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De calças curtas

A proximidade de uma crise relacionada ao álcool já vinha sendo anunciada desde 2003, quando chegaram ao mercado nacional os primeiros veículos equipados com a tecnologia flexfuel, capazes de rodar com álcool, gasolina ou qualquer mistura entre os dois. De lá para cá, o consumo de álcool hidratado (combustível vendido nos postos de abastecimento) vem crescendo a uma proporção de 500 milhões de litros por ano – segundo dados estatísticos do Sindicato Nacional das Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes (Sindicom), que congrega as maiores distribuidoras em operação no País e responde por 79,2% do mercado nacional de combustíveis.

Em 2003, foram comercializados 1,56 bilhão de litros de álcool hidratado, contra 15,77 bilhões de gasolina. Em 2004, foram vendidos 2,11 bilhões de litros do combustível verde para 16,80 bilhões de litros do derivado de petróleo. No ano passado, as vendas de álcool chegaram a 2,53 bilhões de litros e as de gasolina praticamente se mantiveram estáveis, fechando o ano em 16,83 bilhões de litros. No mesmo período, as vendas de automóveis flexfuel saiu da casa de 48,18 mil unidades em 2003, para 328.37 mil unidades em 2004 e 866,27 mil unidades no ano passado. A quantidade de flexfuels vendidos no ano passado representou 51,6% das vendas totais de automóveis (considerando nacionais e importados), proporção que aumentou para 72,8% em janeiro deste ano.

A aceitação dos bicombustíveis e a maior procura pelo álcool pegou o governo, os produtores e os distribuidores de calças curtas. Nem os mais entusiastas esperavam sucesso tão vertiginoso, já que ainda era recente na memória do brasileiro o fiasco do programa nacional do álcool (Pro-Álcool). A aceitação do bicombustível pelo consumidor brasileiro acabou forçando os mais céticos, como as montadoras francesas (Renault, Peugeot e Citroën) e as japonesas (Honda e Toyota), a aderir a tecnologia.

Aposta mais das montadoras que dos consumidores, a cada novo motor flexfuel lançado, a indústria automotiva vem retirando do mercado seu similar movido a gasolina. Sem opção, o consumidor acabou levando o flexfuel para casa e, na hora de abastecer, falou mais alto a grande economia proporcionada pelo álcool. Assim, o flexfuel acabou virando carro a álcool.

Agora, com o litro álcool chegando à casa de R$ 1,90, diante de uma gasolina vendida a R$ 2,64, a conversa é outra. Mais do que nunca, na hora de abastecer é preciso fazer a conta para optar por um ou por outro – como mostra reportagem de Viviane Barros Lima publicada na página 8 da edição de hoje. O álcool só é viável quando custar até 70% do valor da gasolina. Isso por que o combustível verde apresenta, em média, um consumo 30% maior que a gasolina.

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