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Deslancha a abertura de capital da Dedini

Nos anos 90, a Dedini Indústrias de Base quase foi à lona, abatida pela crise das usinas de açúcar e álcool, suas principais clientes. A recente exuberância desse mesmo setor transformou o destino da companhia. Enquanto é cada vez mais diversificada a gama de novos usineiros, com investidores do mundo todo injetando bilhões para erguer novas plantas no Brasil e também no exterior, do lado do fornecimento de equipamentos para o setor a Dedini tem grande predominância no país.

Responde sozinha por mais da metade desse mercado no país, em muitos casos construindo fábricas inteiras. Por conta disso, a empresa de Piracicaba, no interior paulista, tornou-se uma espécie de referência quando o assunto é produção de etanol. O restante desse mercado ainda é pulverizado entre pequenas e médias empresas. No exterior, as principais concorrentes estão na Índia.

Para fazer frente à pujança da sua carteira de pedidos, que não pára de crescer, a Dedini resolveu deslanchar a sua abertura de capital. Embora confirme os planos, a companhia não fala em prazo, mas o Valor apurou que a sondagem a bancos de investimento para coordenar a operação já começou. Além disso, recentemente a empresa importou um ex-executivo do Banco Pactual para comandar a sua área financeira, num claro indício de que o projeto da abertura de capital é pra valer.

“Estamos estudando a abertura de capital, mas a decisão final compete aos acionistas”, diz Sérgio Leme, vice-presidente executivo da empresa. A Dedini é controlada pelo empresário Dovílio Ometto, que se casou com uma das filhas de Mario Dedini, o fundador da empresa, e hoje preside o conselho de administração. De acordo com Leme, a companhia está debruçada sobre o plano de investimentos para os próximos anos, que deve ficar pronto até o início de maio próximo. Nos últimos cinco anos, foram investidos mais de R$ 100 milhões para suportar o crescimento.

Há três anos, a Dedini faturava R$ 400 milhões. No ano passado, saltou para R$ 1 bilhão. Para 2007, a carteira de pedidos indica uma cifra de R$ 1,7 bilhão, de acordo com Leme. Um crescimento de 70% de um ano para outro. A geração operacional de caixa, medida pelo lajida (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização), deve se aproximar de R$ 200 milhões neste ano.

O Valor apurou que a companhia ainda não decidiu se irá ao mercado neste ano mesmo ou no próximo. Mas, quando for, a oferta de ações deverá ser majoritariamente primária, ou seja, um aumento de capital. Em um segmento em que o capital de giro muitas vezes vem dos clientes, que adiantam parte do pagamento para deslanchar a produção, o reforço de caixa representará mais poder de fogo para sustentar a expansão de forma independente.

Até o início de março, no mercado doméstico, a Dedini tinha 43 projetos em montagem e outros 189 em consulta. Boa parte dos pedidos são os chamados “turn-key”, ou seja, usinas completas. “Adquirimos neste ano quatro torres de destilação de álcool e estamos em consulta para a construção de uma usina de açúcar”, diz João Luiz Moussali, diretor financeiro do Grupo Farias, de Pernambuco. A nova usina do grupo deverá ser instalada no Acre.

Para exportação, mercado que começa a se abrir para a Dedini, são 104 projetos em consulta, boa parte na América Latina. Desse total, três unidades estão em execução e outras três estão em fase final de negociação. O grupo negocia a montagem de uma planta de açúcar nos EUA. As exportações hoje representam de 10% a 15% do faturamento do grupo. Mas a meta da empresa é dobrar essa participação nos próximos três anos.

O fôlego renovado da empresa nem de longe lembra o período crítico enfrentado pelo grupo, sobretudo no início dos anos 90, quando o programa Proálcool estava agonizante. A crise do setor sucroalcooleiro durou praticamente toda a década de 90, período que a usinas passaram a apostar no açúcar para superar a má fase.

No processo de reestruturação, a siderúrgica do grupo foi vendida à antiga Belgo Mineira. “Nesse período tivemos que buscar a diversificação dos nossos negócios”, diz Sérgio Leme. Ele lembra que o grupo passou a fazer suas apostas em equipamentos de aço inoxidável para as indústrias de alimentos e bebidas, além de tratamentos de efluentes e água, reduzindo para entre 5% e 10% a participação do setor sucroalcooleiro em sua receita.

Hoje, a divisão de açúcar, álcool e energia (caldeiras de biomassa) respondem por 70% da receita da empresa. Cerca de 15% vêm da área de equipamentos pesados para as indústrias de siderurgia, petróleo e gás. Outros 15% são da divisão de equipamentos e sistemas em inox.

Esse último nicho é bastante promissor, de acordo com Leme. Isso porque abastece, além da indústria de alimentos, os segmentos de biodiesel e tratamento de efluentes. “Acreditamos muito nessa área, por causa da crescente preocupação ambiental”.

Mas foi mesmo o bom momento do setor de açúcar e álcool que ajudou a virar a sorte da empresa. A grande dívida tributária acumulada pelo grupo foi inscrita no programa federal de parcelamento (Paex) e agora está sob controle.

Desde 2003, a Dedini vem passando por reestruturação organizacional e de gestão. Hoje, toda a diretoria executiva é profissionalizada, diz Leme. E no conselho de administração, quatro dos sete membros são independentes, não ligados aos controladores.

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