperação efetiva entre Brasil e EUA para a instalação de uma cadeia produtiva de etanol no Haiti, em El Salvador, em São Cristóvão e Neves e na Costa Rica. Os projetos terão o apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Segundo Shannon, pelo menos dois desses países têm acesso livre ao mercado americano e tendem a se tornar intermediários das exportações brasileiras de etanol, sem empecilhos dos EUA. Outros países da América Central e do Caribe proporcionam a mesma facilidade. Esse fator está entre as razões da visita oficial do presidente Lula ao México e à América Central, entre 6 e 9 de agosto. Shannon mostrou-se ciente dessa agenda externa de Lula.

Presente à cúpula, Roberto Rodrigues avalia que a relação Brasil-EUA mudou no campo político, mas não se refletiu ainda na área comercial. Ainda pagamos tarifa, frisou, referindo-se às barreiras americanas sobre a importação de etanol. Em março, em São Paulo, o presidente Bush enfatizou que não antecipará a extinção da lei que criou as barreiras, que expira em 2009. Shannon reconhece que esse tópico é nevrálgico na cooperação bilateral. Mas antevê para 2009 um cenário favorável à derrubada dos obstáculos.

Para ele, o sucessor de Bush terá de tomar essa decisão com base em três dados reais – a redução da oferta mundial de petróleo, a meta de diminuição de 20% no uso de combustíveis fósseis até 2017 e a necessidade ambiental de ampliação da demanda por fontes renováveis.

Inscreva-se e receba notificações de novas notícias!

você pode gostar também
Visit Us On FacebookVisit Us On YoutubeVisit Us On LinkedinVisit Us On Instagram