Longe de ser novidade, a produção de biogás e biometano no setor sucroenergético, antes restrita a projetos experimentais como o da paranaense Coopcana, iniciado em 2012, começa a ganhar um novo rumo. Impulsionada pela pauta da descarbonização, que ganhou força com a agenda ambiental, que estabelece metas a serem cumpridas até 2030, por governos, empresas e sociedade como um todo.
Usinas pioneiras na produção em escala como a Raízen, que projeta para 2030, 39 módulos de produção instalados (atualmente conta com 2), Cocal e Adecoagro, veem grandes possibilidades de expansão nesse mercado, que recentemente ganhou um reforço do Governo Federal, através do ‘Programa Metano Zero’, que prevê financiamento público para investimentos em novas plantas industriais.
‘Estratégias de diversificação com Biogás & Biometano’ foi o tema do webinar promovido pelo JornalCana no dia 29 de junho, com representantes destas três usinas, que apresentaram ações desenvolvidas pelas empresas e desafios a serem superados pelo setor sucroenergético, que apesar de ter o maior potencial para geração de biogás, produz bem menos que o setor de resíduo sólido urbano/saneamento, que tem um potencial de geração bem menor.
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Sob a coordenação do jornalista e diretor da Procana, Josias Messias, o webinar patrocinado pelas empresas AxiAgro, S-PAA Soteica e Autojet from Spraying Systems, contou com a participação de André Gustavo Alves, diretor comercial e de novos produtos da Cocal, Débora Cardoso Vieira, gerente de Operações de Biogás da Raízen e Luis Felipe Colturato, especialista em Resíduos e Biogás, diretor da Methanum, parceira da Adecoagro na implantação de soluções para Biogás e Biometano.
André Gustavo (Cocal) apresentou um fluxograma com as etapas de produção nas unidades da usina, onde são gerados 9 milhões de metros cúbicos de biometano por ano.
“Essa produção é escoada através de duas rotas: a primeira é a rota do projeto cidade sustentável. Existe um gasoduto que sai da unidade de Narandiba, passa pela cidade de Narandiba, segue para Pirapozinho e vai até Presidente Prudente, a primeira cidade com sistema de distribuição exclusivo no mundo. São 60 km de rede aproximadamente que tem como objetivo abastecer essa região, em especial as indústrias. Os clientes que não estão nessa rota até Presidente Prudente, contam com uma segunda opção com carretas abastecidas em uma base de compressão”, explicou Alves, destacando também a utilização na própria frota da usina.
“É importante ressaltar a utilização desse biometano em nossa frota. Já temos seis equipamentos que estão rodando com biometano. Um dos objetivos do projeto é termos um etanol cada vez mais limpo, reduzindo cada vez mais a emissão de gases de efeito estufa na nossa cadeia produtiva”, disse.
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O diretor também elencou alguns pontos importantes do projeto Biogás: geração de 5MW/h de energia elétrica, volume suficiente para atender cerca de 700 estabelecimentos comerciais; a substituição do diesel e do gás natural pelo biometano reduz em 95% a emissão de CO2; produção de 48 toneladas diárias de CO2 Verde para a produção sustentável de bebidas gaseificadas e outros produtos, além da produção de biofertilizantes, reduzindo a necessidade da compra de fertilizantes minerais, reduzindo em 75% a emissão de CO2. Desde a implantação do projeto a Cocal estima uma redução de 71 mil toneladas na emissão de CO2, o que corresponde ao plantio de aproximadamente 507 mil árvores.
Entre os benefícios do projeto da Cocal, Alves destacou a tecnologia que permite o fornecimento do biometano ao longo dos 12 meses do ano; uma única molécula que reduz a instabilidade do processo e contribui para trazer mais eficiência; o reajuste do preço do biometano tem como base o IPCA, o que permite ao cliente uma previsibilidade do preço, e por fim, a negociação direta com a Cocal, que atuará como comercializadora do biometano.
Já a Raízen, em outubro de 2020 inaugurou o Parque de Bioenergia Bonfim, na cidade de Guariba – SP, que figura entre as maiores plantas de biogás do mundo, com uma capacidade instalada de 21MW. Em 2023 a empresa deve entregar a planta adjacente ao Parque de Bioenergia Costa Pinto, em Piracicaba, com conexão à rede da Comgás.
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Segundo a gerente de Operações de Biogás da Raízen, Débora Cardoso Vieira, até 2030/31 a empresa tem como meta operar 39 módulos de biogás para atender a crescente demanda do mercado por soluções que contribuam para a descarbonização de suas cadeias produtivas. Entre essas demandas, estão os caminhões (movidos a gás ou convertidos) e a exploração do posicionamento geográfico estratégico, para conexão com os gasodutos de distribuidoras de gás natural para a entrega no cliente destino.
