Depois de 30 anos, Petrobrás volta a investir em álcool
A velha rixa entre o setor sucroalcooleiro e a Petrobrás começa a ser superada. Pela primeira vez, depois de 30 anos, a empresa anuncia investimentos e parcerias no setor do álcool.
As divergências sobre controle de estoque e a queda de braço pelos preços, ficou para trás, pelo menos por enquanto. Por meio da subsidiária Transpetro, a Petrobrás vai investir US$ 220 milhões na construção de tanques e dutos para levar o álcool produzido no Estado de São Paulo para Duque de Caxias (RJ), de onde será exportado.
A estatal está de olho nos lucros que o aumento da exportação de álcool pode gerar numa época em que o barril de petróleo ultrapassa a barreira dos US$ 50. No ano passado, as exportações de álcool atingiram 750 milhões de litros, neste ano devem chegar a 2,2 bilhões e, em 2010, podem bater na casa dos 6 ou 7 bilhões de litros.
A Petrobrás ainda leva em consideração o fato de que as exigências ambientais, estipuladas pelo Protocolo de Kyoto, podem fazer do setor sucroalcooleiro um negócio altamente rentável, pois muitos países ricos têm no álcool a alternativa segura para reduzir a emissão de gases no planeta e atender ao acordo mundial.
De acordo com o gerente de negócios da Transpetro, Marcelino Guedes, engenheiros finalizam até fevereiro o projeto para construção de três extensos ramais ligando o interior de São Paulo a Replan (Refinaria de Paulínia). Dois desses ramais terão participação de empresas do setor e de produtores de álcool. Uma obra para escoar 4 bilhões de litros/ano e movimentar US$ 3,3 bilhões/ano.
Para definir a participação da Petrobrás e dos produtores no investimento e dar início às obras, líderes do setor e representantes da estatal têm se reunido com representantes dos governos estaduais e federal.
O primeiro duto previsto é entre Sertãozinho/Ribeirão Preto e Paulínia, numa distância de 190 quilômetros e investimento de US$ 80 milhões, bancados somente pela Petrobrás.
Outro duto projetado, de 200 quilômetros, é entre Conchas e Paulínia, ao custo de US$ 90 milhões; e um terceiro, de 60 quilômetros, entre Taubaté e Paulínia, que consumirá US$ 60 milhões. Os dois últimos devem receber participação de empresas do setor e de produtores de álcool, que poderão abater o investimento feito em desconto de transporte.
Em princípio, segundo Guedes, estuda-se que os produtores podem bancar 49% do investimento, ficando a Petrobrás com os 51% restantes.
O projeto prevê o uso da hidrovia Tietê-Paraná, que servirá para a Petrobrás transportar derivados de petróleo para o Oeste Paulista, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Na volta, as barcaças transportam o álcool até Conchas, que de lá seguem até a Replan. Em Paulínia, a Petrobrás dispõe de um duto que vai até Duque de Caxias (RJ).
Construído há 31 anos, o duto foi o último e único investimento da empresa no setor do álcool. “Os tempos estão mudando. Temos de evoluir. Não podemos mais ficar com disputas internas”, conclui Guedes.