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Demanda frouxa tira suporte das commodities

Com a demanda internacional em geral ainda frouxa, reflexo de problemas e incertezas que travam importantes países desenvolvidos e limitam a recuperação da economia global, a maior parte das principais commodities agrícolas comercializadas pelo Brasil no exterior encerrou fevereiro com preços médios mais baixos que os de janeiro, conforme cálculos do Valor Data baseados nos contratos futuros de segunda posição de entrega negociados nas bolsas de Nova York (açúcar, café, cacau, suco de laranja e algodão) e Chicago (soja, milho e trigo).

Apesar da aceleração do crescimento de países emergentes como a China no mercado, desde setembro de 2008, quando a quebra do banco americano Lehman Brothers realçou os contornos de uma crise financeira mundial até então subestimada, esses produtos passaram a depender mais de choques de oferta do que de consumo para ganhar valor, e esse axioma mais uma vez mostrou sua força no mês passado. Tanto que, dos três produtos que registraram altas em fevereiro, dois (soja e suco) encontraram suporte em adversidades climáticas que afetam a produção em polos importantes.

Além das valorizações da soja e do suco de laranja – 2,45% e 10,30%, respectivamente -, o algodão também voltou a subir, como em janeiro (5,84%), mas após uma longa sequência descendente. No campo das quedas, a maior foi a do café (6,15%), seguida pelos recuos de trigo (4,54%), açúcar (3,38%), cacau (3,25%) e milho (1,63%), segundo o Valor Data. Os resultados reforçam as projeções de acomodação das cotações dessas commodities em patamares mais baixos ao longo deste ano, com possíveis efeitos positivos sobre os índices inflacionários.

No tabuleiro do café, os sinais disponíveis ainda indicam pouco espaço para um aperto na relação internacional entre oferta e demanda, apesar da recente queda das exportações do Vietnã, maior produtor global da variedade robusta. A média de fevereiro em Nova York, 31,89% inferior a do mesmo mês de 2012, é a menor desde maio de 2010. A maior cotação média mensal da commodity naquele mercado foi alcançada em janeiro de 2011.

No quadro do açúcar, outra commodity agrícola cujas exportações mundiais são lideradas pelo Brasil – como também acontece no café, no suco e na soja -, a expectativa também é de superávit global mesmo com o aumento da produção brasileira de etanol, que ganhou competitividade com o encarecimento da gasolina do país e com a confirmação do aumento da mistura de anidro no combustível fóssil a partir de 1º de maio. A média do mês passado, a mais baixa desde maio de 2010, foi 24,30% menor que a de fevereiro. O pico foi em abril de 2011.

No mercado de cacau, a produção de países do oeste da África não gera grandes preocupações e o espaço para novas quedas, assim, continuará a existir a não ser que a demanda global dê mostram de um aquecimento mais significativo. O preço médio dos contratos futuros de segunda posição em Nova York em fevereiro, o menor desde novembro de 2008, foi 6,50% mais baixo que o do mesmo mês do ano passado. Nesse caso, a maior média histórica foi em fevereiro de 2011.

Ainda na bolsa de Nova York, as cotações do suco de laranja continuam com uma frágil sustentação, uma vez que a demanda mundial, apesar de reações recentes nos Estados Unidos, segue deprimida. A disparada de fevereiro foi deflagrada pelo clima seco que prejudicou os pomares da fruta na Flórida, mas os gordos estoques brasileiros tendem a evitar que a curva ascendente se prolongue muito, mantendo os preços longe das máximas de dezembro de 2006. Na comparação com a média de fevereiro de 2012, a do mês passado ainda foi 31,95% inferior.

Para o algodão, a outra commodity deste levantamento que subiu na bolsa nova-iorquina em fevereiro, o fundo do poço pode ter ficado para trás. Com o mergulho dos preços, a tendência é de tombo da produção global na próxima safra (2013/14), que começará a ser plantada no Hemisfério Norte nos próximos meses, o que já serviu para aquecer a demanda desde o início do ano. E, mesmo que a média do mês passado tenha sido a maior desde abril, na comparação com fevereiro de 2012 a queda ainda chega a 10,68%.

No mercado de grãos, o cenário é inverso. Depois que problemas climáticos derrubaram as produções na América do Sul e nos Estados Unidos no ano passado, a tendência é de crescimento da oferta mundial e ela vem se consolidando conforme avançam as colheitas abaixo da linha do Equador e multiplicam-se as projeções de plantio no Hemisfério Norte, mesmo com alguma chance de estiagem no coração do Meio-Oeste americano. A soja vinha nessa toada até que uma inesperada seca começou a afetar plantações na Argentina, frustrando estimativas de safra e puxando a valorização do grão em Chicago em fevereiro.

Com isso, a média dos futuros do grão em fevereiro foi 14,44% superior a do mesmo mês de 2011 e a cotação média mensal permaneceu mais próxima do recorde histórico, batido em setembro de 2012 quando os danos da última safra americana se confirmaram. Já o milho, mesmo com a pequena baixa de fevereiro, particularmente influenciada pela decepcionante demanda pelo produto americano – em parte porque há oferta disponível no Brasil, onde a produção de inverno da safra passada foi recorde -, permanece próximo do pico, também de setembro. Em relação a fevereiro de 2011, a valorização ainda é de 9,11%.

Com uma relação entre estoques e demanda mais confortável e uma recente melhora do clima nos EUA, após uma estiagem, o trigo, apesar do pequeno recuo do mês passado, apresenta alta de 13,16% na comparação com a média de um ano atrás, mas segue mais distante da média recorde de março de 2008.

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