Usinas

Diesel é um dos grandes vilões na elevação dos custos no CTT

Tema foi discutido no seminário Expedição Custos Cana, promovido pelo Pecege

Diesel é um dos grandes vilões na elevação dos custos no CTT

Indicadores de motomecanização do setor sucroenergético da safra 2022/23 e o próximo paradigma na operação de colheita para redução de custos, foram os temas abordados em mais uma edição do Expedição Custos Cana, promovido pelo Pecege Consultoria e Projetos na manhã de quinta-feira, dia 15.

O evento que traz análises inéditas dos levantamentos de custos realizados junto com as usinas, casos de gestão de custos e perspectivas da produção e comercialização de açúcar, etanol e bioenergia, contou com a participação de João Rosa (Botão), Ruan D’Aragone e Regis Ikeda.

LEIA MAIS > Rio Dourado, da SJC Bioenergia avança em seu processo de transformação digital

Em sua apresentação Ruan D’Aragone, mostrou indicadores de motomecanização com resultados da safra 2021/22 e do primeiro trimestre da safra 2022/23. A amostragem da safra 2021/22 abrangeu 25 grupos, que correspondem a 47 unidades agroindustriais, avaliando cerca de 1.200 colhedoras.

Já a amostragem do primeiro trimestre da safra 2022/23 atingiu 29 grupos que correspondem a 55 unidades agroindustriais. Além das colhedoras (cerca de 1.000), também entraram na avaliação tratores (aproximadamente 1.200) e cerca de 1.000 cavalos mecânicos.

LEIA MAIS > ANP participa de missão técnica nos EUA para certificação de etanol do país

Ruan D’Aragone

D’Aragone destacou a importância da relação entre custos e produtividade. “Quanto maior a produtividade, os custos acabam sendo diluídos”. Ele observou que em 2021 os indicadores apontaram para uma queda na produtividade e consequentemente uma elevação nos custos.

Ele também falou do peso dos combustíveis nos custos do CTT. “Então pessoal não dá para falar de custo de CTT, principalmente de motomecanização, sem falar do combustível. Da safra de 2013/14 até meados da safra 2016/17 o preço do diesel se manteve constante. A partir de agosto de 2016 entra a paridade dos preços internacionais, e se começa a acompanhar o mercado externo. E no período pós pandemia houve uma explosão do preço do diesel, que desde então se mantém constante”, comentou.

De acordo com ele, a partir de abril de 2021 até março de 2022 no fechamento da safra 2021/22, há um aumento de 55,7% do preço do diesel nas refinarias então isso ao longo da safra teve um impacto relevante.

“Quando você olha o primeiro trimestre da safra 2022/23, entre abril até aproximadamente final de junho, identificamos um aumento de 24% do preço do diesel. Isso daí impacta diretamente nos custos, não só da colheita, não só do corte, mas dos custos do CTT como um todo, já que todos os equipamentos ali dependem de combustível e consomem bastante para estar realizando as operações”, explicou.

LEIA MAIS > IAC lançará 5 novas cultivares de cana na próxima terça-feira (20)

Ruan D’Aragone, João Rosa e Regis Ikeda

D’Aragone apresentou ainda indicadores relativos às variações dos custos no corte mecanizado, onde por exemplo se registrou uma variação de 10% no primeiro trimestre da safra 2022/23, que ficou na média de R$ 12,40 por tonelada de cana, em relação à safra 2020/21, que fechou em R$ 11,31.

“Essa alta é um reflexo do alto custo do diesel, que representa 75% no total da operação e também na elevação de 36% no preço das peças usadas na manutenção de equipamentos”, explicou.

O consultor ressaltou que os custos por tonelada apresentados para essa safra foram impactados pela baixa produtividade no canavial. “Sob essa condição, todos os componentes de custo fixo médio são pressionados, em especial aqueles relacionados ao consumo de diesel, mão de obra e manutenção”.

Já no que diz respeito ao tempo entre falhas, considerando toda a frota de colhedoras, as usinas pesquisadas apresentaram um número médio de 15,12 horas entre cada ocorrência. Na média, o reparo desse maquinário durou em torno de 1,91 hora.

