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Da distância entre o Brasil e os brasileiros

A falta da noção da distancia entre a percepção e a realidade dos fatos é tão corriqueira nas pessoas e no coletivo que os americanos até tem um slogan, “perception versus reality”, (percepção versus realidade), para evidenciar sua forte presença na sociedade.

No Brasil a maior evidencia desta “cegueira” está no que o povo acha como está o Brasil e como o Brasil está de verdade. Comecemos pela política com a massacrante aprovação a um presidente que pela percepção sustenta uma credibilidade muito distante da que a realidade ostenta ao mostrar o entorno de seu comando. É obvio que nenhum comandante digno de tanto credito poderia se permitir estar rodeado por um nível de corrupção e incompetência tão grande.

Na economia, a idéia de que hoje tudo podemos, contrasta com a fragilidade das instituições que pouco podem diante do cassino dos hedges e outras especulações.

A consciência desta distancia entre a percepção e a realidade é maior entre as pessoas mais instruídas e, sobretudo mais “antenadas”, criticas e interessadas. Embora às vezes confundida com uma tal “elite”, este grupo consegue separar melhor o joio do trigo. Não apenas por competência, mas por vontade de enxergar seus interesses e antecipar um pouco o futuro.

Gostaria que todos os brasileiros entendessem esta visão, tão bem como entendem de futebol. Tal qual no jogo das multidões, sabemos que podemos estar ganhando um jogo, não por estarmos jogamos bem, mas porque o adversário joga mal.

O Brasil é um jogador importante no jogo sócio-político e econômico que o mundo peleja. E estamos em vantagem porque nossos adversários estão de alguma forma desorientados. Porém vão melhorar. Daí é que os entendidos apenas de futebol vão perceber a realidade. Na dor, provavelmente.

Todo este raciocínio apenas para ilustrar um fato que passa tão ao largo da maioria dos brasileiros que poucos conseguem ver sua importância. Parece que estamos ganhando todas, mas perdemos a OMPI.

O candidato brasileiro, e da maioria dos países emergentes, Dr. Graça Aranha perdeu a presidência desta importante agencia da ONU por um voto num colégio de 83 eleitores. Quem ganhou foi um australiano, candidato preferencial dos Estados Unidos e dos países desenvolvidos. Antes, um esclarecimento: o nosso candidato foi o Presidente no INPI, nosso órgão nacional de patentes industriais, uma das mais brilhantes cabeças que temos na área. Um diplomata, expert no assunto, internacional, e de muita classe, que marcou uma das mais profícuas gestões do órgão, no governo FHC.

Para quem só entende de futebol, a OMPI é a agencia das Nações Unidas que trata de patentes e marcas e cada vez mais influencia as decisões soberanas das nações.

A questão do desenvolvimento tecnológico passa de alguma forma por ele. E todos nós sabemos que a tecnologia, juntamente com as finanças e as armas formam o tripé do poder geopolítico do mundo em que vivemos. Portanto fundamental para que o Brasil esteja pelo menos fazendo a lição de casa, é necessário se preocupar com isto e lutar pela posição. O jogo aqui é de patentes, direitos, aberturas e justiça. Jogo que define campeonato. Extremamente importante para nossos futuros entreveros de direitos. Nada melhor que Graça Aranha pudesse cuidar disto. Mas não deu.

Bom que a eleição ocorreu num clima de jogo político discutível sob ponto de vista ético. Isto pode ser colocada como questão de fundo para uma nova tentativa de ganharmos um espaço que já fizemos muito por merecer. A começar pela qualidade do candidato.

Não sei o que poderia ter sido feito pelos nossos diplomatas na luta por este posto, talvez nada, mas quem sabe ainda se desperte alguma luz nas possibilidades. Vamos torcer para isto. De qualquer forma o que decepciona é como o brasileiro olimpicamente vibra com as jogadas de classe nem sequer fica sabendo das derrotas do time. E não por falta de jogador, mas por excessiva omissão dos cartolas. Que pena.

Carlos Liboni,

Ex Vice Presidente da Fiesp e da ISA.

Diretor de Assuntos Internacionais do Ceise BR – Centro Nacional da Indústria de Equipamentos para Acucar e Alcool.

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