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Desempenho das exportações já traz reflexo do dólar fraco

Apenas as importações de bens de consumo estão sendo beneficiadas. Pouco mais de um ano depois do dólar ter iniciado sua trajetória de queda, o comércio exterior brasileiro já começa a dar sinais mais consistentes de que já sente os reflexos. Apesar de a balança comercial da última semana ter registrado recorde na média diária de embarques, esses dados são ainda considerados insuficientes (foram apenas três dias) para mostrar uma reversão dos resultados registrados até outubro, quando foram completados três meses em que o valor médio diário das exportações não sofre alteração significativa.

O setor produtivo, que espera essa queda nas exportações desde que o dólar foi abaixo dos R$ 2,80, diz que a tendência é de quedas ainda maiores nos próximos meses. O governo, por outro lado, afirma que não é bem assim e apresenta com orgulho a expansão das exportações na comparação com o ano passado, quando o crescimento já foi expressivo.

Nos últimos dez dias o dólar acumula queda de mais de 5% e está a baixo dos R$ 2,20 há quase uma semana – na sexta-feira fechou a R$ 2,164. É o período mais longo de quedas sucessivas desde o final de março, quando a moeda norte-americana caiu durante 14 sessões consecutivas.

De acordo com análise do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), que utiliza dados dessazonalizados, mesmo com a queda da exportação estão preservados os saldos. No entanto, avalia o Instituto, é importante apontar as tendências que os dados possam indicar.

De acordo com relatório do Iedi, as exportações de manufaturados, que mais refletem o câmbio, estão estáveis a mais tempo – desde julho – que a dos demais produtos. As vendas externas de produtos básicos apresentam tendência de queda há três meses. No entanto, o Iedi pondera ser ainda dedo para afirmarções categóricas.

Para o presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (Abracex), Roberto Segatto, a queda das vendas externas prejudica a produção, o que reduz a competitividade das empresas. A economia de escala, diz ele, é o grande diferencial competitivo de países que exportam muito, como a China.

O executivo, porém, vê um ponto positivo na queda do dólar. “O benefício seria o aumento das compras externas, principalmente de máquinas e equipamentos, que mostrariam aumento do investimento. Só que o câmbio favorece e o imposto inviabiliza.”

Do lado das importações, segundo o Iedi, o item que explica a redução das compras externas é bens intermediários, cujo movimento de queda é perceptível desde junho de 2005. Sobre aquele mês, as importações de bens intermediários em termos médios por dia útil foi 5,2% menor no mês de outubro.

Para bens de capital, o dado que chama a atenção é a queda no mês passado, que chegou a 6% em relação a setembro.

Já para bens de consumo, o resultado é o oposto: o crescimento das importações já alcança 21,9% e 5,6%, respectivamente para bens de consumo duráveis e bens de consumo não-duráveis, tomando-se a comparação de outubro com junho.

O Iedi alerta que importações em queda de insumos e bens de capital podem expressar um esfriamento da economia. Já a forte aceleração de importações de bens de consumo reflete o represamento anterior desta categoria de compras e o seu significativo barateamento em função da forte valorização do real.

Já o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, avalia que ainda é difícil mensurar o impacto do câmbio nas exportações, uma vez que em outubro houve problemas de embarque, como as restrições impostas ao Brasil por conta dos focos de febre aftosa. Para ele, a queda da rentabilidade trazida pela desvalorização cambial atinge especialmente as médias e pequenas empresas.

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