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Cutrale investe US$ 50 milhões para barrar a cana

A poderosa Cutrale, dona de 30% das exportações de suco de laranja do Brasil (cerca de US$ 500 milhões), decidiu reagir e barrar a crescente conversão de laranjais em canaviais. Quer usar US$ 50 milhões para renovar cinco milhões de árvores em pequenas propriedades rurais em São Paulo, onde o desânimo com a citricultura é notório. Para a Cutrale, tornou-se ameaça o avanço da cana.

Analistas consideram a iniciativa uma novidade e acham que o acordo tende a atrair a Citrosuco, a Citrovita e a Coinbra-Frutesp. Acossados por acusações de dumping nos EUA e de cartel no Brasil, a disposição ao diálogo das empresas, aberto pela Cutrale, sugere a busca de maior transparência no mercado interno.

De qualquer forma, a postura da Cutrale é estratégica. Se é reduzida a possibilidade de expansão de área, pelo menos criase algum esforço para não deixar que os pomares carentes de investimentos em tecnologia pereçam. A empresa acha que, se nada for feito, enfrentará problemas no fornecimento da fruta nos próximos anos. Dados do Instituto de Economia Agrícola (IEA) mostram que 49% dos laranjais já foram cedidos para o plantio de cana.

Para compensar a perda e manter a produção, a citricultura incorporou tecnologia. Isso produziu o seguinte fenômeno: menos árvores resultaram em mais frutas. Eram 184,9 milhões de pés em 2001. Hoje, são 183,8 milhões. A oferta, entretanto, que era de 328,2 milhões de caixas no começo da década, chegou a 352,1 milhões no ano passado. Mas a defesa da citricultura pode ter chegado a um limite. Há dúvidas se a produtividade é capaz de assegurar a oferta dos volumes necessários ao setor. Não há necessidade de novas áreas, mas é fundamental haver condições de sobrevivência para os pomares que existem, explica Flávio Viegas, presidente da Associação Brasileira de Citricultores (Associtrus). Hoje, um hectare tem 400 árvores, ante 250 há alguns anos. Isso garantiu a produção necessária para a indústria. Marcos Fava Neves, coordenador do Programa de Estudos dos Negócios do Sistema Agroindustrial (Pensa/USP), diz que, ante a situação precária da citricultura paulista nas pequenas propriedades, há risco para a Cutrale. Para a empresa, é mais barato ajudar os pequenos do que comprar áreas caras para plantar, diz.

Com 5 milhões de árvores, a Cutrale terá 12 milhões de caixas de laranja, se levada em conta a média de produção em São Paulo. Segundo José Cervato, diretor administrativo-financeiro da Cutrale, esse volume equivale a 15% da demanda de laranja. Os grandes produtores têm condições de buscar financiamento para manter o trato da cultura. Os pequenos, porém, estão descapitalizados, sem condições de fazer a renovação, admite. Corríamos o risco de perder áreas para a cultura da cana. Apesar dos excepcionais preços internacionais do suco de laranja, a Cutrale não pretende bancar sozinha os US$ 50 milhões necessários à renovação. Cervato afirma que a empresa aceita pagar até US$ 25 milhões para a renovação. Ficará entre um terço e metade do valor total que imaginamos necessário, diz.

O restante terá de vir dos produtores, investidores ou do BNDES. A empresa alega que dará liquidez à operação: comprará toda a laranja. O preço ainda não está definido, é parte da negociação que corre em paralelo com a Associtrus e a Federação da Agricultura do Estado de São Paulo (Faesp).

A Associtrus aceita o financiamento para renovação de pomares, mas impõe duas condições: carência de quatro anos para a árvore chegar ao ponto de produção e a preço de R$ 15 por caixa. Hoje, o valor varia entre R$ 6 e R$ 8. Uma das condições deste acordo é a garantia de um preço que remunere. Sem isso, não há qualquer solução, afirma Viegas.

Com a valorização do produto no mercado internacional, a Cutrale admite o repasse para novos contratos.

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