O engenheiro agrônomo, Régis Ikeda, que em sua apresentação falou sobre o “Próximo paradigma na operação de colheita para redução de custos”, disse que para reduzir os custos é preciso colher mais e para isso é necessário explorar melhor o potencial das máquinas. Ele coloca em xeque o que atribui como um conceito errôneo de parâmetro.

LEIA MAIS > Usina Coruripe é reconhecida como a maior empresa de bioenergia do Nordeste

Regis Ikeda

“Toda vez que você buscar o menor consumo de litros por hora, está indo na contramão do aumento da produtividade de redução de custos. Quem conhece colhedora de cana, tem meio que guardado na cabeça aqueles 30/35 litros/h, e aí você olha essa máquina aqui ela ‘tá’ com uma média de 23.8 litros por hora. Você acha isso excelente ‘né’, mas quando olha a realidade, o número é horrível. A máquina trabalhou 35% do tempo, ela tem coisa de 25% do tempo de motor ligado sem colher cana, por isso que ela tem o consumo de combustível baixo”, explica Ikeda.

Ele também defende um incremento da velocidade média efetiva. “Não é promover a Fórmula 1 no campo.  A verdade é que a gente está tão distante do potencial produtivo das máquinas, que a gente pode ter o direito de buscar algum ‘centavinho’. Na hora que você joga na usina, no tamanho, na quantidade de horas que faz, na quantidade de cana que tem, na quantidade de maquinário, normalmente isso tudo vira milhões”, argumenta o engenheiro.

LEIA MAIS > Gestor industrial da Usina Pitangueiras faz alerta contra “economia burra”

Entre os pontos que considera importantes para a redução dos custos no corte, Ikeda destacou:  Transbordos adequados; Soluções logísticas (Tecnologias); Melhorias de sistematização, projeto de sulcação, melhoria do terreno; Conceito de colheitabilidade e qualidade mínima; Gestão de pessoas; Utilização dos recursos disponíveis (piloto, copiadores, rpm correto); Treinamentos; Métricas muito claras e alcançáveis a todos – engrandecimento e performance da equipe.

A amostra do Pecege trouxe outros indicadores, como o da disponibilidade agroindustrial, sendo que a média observada no terceiro levantamento da safra 2021/22 apontou um valor de 85,76% para o indicador, sugerindo as operações agroindustriais ficaram indisponíveis em aproximadamente 15% do período que compreende os meses de abril a dezembro de 2021. Dias de colheita de safra (dia).

LEIA MAIS > Usina Caeté celebra o início da safra 2022/2023

Com relação a este indicador, as unidades apresentaram uma média de 206 dias efetivos de colheita na safra. As condições climáticas desfavoráveis durante a safra, além de dificultar as operações no canavial, também encurtaram o período de colheita, com muitas usinas iniciando as operações tardiamente e encerrando precocemente. “Tal condição se mostrou determinante na quantidade de dias de colheita no campo durante o ciclo 2021/22”, explica o Pecege.

Quanto ao indicador raio médio (km), que diz respeito a distância do canavial em relação à planta industrial, este variou entre 16,4 km e 36 km, com a média se situando em 25,35.

Para a safra 2022/23, o Pecege prevê que devem permanecer as pressões nos custos com combustíveis por conta da elevação expressiva observada no preço do petróleo, sobretudo durante o primeiro trimestre da safra.

LEIA MAIS > Após último reajuste, gasolina recua 6,27% e chega a R$ 5,39 nos postos brasileiros

A consultoria ressalta ainda que, embora o momento atual apresente quedas expressivas no preço doméstico dos combustíveis ciclo otto, o diesel tem demonstrado resistência em acompanhar essa diminuição.

“Esse vetor, portanto, deve seguir pressionando os custos com consumo diesel e onerando as rubricas das operações mecanizadas. Por outro lado, é esperado uma recuperação, ainda que modesta, da produção no canavial, o que deve contribuir na diluição de alguns custos relacionado à produção canavieira”, conclui.