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Desastre nas contas externas

tn_627_600_Exportacoes100919O rombo nas contas externas aumentou de novo em setembro, quando o déficit em conta corrente acumulado em 12 meses chegou a US$ 83,56 bilhões, valor correspondente a 3,7% do Produto Interno Bruto (PIB). Nada indica melhora até o fim do ano, porque as exportações continuam fracas e o mau desempenho do comércio exterior tem sido, até agora, a causa principal da deterioração do balanço de pagamentos. O déficit da conta corrente em setembro, de US$ 7,91 bilhões, foi um recorde para o mês e ficou bem acima do previsto no mês passado pelos técnicos do Banco Central (BC), de US$ 6,7 bilhões.

Na semana passada, o mercado financeiro elevou de US$ 80 bilhões para US$ 81 bilhões o buraco estimado para as transações correntes neste ano. O BC manteve a estimativa de US$ 80 bilhões no relatório sobre o setor externo divulgado nessa sexta-feira. Em 2013, o resultado negativo chegou a US$ 81,11 bilhões, ou 3,62% do PIB.

As transações correntes – ou, de modo mais simples, a conta corrente – englobam as trocas de bens e serviços do País com o exterior. Seu primeiro item é a balança comercial, formada por exportações e importações de produtos físicos (mercadorias). Até setembro, o resultado dessas operações, considerado no relatório mensal do BC, foi um déficit de US$ 696 milhões – reflexo, principalmente, da baixa competitividade industrial. O saldo em vermelho acumulado no ano chegou a US$ 1,28 bilhão em 19 de outubro.

O segundo item é formado pela balança de serviços (como viagens, transportes e aluguel de equipamentos) e de rendas (como juros, lucros e dividendos). Essa conta é tradicionalmente deficitária. Neste ano, até setembro, o resultado é um buraco de US$ 63,13 bilhões.

O terceiro componente é formado pelas transferências unilaterais, como remessas de trabalhadores no exterior e dinheiro enviado a estudantes. O resultado é normalmente positivo e o saldo até novembro ficou em US$ 2,5 bilhões. Entre 2003 e 2007, a soma do superávit comercial com o pequeno saldo das transferências cobriu com folga o déficit de serviços e rendas. Isso havia ocorrido também desde a segunda metade dos anos 80 até 1994.

Um déficit em conta corrente pode ser saudável, quando é moderado e resulta de uma expansão dos investimentos. Nesse caso, a captação de recurso externo para financiar o déficit complementa a poupança interna, facilitando as aplicações de capital em máquinas, equipamentos, construções industriais e obras de infraestrutura. Quando esse processo é bem conduzido, o resultado é uma aceleração do crescimento econômico e da renda per capita. Mas o déficit em conta corrente, nos últimos anos, tem resultado basicamente da expansão do consumo privado e dos custos de operação do governo.

O investimento tem oscilado na vizinhança de 18% do Produto Interno Bruto e chegou a cair nos últimos dois anos. A produção de máquinas e equipamentos tem diminuído, assim como a importação, e isso comprova a continuada retração do investimento empresarial.

Como o investimento público avança muito devagar, a formação de capital físico no Brasil continua muito inferior à necessária para ampliar o potencial de crescimento. O déficit em conta corrente, portanto, reflete o excesso de consumo e de gastança pública improdutiva e sua expansão é um indício de vulnerabilidade crescente da economia nacional.

Também tem piorado o financiamento desse déficit. Entre 2008 e 2012, o investimento estrangeiro direto, o capital estrangeiro mais produtivo e menos sujeito a súbitas mudanças de direção, foi mais que suficiente para cobrir o buraco da conta corrente. Em 2013, esse tipo de capital totalizou apenas US$ 64,04 bilhões, enquanto o déficit chegou a US$ 81,11 bilhões. Nos 12 meses até setembro, o investimento direto ficou em US$ 66,46 bilhões. Faltou muito para cobrir os US$ 83,56 bilhões de saldo negativo. Pelas estimativas do BC, esse tipo de aplicação deve totalizar US$ 63 bilhões entre janeiro e dezembro. O resto do déficit será coberto, como tem sido há quase dois anos, por dinheiro de outro tipo, mais instável e muito mais especulativo.

(Fonte: O Estado de S.Paulo)

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