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Democratas e republicanos criticam política de Bush para América Latina

A política dos EUA para a América Latina foi atacada ontem no Congresso americano por representantes dos dois partidos que dominam a política do país, numa demonstração evidente do ceticismo com que têm sido recebidos em Washington os esforços para recuperar a influência na região.

Na quinta da próxima semana, o presidente George Bush embarca para um giro de oito dias pela América Latina. Sua primeira escala será o Brasil, onde se reunirá por algumas horas com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na sexta. Em seguida, Bush visitará Uruguai, Colômbia, Guatemala e México.

Mas o orçamento dos programas de assistência à América Latina tem sofrido cortes todos os anos e isso alimenta dúvidas no Congresso sobre a disposição de Bush para reavivar o diálogo com os países da região. O orçamento deste ano destina US$ 1,47 bilhão à América Latina, US$ 70 milhões a menos do que no ano passado.

Numa carta enviada ontem a Bush, 17 deputados da Comissão de Relações Internacionais da Câmara elogiaram sua iniciativa de viajar para a região e a anunciada parceria com o Brasil na área de biocombustíveis, mas disseram que os cortes no orçamento “enviam a mensagem errada a nossos amigos no hemisfério”.

Numa audiência ontem na comissão, o secretário-assistente de Estado para o Hemisfério Ocidental, Thomas Shannon, principal diplomata americano para a região, disse que o governo procurou concentrar os recursos disponíveis nos países que mais precisam deles. Colômbia, Haiti, Bolívia, Equador e Peru receberão 72% do dinheiro neste ano.

Numa entrevista durante um intervalo da reunião, Shannon mencionou a parceria entre os EUA e o Brasil para a promoção dos biocombustíveis como um instrumento para “enfrentar os grandes desafios sociais e econômicos que existem na região”. Bush e Lula devem assinar na semana que vem um memorando sobre a cooperação nessa área.

Mesmo alguns dos países que Shannon apontou como prioritários foram atingidos por cortes nos programas de ajuda. Na opinião dos congressistas, isso tem contribuído para estimular sentimentos antiamericanos nesses lugares e aumentar a influência de lideranças radicais como o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que a Casa Branca vê como uma ameaça à estabilidade política da região.

“É preciso fazer da América Latina uma prioridade maior do que a refletida no orçamento”, afirmou o deputado Eliot Engel, do Partido Democrata, que faz oposição ao governo e tem a maioria no Congresso. “Não temos prestado atenção suficiente à região”, concordou Dan Burton, do Partido Republicano.

Burton e outro congressista republicano, Connie Mack, sugeriram que o governo deveria ter acompanhado mais de perto as eleições do ano passado na região, inclusive financiando grupos políticos afinados com os interesses americanos para se contrapor à influência exercida por Chávez em lugares como a Bolívia e a Nicarágua. Shannon não se manifestou.

Mas a reunião de ontem serviu para mostrar que os congressistas também dedicam pouca atenção à região. O Brasil só foi mencionado de passagem uma vez durante a audiência, que durou mais de duas horas. E ninguém falou de comércio, um instrumento mais eficaz para promover o desenvolvimento da região do que a ajuda dos EUA.

Acordos comerciais assinados pelos EUA no ano passado com o Peru e a Colômbia não saíram do papel até hoje porque foram bloqueados no Congresso pelos democratas. Os acordos abrem o mercado americano para as exportações dos dois países, mas os democratas temem que isso prejudique as indústrias localizadas em suas bases eleitorais.

Shannon citou esses acordos como uma peça importante da estratégia da Casa Branca na região, mas ninguém se interessou em discutir as razões pelas quais eles ainda não foram aprovados. Os democratas e o governo negociam no momento mudanças nos acordos, com a adoção de mecanismos que obriguem esses países a adotar leis trabalhistas e ambientais mais rigorosas.

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