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Desembolso do BNDES a usinas despenca

Desembolso do BNDES a usinas despenca

No ano que passou, apenas 1% dos R$ 2 bilhões que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ofertou para estocagem de etanol chegou às usinas. O crédito entrou no mercado tarde demais e a um custo mais alto, inibindo a demanda. Também foi fraca a procura por crédito para renovar canaviais e realizar expansões. O resultado é que os desembolsos do banco de fomento para esse setor caíram em 2015 aos menores níveis em quase dez anos.

A retração surpreendeu até as previsões do próprio BNDES que, em setembro, esperava desembolsar no ano entre R$ 3,5 bilhões e R$ 4 bilhões. Mas o que se confirmou foi um montante de R$ 2,744 bilhões, queda de 59,4% em relação a 2014 – considerando as três categorias: agrícola, industrial e cogeração. O crédito ao setor em 2015 só não foi menor que o de 2006, antes do ‘boom’ de investimentos em etanol, quando foram injetados R$ 1,9 bilhão no setor.

O gerente do Departamento de Biocombustíveis do BNDES, Artur Milanez, diz que o ideal era que a linha de estocagem de etanol tivesse sido lançada em maio de 2015, no máximo, até julho. Mas a demora na definição das taxas de juros e condições levou o lançamento para setembro, encurtando muito a janela do financiamento, cuja amortização já começa em fevereiro deste ano.

Essa linha é uma das mais esperadas todos os anos pelas usinas, uma vez que permite a elas “carregar” etanol para vendê-lo ao longo de 12 meses, desconcentrando a oferta no período de pico de safra, quando os preços costumam cair. No fim das contas, o BNDES liberou apenas R$ 20 milhões para estocagem do biocombustível em 2015, só 1% do total de R$ 2 bilhões ofertados e 98% abaixo dos R$ 1,981 bilhão de 2014.

Os desembolsos para a categoria projetos “industriais” também foram afetados. Alcançaram em 2015 R$ 1,635 bilhão, 65% menos que os R$ 4,781 bilhões de 2014. O baixo interesse das usinas em investir em expansão industrial e na construção de novas unidades explica a queda na demanda por esses recursos.

O custo mais alto dos financiamentos do banco também afetou o interesse por crédito para plantio e renovação de canaviais (Prorenova). O gerente do Departamento de Biocombustíveis não detalhou o montante desembolsado para essa linha, mas reafirmou que impactou a categoria projetos “agrícolas”, na qual o Prorenova se enquadra. Em 2015, essa categoria recebeu R$ 893 milhões do BNDES, um recuo de 52% frente aos R$ 1,871 bilhão de 2014.

Somente os projetos de cogeração cresceram. Os desembolsos para esse tipo de investimento atingiram R$ 216 milhões em 2015, ante R$ 116 milhões no ano anterior. Estão, no entanto, bem aquém do auge de desembolsos nessa área, ocorrido em 2012, quando somaram R$ 700 milhões.

O cenário ainda é incerto para a retomada de crescimento de capacidade instalada nesse segmento, na visão de Milanez. No entanto, ele acredita que o cenário de preços mais atrativos de açúcar e etanol no ano passado e a continuidade dessa conjuntura em 2016 tornam a retomada menos distante do que já foi no passado.

Mas essa retomada ainda não está no horizonte de 2016. Para este ano, o BNDES estima que os desembolsos às usinas serão baixos, no patamar entre R$ 2,5 bilhões e R$ 3 bilhões. “Se o Prorenova e o programa de estocagem de etanol forem renovados, esse montante pode crescer”, avalia Milanez.

Fonte: (Valor)

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