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Descompasso entre regiões marca o primeiro trimestre

Uma discrepância de resultados marcou o ritmo de crescimento nas diferentes regiões do país neste começo de ano. A expansão de 2,3% na produção industrial do país no acumulado do ano ficou concentrada no Sudeste e a criação de empregos formais, no Sul, enquanto os Estados da região Nordeste apresentaram dados muito ruins. Para os economistas, a diversificação ajudou a economia no Sudeste e, por outro lado, a dependência do setor sucroalcooleiro explica o mau resultado dos Estados nordestinos.

A produção industrial nos Estados da Bahia, Ceará e Pernambuco caiu 6,2% no primeiro trimestre na comparação com o mesmo período de 2010, ao passo que as indústrias de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo viram sua produção aumentar 4,1% na mesma base de comparação, segundo cálculos da Tendências Consultoria que agregam os números dessazonalizados por Estado apresentados pela Pesquisa Industrial Mensal do Instituto brasileiro de Geografia e Estatística (PIM-IGBE).

O saldo de empregos formais criados no Nordeste, fornecido pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho), foi o único negativo do país (menos 0,17%), na série que compara março deste ano com dezembro de 2010. O Estado mais afetado foi Pernambuco, que registrou queda de 0,71% nas vagas com registro em carteira do período, concentradas na indústria da transformação (-7,71%) e na agropecuária (-7,73%).

Segundo Alexandre Rands, economista da consultoria Datamétrica, a antecipação da safra de cana – que ocorreu no último trimestre de 2010 – tem efeito negativo sobre o emprego e a indústria da região (dependentes do setor sucroalcooleiro) no trimestre seguinte. “Esse emprego se distribui entre setembro e abril. Como a safra aconteceu no fim do ano passado, isso afetou bastante os dados do início do ano”, afirma.

Adriano Pitoli, economista da Tendências, destaca como outro motivo da queda na produção industrial nordestina o blecaute que deixou oito Estados da região no escuro em fevereiro e durou cerca de cinco horas. O incidente paralisou centrais petroquímicas, afetando a indústria de refino e petróleo e produção de álcool, que responde por um terço da produção regional.

Pitoli também ressalta que a base de comparação muito alta do primeiro trimestre de 2010, quando a indústria nordestina deu um salto de 11,7% sobre os três primeiros meses de 2009, influenciou negativamente os resultados do início de 2011: “Parece que estamos comparando o piso da queda com um período que foi o auge dos indicadores da indústria em particular”.

“O Nordeste tem setores com peso muito grande, enquanto o Sudeste tem uma diversidade maior no setor industrial e fica menos suscetível às oscilações de um ou outro segmento”, explica Rogério César de Souza, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

No Ceará, as indústrias de calçados e artigos de couro e têxtil, também representativas na região, diminuíram sua produção em 23,9% e 11,6%, respectivamente, entre o primeiro trimestre de 2010 e o de 2011, devido à forte concorrência dos produtos importados, avalia Souza. A indústria têxtil teve peso de 16,4% na queda total da produção nordestina, atrás do setor de produtos químicos, com peso de 25,1%.

A retração da indústria nordestina é pontual para alguns economistas. Tânia Bacelar, professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o arrefecimento trimestral não preocupa. “Esses índices negativos do resultado acumulado são só sazonalidade, devido à entressafra da cana de açúcar. Se você olhar mês a mês, o Nordeste cresceu 6,2%; a Bahia, 7%; o Ceará, 2%, e só Pernambuco continua negativo (-2,2%). Quando olho pra frente, acho q ue a tendência é de recuperação”, diz.

Pitoli também acredita em uma aceleração tímida da indústria nordestina ao longo do ano, que acompanhará o desenvolvimento da indústria nacional. “A perspectiva daqui para frente é melhorar gradualmente, tanto para o Brasil quanto para o Nordeste”, prevê, acrescentando, contudo, que a avaliação da consultoria é que não será uma grande melhora em função das dificuldades que a indústria enfrenta com o câmbio, e pela necessidade de controlar a inflação.

Segundo Souza, o crescimento continuará a ter maior ímpeto no Sudeste porque a região é favorecida pela diversificação industrial de São Paulo e pela indústria extrativa do Espírito Santo, que vive bom momento com o câmbio valorizado e a alta das commodities.

Mesmo com uma redução nos empregos formais, o varejo teve um bom desempenho no Nordeste no começo do ano. Rands credita esse dado ao aumento da renda, o que deu confiança ao consumidor nordestino. Uma ajuda extra veio do s benefícios do Bolsa Família, que tiveram reajuste médio de 19%, já em vigor a partir de abril.

A expectativa para o comércio varejista é de crescimento menos acelerado para o Nordeste, sustenta Luiz Goes, diretor da consultoria GS&MD-Gouvêa de Souza. “Essa região vai seguir um pouco o que vai acontecer no Brasil, com certa desaceleração até fim do ano, principalmente porque o desempenho do ano passado foi muito forte”.

As medidas macroprudenciais usadas pelo Banco Central para controlar a inflação, diz Goes, tiveram impacto forte sobre o varejo no início do ano, mas essa tendência não deve continuar ao longo de 2011. “A inflação de alimentos também deve segurar um pouco o crescimento das vendas de supermercado, mas isso vai estar diretamente ligado a posição dos juros, que vão subir daqui pra frente”, avalia.

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