JornalCana

De olho no tanquinho

A Volkswagen e a Bosch apresentaram recentemente o Polo E-Flex, com sistema de pré-aquecimento do álcool antes de o combustível ser injetado na câmara de combustão, dispensando o uso do tanque de partida a frio. Já nos Estados Unidos e em alguns países da Europa, a solução encontrada para o problema foi o E85, que é a mistura de etanol com 15% de gasolina, eliminando o compartimento extra de combustível. Qual das duas alternativas é a mais correta e interessante para o consumidor? As montadoras instaladas no Brasil acreditam que estão no caminho certo no que diz respeito à evolução do sistema de partida a frio e consideram inviável o uso do E85.

Mas por que não usar o E85 no Brasil, eliminando de vez o tanquinho e o custo de desenvolvimento de novas tecnologias para a partida a frio? Para Frederico Kremer, engenheiro de soluções comerciais e marketing da Petrobras, o uso do E85 é tecnicamente viável, mas afirma que a indústria automobilística está direcionando seus esforços para o aprimoramento do sistema de partida a frio. “Atualmente, já usamos gasolina com 25% de álcool. Para chegarmos ao E85 (álcool com 15% de gasolina), a iniciativa deveria partir da Agência Nacional do Petróleo”, opina o engenheiro.

INVIÁVEL Para o gerente de desenvolvimento de motores da VW e presidente da comissão de energia e meio ambiente da Associação Nacional dos Fabricantes de Automóveis (Anfavea), Henry Joseph Júnior, o uso do E85 é inviável no Brasil. Ele faz um comparativo entre o uso de combustíveis alternativos em nosso mercado e nos EUA e conclui que estamos em fase adiantada.

Henry Joseph lembra que enquanto o Brasil investia no Pro-álcool, na década de 1980, nos Estados Unidos, a alternativa er! a o metanol, produzido a partir do gás natural. “Mas, na época, os conceitos eram diferentes e não havia preocupação excessiva com a questão ambiental”, acrescenta. Posteriormente, a indústria automobilística norte-americana substituiu o metanol pelo etanol produzido a partir do milho. No Brasil, depois da falência do Pró-álcool, as montadoras investiram no sistema flex, que permite o uso de álcool, gasolina ou a mistura de ambos.

Surgiu, então, o problema da partida a frio. Como fazer o motor funcionar rapidamente com álcool em temperaturas mais baixas? EUA e Brasil adotaram medidas diferentes em relação a esse problema. Henry explica que lá foi definido que a solução deveria ser dada no combustível e assim foi criado o E85, ou seja, etanol com 15% de gasolina. Por aqui, a indústria automobilística determinou que a solução deveria estar no veículo e, então, foi criado o sistema de partida a frio, com um tanque extra de gasolina no compartimento do motor, para facilitar o funcionamento em dias de temperaturas mais baixas.

RENOVÁVEL Alguns países da Europa também adotaram medida semelhante a aplicada nos Estados Unidos e, como lá, chegam a aumentar para 30% a quantidade de gasolina na mistura durante o inverno rigoroso. No Brasil, o sistema de partida a frio evoluiu e a Bosch e a Magneti Marelli desenvolveram tecnologia que dispensa o uso do tanquinho, fazendo o pré-aquecimento do álcool antes da injeção na câmara de combustão. A nova tecnologia já está disponível no VW Polo e em breve será aplicada em modelos Fiat.

Henry Joseph afirma que o uso do E85 não é a melhor solução, pois com ele o motor passa a queimar gasolina durante todo o tempo de funcionamento, o que não é ideal em termos ambientais. “Nosso sistema de partida a frio é a solução mais limpa, pois a gasolina é usada em pequena quantidade, apenas para fazer o motor funcionar. Depois, a queima é só do álcool, que é combustível renovável”, explica. O executivo da VW defe! nde ainda que, para o consumidor brasileiro, o E85 não traz vantagens, por mantê-lo dependente do combustível derivado do petróleo. Ao contrário do sistema flex, que dá a opção de abastecimento com 100% de álcool.

Como representante da Anfavea, Henry revela que o tanquinho do sistema de partida a frio está com os dias contados. Ele garante que sistema semelhante ao E-Flex da VW será adotado por outras montadoras em breve. “A tecnologia brasileira é ambientalmente adequada, pois possibilita a queima apenas do combustível renovável. E, se misturarmos gasolina ao álcool, certamente haverá aumento de preços na bomba de abastecimento”, afirma. Mas o sistema que faz o pré-aquecimento do álcool ainda tem custo de produção elevado e acaba chegando caro ao consumidor. Henry Joseph acredita que o problema será solucionado com o aumento da escala de produção do sistema, o que reduziria o preço.

Testes no Brasil

O E85 não é comercializado no Brasil, mas a Fiat testa em ! Betim a picape Dodge Dakota movida pelo combustível, conforme Veículos flagrou em abril. Os testes fazem parte do acordo entre a montadora italiana e a Chrysler, que engloba a marca Dodge. A Fiat, que não tem picape média no mercado brasileiro, deve comercializar aqui a Dakota, mas, de acordo com o fabricante, não com o E85, pois este tipo de combustível não é a melhor solução, pois reduz a flexibilidade no abastecimento. E o objetivo agora é aprimorar cada vez mais o sistema de partida a frio.

Inscreva-se e receba notificações de novas notícias!

você pode gostar também
Visit Us On FacebookVisit Us On YoutubeVisit Us On LinkedinVisit Us On Instagram