JornalCana

Deflação em abril surpreende mas não deve mudar postura do BC

Quatro índices de preços do início de abril surpreenderam o mercado nesta semana, apresentando forte deflação, e a perspectiva de analistas é de manutenção dos índices baixos até o fim do semestre, quando ocorrem reajustes de preços administrados.

As deflações resultaram, sobretudo, da forte queda de alguns preços de alimentos em safra e da recente valorização do real. Com isso, os índices no atacado mostraram queda recorde num período de 12 meses.

“Agora que começou o período de safra, muitos produtos alimentícios exercem pressão de baixa sobre os índices de preços”, resumiu Sandra Utsumi, economista-chefe do Bes Investimentos.

As boas surpresas no campo inflacionário, entretanto, não devem mudar a trajetória da política monetária –já que os alimentos são preços considerados muito voláteis e as expectativas do mercado já estão no centro da meta perseguida pelo Banco Central.

Nesta quinta-feira, a Fundação Getúlio Vargas informou que o Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) teve deflação de 0,50 por cento na segunda prévia de abril, ante previsão média do mercado de queda de 0,35 por cento.

Divulgado na véspera, o Índice Geral de Preços-10 (IGP-10) mostrou deflação de 0,65 por cento neste mês, ante projeção de 0,42 por cento. Em 12 meses até abril, o IGP-10 acumula queda de 0,78 por cento, a maior da história dos IGPs, de 1944.

AJUDA DA SAFRA

Soja e milho são os produtos que mais vêm contribuindo para a queda dos preços no atacado. Sandra lembra que, entre fim de abril e início de maio, a cana-de-açúcar entra em safra e deve ajudar a manter os índices baixos.

“O câmbio também tem ajudado os preços no atacado e a tendência é maio ainda ser beneficiado pelos alimentos em queda. Devemos ver taxas bem baixas em maio”, disse.

Salomão Quadros, economista da FGV, afirmou que a queda dos alimentos no atacado já está sendo repassada ao consumidor.

Nesta semana, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) de São Paulo, medido pela Fipe, teve deflação de 0,06 por cento na segunda quadrissemana de abril, ante previsão média de analistas de alta de 0,03 por cento.

O Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), da FGV, avançou 0,23 por cento no mês encerrado em 15 de abril, abaixo da estimativa de 0,28 por cento.

“A queda generalizada dos produtos agrícolas… já está chegando nos alimentos processados, está caminhando dentro do processo e chegando ao varejo”, afirmou ele.

JUROS

Os índices de preços devem voltar a mostrar aceleração da inflação na passagem do primeiro para o segundo semestre, período de reajuste de preços administrados como tarifas de energia e telefonia.

Apesar da previsão de que esses reajustes serão baixos por serem baseados na variação dos IGPs, que estão menores que em anos anteriores, não há como descartar um peso sobre a inflação.

“Em junho, julho, tem aumento de administrados e isso sempre pesa”, acrescentou Sandra, do Bes.

Isso deve fazer com que o BC não mude a postura no processo de afrouxamento monetário, segundo os analistas.

“Mesmo com o cenário mais favorável para a inflação, uma aceleração no ritmo de corte do juro, neste momento, não seria aconselhável”, afirmou Elson Teles, economista-chefe da Concórdia Corretora.

Isso porque, acrescentou, o BC já disse que a cada corte da Selic crescem os riscos associados às incertezas com os mecanismos de transmissão da política monetária, sobretudo em relação à defasagem.

Na quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) cortou o juro em 0,75 ponto percentual, conforme o esperado, para 15,75 por cento ao ano.

Inscreva-se e receba notificações de novas notícias!

você pode gostar também
Visit Us On FacebookVisit Us On YoutubeVisit Us On LinkedinVisit Us On Instagram