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Desafio da indústria automotiva brasileira: competitividade

No dia 20, haverá troca na presidência da Anfavea, uma das associações mais poderosas do País.

Sai Rogélio Golfarb, da Ford, e entra Jackson Schneider, da DaimlerChrysler do Brasil, seguindo o rodízio tradicional da entidade. Na quinta-feira passada, 15 dias antes da sua saída, Golfarb pôde dar uma excelente notícia para o setor. A Anfavea reviu suas estimativas de crescimento de 2007 de 7,7% para 14,5%, em comparação a 2006. Os fortes números de venda e produção no primeiro trimestre justificaram as revisões, diz o executivo. Nesta entrevista, ele fala sobre o passado e o futuro do setor. Aqui, trechos da sua entrevista:

O fato de o novo ministro do Desenvolvimento ter sido do setor, ajuda ou atrapalha?A escolha de Miguel Jorge para ocupar o ministério trouxe expectativas não só para o setor automotivo, mas para toda a indústria. Acredito que sua atuação poderá contribuir para o desenvolvimento da indústria brasileira. Por sua vivência nos meios empresariais, por seu perfil e experiência multissetorial, certamente vai perseguir políticas que criem melhores condições estruturais.

O senhor está deixando a presidência da Anfavea. Qual seu balanço? A Anfavea perseguiu a sustentabilidade do setor automotivo, tanto por meio da expansão das exportações quanto da retomada do mercado interno. Objetivos foram redefinidos e, hoje, intensificada a atuação em demandas estruturais, sobretudo buscando competitividade e atração de investimentos. A grande preocupação da nossa indústria após meio século de atividades no Brasil é não perder a estatura mundial. Somos a 9ª maior.

Qual o grande desafio do setor automotivo para os próximos anos?A indústria automobilística, de 2002 até 2006, cresceu 10%. Não é muito. Neste ano, vamos crescer mais, mas no mercado interno. Agora, o grande desafio, não só do setor automotivo, mas de toda a economia brasileira, é o da competitividade, a melhor proteção para os setores produtivos nacionais.

E quais seriam as principais condições para assegurar a competitividade?Reformas estruturais.

No setor automotivo, China, Índia e Leste Europeu, entre outros, estão se estruturando tanto para suprir seus mercados internos quanto para se tornarem fortes players mundiais. Há uma avalanche de investimentos nesses países, por oferecerem custos menores de investimentos e produção, mercados internos florescentes e boas perspectivas de resultados e lucratividade. É isso que move a decisão das empresas. O Brasil deve perseguir a sustentabilidade do setor automotivo, como forma de atrair novos investimentos. Essa é a palavra de ordem e continuará sendo um trabalho político na Anfavea.

Como o senhor vê o futuro da indústria automotiva brasileira?Favorável. Entretanto, demandas e oportunidades – como a dos biocombustíveis – devem ser tocadas com urgência. O cenário automotivo mundial está passando por uma profunda transformação, com o redirecionamento de investimentos para países emergentes. Isso está mudando a geografia automotiva mundial. Por outro lado, inicia-se, também, uma nova revolução tecnológica, que prioriza a redução do consumo de combustíveis fósseis e a maior utilização dos alternativos, como etanol, biodiesel e híbridos. Avança, também, o conceito de veículos compactos. Nesses aspectos, o Brasil leva vantagem. Mas, para aproveitarmos essa dianteira, é preciso uma economia realmente competitiva.

O etanol e o biodiesel estão na ordem do dia no mundo. Como o senhor vê o futuro do carro flex?A Anfavea defende um modelo gestor específico para a questão dos biocombustíveis brasileiros. É preciso investir em pesquisas para aumentar a produtividade e também no álcool de celulose.

A exportação de carros flex é uma boa perspectiva, mas só será possível quando os países adotarem o álcool em sua matriz energética e organizarem redes de distribuição e abastecimento adequadas.

Há algum risco de daqui a alguns anos vivermos uma invasão chinesa, seja de marcas asiáticas, seja de carros GM, Ford, fabricados na China?A

estratégia desses novos emergentes é clara : crescer respaldados por seus promissores mercados internos e depois partir para o mercado internacional. Os países asiáticos são os mais agressivos nessa estratégia. A China já é o terceiro maior produtor automotivo mundial, com mais de 5,7 milhões de unidades em 2006, devendo chegar aos 7 milhões em 2007. Isso quer dizer que o tsunami automotivo chinês já existe. Ainda não se vê no horizonte uma invasão automotiva chinesa no mercado brasileiro. Mas já é perceptível o movimento de marcas chinesas em mercados internacionais, compradores de veículos brasileiros.

O setor tem reclamado muito, mas vem batendo recordes de venda, de produção e até de exportação. Como se explica isso?O mercado interno vem sim em efetiva retomada, com crescimento expressivo, e vai ultrapassar 2 milhões de unidades vendidas este ano.

As exportações, embora crescendo em valor, apresentam queda perigosa. Em unidades, caímos 6% em 2006 e 13% no primeiro bimestre de 2007. Isto indica deficiência competitiva.

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