Débora destacou que através da joint-venture com o grupo Gera, a Raízen vem expandindo e diversificando as operações de geração distribuída, ampliando a oferta de energia limpa, renovável e sustentável.
Recentemente, a Cocal e a Raízen anunciaram que vão operar em parceria a planta de energia elétrica a partir do biogás. A unidade representa modelo inédito de geração distribuída com capacidade para gerar até 35 mil MWh/ano.
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O especialista em Resíduos e Biogás, Luis Felipe Colturato, diretor da Methanum, parceira da Adecoagro, destacou que em 2021 45% da nossa energia, teve como origem fontes renováveis, sendo que só a biomassa da cana contribuiu com 16,4% do total de energia consumida, ficando atrás apenas do petróleo e derivados. “Por isso, o biogás vai trazer ainda mais esse viés estratégico, tornando o setor o mais importante a nível mundial na geração de energia renovável”, disse. O Brasil tem um dos maiores potenciais na geração de biogás em nível mundial, muito em função do setor sucroenergético, com um potencial de geração de mais de 40 bilhões de metros cúbicos por ano.
Segundo Colturato, entre 2010 e 2020 houve um crescimento expressivo do biogás no Brasil, da ordem de 135% ao ano, chegando a 2,2, bilhões, ou seja, nem 3% do nosso potencial que é de 85 bilhões. Então há ainda um potencial muito forte a explorar.
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De acordo com ele, a planta de biometano da Adecoagro, fabricada na Argentina, já se encontra a caminho do Brasil, com previsão de início de operação no segundo semestre deste ano. O plano de expansão da usina prevê a geração de 150 milhões de metros cúbicos por ano de biogás e 90 milhões de metros cúbicos de biometano.
Dentre as vantagens do biogás, Colturato destaca a previsibilidade para a produção de biocombustível para autoconsumo, reduzindo o risco do setor em relação a fatores externos. Ele também avalia que a produção de fertilizantes renováveis deve ser melhor explorada pelo setor, seja pelos nutrientes presentes nos substratos ou pelo potencial de produção de amônia verde através do biometano.
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Potencial de expansão
“O biogás é um biocombustível renovável, cuja expansão na produção ocorrerá de maneira descentralizada com uma oferta no interior do país que permitirá garantir o fornecimento de combustível em regiões ainda não integradas por meio de rede de gasodutos, auxiliando na criação da demanda e atração de investimentos regionais, como a instalação de indústrias. Essa expansão da produção de biogás no Brasil poderá ser estruturada para uma oferta de 365 dias/ano, um dos requisitos desejáveis pelos consumidores e que trará segurança à oferta interna de combustíveis e ao sistema elétrico brasileiro”, afirma Zilmar Souza, gerente de Bioeletricidade na União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA).
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Segundo ele, os projetos de energia elétrica a partir do biogás se viabilizam nas mais diversas escalas, da micro/minigeração à oferta em leilões regulados do governo federal, aumentando a competição e a contestabilidade no mercado de energia elétrica e de gás. Além disto, a criação de empregos na atividade de geração de energia elétrica com biomassa sucroenergética, incluindo biogás, é estimada em 1,47 emprego/GWh, mais que o dobro em comparação ao gás natural (0,65 emprego/GWh), ao mesmo tempo que reduz a pegada de carbono na matriz de energia brasileira.
O especialista ressalta que o biogás e o biometano representam opções com vantagens ambientais, econômicas e sociais para a geração de energia elétrica, na substituição do gás para uso industrial e comercial e do óleo diesel em frota de veículos pesados e maquinários agrícolas, além do potencial de produção de biofertilizantes, pontos importantes para a indústria sucroenergética.
“A estrutura de custos do biogás é previsível, com preços em reais, sem exposição aos mercados internacionais de commodities ou ao câmbio, essencial para a modicidade nos preços junto ao consumidor de energia”, enfatiza.
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Souza ressalta ainda que o setor sucroenergético responde pela maior parte do potencial de geração de biogás e biometano no país. “É o famoso pré-sal caipira. Por outro lado, demonstra que há um desafio: diminuir o hiato produtivo entre o potencial e o que estamos efetivamente produzindo de biogás”, avisa.
Nessa linha, o gerente afirma que é preciso tirar do papel diretrizes de políticas setoriais de longo prazo, numa agenda do biogás para o país, objetivando a formação de um mercado de biogás e de biometano dinâmico, competitivo e escalável, com a integração regulatória e institucional desse mercado com o setor elétrico, com o mercado de gás, com a matriz de transporte como um todo e com o Mercado Brasileiro de Redução de Emissões (MBRE) que deverá ser estruturado nos próximos anos.
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