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Cuba recorre à ONU contra a produção de etanol

O governo de Cuba tomou uma iniciativa que pode frear a ofensiva diplomática do Brasil de promover o etanol no mundo. Nesta semana, Havana propôs que a Organização das Nações Unidas (ONU) comece um estudo para avaliar até que ponto o etanol, tanto de milho como de cana-de-açúcar, afetam a produção de alimentos no mundo.

Havana também sugeriu à ONU a criação de um comitê que avalie o trabalho escravo no setor da cana. Os cubanos já têm um aliado: o relator da ONU para o direito à alimentação, o suíço Jean Ziegler.

Entendo o governo de Luiz Inácio Lula da Silva de que precisa de divisas para pagar suas dívidas. Mas, do ponto de vista alimentar, o uso do etanol pode ser catastrófico, afirmou Ziegler, que afirma apenas esperar uma decisão formal dos governos para iniciar o estudo.

Para diplomatas da ONU, o temor dos cubanos (e também dos venezuelanos) é de que o etanol leve o governo americano a ter maior influência sobre os governos da América Central.

Pela iniciativa, um relatório teria de ser preparado e apresentado ao Conselho de Direitos Humanos da ONU. Outra iniciativa seria criar uma comissão na Organização Internacional do Trabalho (OIT) que estude o impacto da produção do etanol para o trabalho.

Temos de nos unir para enfrentar a estratégia sinistra de dedicar alimentos para produzir combustíveis, o que condenará à morte por fome e sede milhões de pessoas nos países em desenvolvimento, aumentará o preço dos alimentos, o desmatamento, a perda de biodiversidade, a contaminação das águas e o desemprego, disse o ministro do Trabalho de Cuba, Alfredo Morales Cartaya.

REAÇÃO

A iniciativa cubana produziu grande preocupação entre os diplomatas brasileiros. Uma reunião foi imediatamente solicitada pelo Brasil com a delegação de Cuba. O representante brasileiro foi o ministro do Trabalho, Carlos Lupi. Não podemos deixar isso passar em branco. Expliquei aos cubanos que, no Brasil, já temos o etanol há 35 anos e isso nunca implicou uma redução da área destinada à agricultura ou à falta de alimentos, afirmou Lupi. Expliquei que nossa produção não tem semelhança com a dos americanos.

Lupi ainda convidou os cubanos a fazer uma visita ao Brasil para conhecer a produção de cana. Vou propor ao governo que façamos um plano de cooperação com os cubanos para melhorar a qualidade da cana que eles produzem. Assim, também poderão usá-la para fabricar etanol, afirmou.

Na sede da ONU, Ziegler criticou a expansão da soja pela Amazônia. A floresta está sendo destruída e o Brasil está se tornando o maior exportador de soja do mundo, afirmou. Ziegler, que já esteve no Brasil avaliando a fome, ainda chamou de hipócritas os governos da Europa, dos Estados Unidos e do Japão. Esses governos dizem agora que querem lutar contra a poluição. Mas com uma alternativa que pode ser muito ruim para os países emergentes, afirmou.

Segundo ele, a fome no mundo vem aumentando nos últimos anos. Passou de 842 milhões de pessoas em 2005 para 854 milhões em 2006. Uma a cada seis pessoas passam fome. Isso em um planeta onde temos recursos para alimentar o dobro da população existente.

Para Ziegler, as Metas do Milênio de redução do número de famintos pela metade até 2015 não serão atingidas. É uma ilusão total achar que essa meta será alcançada, alertou.

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