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Crise afeta cidades canavieiras com perda de 300 mil postos de trabalho

Desde 2008, início da crise mundial e sucroenergética, o setor perdeu 300 mil postos de trabalho no país, segundo estudo apoiado pela Unica, Orplana e Ceise-BR.

Além disso, o mapeamento identificou o fechamento de quase 50 usinas e a massa salarial reduzida em 56,8%, saltando de US$ 9,5 bilhões (2008/09) para US$ 4,1 bilhões (2013/2014). O objetivo do levantamento é traçar um diagnóstico pós crise, agravado pela falta de política de incentivo federal.

Elizabeth Farina, presidente da Unica, declara que o setor precisa de programas específicos para aumentar a eficiência dos motores no uso do etanol. “E também incentivo para um carro híbrido flex (eletricidade e etanol). Queremos a volta da Cide sobre a gasolina, hoje zerada. O governo desonerou o combustível fóssil e poluente e reduziu a competitividade do combustível limpo”, diz.

André Rocha, presidente do Fórum Nacional Scuroenergético, declara que de 2005 a 2008, o País registrou um aumento de 25% no número de unidades sucroalcooleiras instaladas. “Mas de 2008 para 2014, 30% das quase 390 usinas existentes no Brasil mudaram de mãos, fecharam, suspenderam as atividades ou estão fazendo a moagem fora de seu município”, confirma.

Para tentar amenizar a situação, Rocha acredita que o governo federal está aberto a conversações. No entanto, teme que o período eleitoral atrapalhe a continuidade das negociações com o setor sucroenergético ainda neste ano.

“O próprio governo propôs aumentar a mistura de etanol à gasolina de 25% para 27,5%, mas isto não aconteceu ainda. Queremos que o governo mude a banda da chamada `Lei da Mistura´ para um intervalo legal de 20% a 30%”, destaca.

Rocha critica o fato de o governo elevar e reduzir a mistura quando quer, para tentar conter a taxa inflacionária, monitorando o preço da gasolina. Para ele, enquanto esta prática persistir, o etanol continuará perdendo competitividade.

Para o candidato à Presidência da República, Senador Aécio Neves (PSDB-MG), a Petrobras está sendo usada para corrigir equívocos do governo. “O que estamos assistindo é extremamente grave, fruto da ausência de planejamento e da descontinuidade do que se fez no passado. Como resultado, temos usinas fechadas, empregos eliminados, a participação do etanol na matriz energética em queda e redução de mais de 40% no consumo do etanol desde 2008,” lembra.

Aécio Neves diz ainda que as barreiras à importação do etanol brasileiro nos Estados Unidos caíram em 2011, mas o País não foi capaz de aproveitar essa oportunidade. Em vez disso, virou importador de etanol, algo que era “inimaginável. “É essencial que o setor seja resgatado, para voltar a gerar empregos e impactos positivos, ambientais e sociais. O mesmo vale para a Petrobras, que vem sendo extremamente punida pela má condução da economia brasileira”, conclui.

Jardest deixa saudades
Jardest deixa saudades

Cidades canavieiras

Sertãozinho, no interior de São Paulo, respira cana-de-açúcar e sedia as mais tradicionais indústrias de base do setor de açúcar e etanol. Até 2007, ela ocupava o sexto lugar no ranking das melhores cidades brasileiras, medido por pesquisas da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, nos quesitos emprego, nível de renda, saúde e educação. Dois anos depois, Sertãozinho caiu para o 154° lugar no ranking. “Esse é apenas um reflexo da crise e da falta de política de incentivo”, diz um executivo de uma indústria de base.

Outra cidade, Jardinópolis, também no interior de São Paulo, com aproximadamente 38 mil habitantes, chamou a atenção da imprensa depois que uma das principais geradoras de emprego e renda fechou suas portas pelo reflexo da crise. O local reúne milhares de trabalhadores da Usina Jardest, hoje pertencente ao Grupo Biosev. A cidade, inclusive os comerciantes, sentiram o reflexo da hibernação da unidade.

Tardivo lembra com orgulho da chance que conquistou na antiga Jardest
Tardivo exibe diploma e lembra com orgulho da chance que conquistou na antiga Jardest

Um antigo funcionário, que hoje trabalha em uma empresa fornecedora do setor, Ronaldo Tardivo, conquistou seu primeiro emprego na Jardest em 2005 e por lá permaneceu por sete anos. Mas sua vida se transformou dentro da empresa mais disputada para vagas de empregos na cidade. “A Jardest abriu portas no mercado de trabalho. Na época eu trabalhava no setor de processos químicos e isso me despertou o desejo de cursar engenharia química. Me lembro que as vagas para entrar na usina eram muito disputadas e quem conseguia era muito reconhecido em Jardinópolis”.

Segundo ele, esse trabalho o ajudou a conquistar um curso universitário. “Hoje trabalho na área como engenheiro de aplicação desde maio de 2013 em uma empresa fornecedora. Consegui boa experiência profissional na Jardest e me sinto orgulhoso de ter feito parte da história dessa empresa. Hoje tenho um carro que também consegui comprar com o salário da época. A hibernação da Usina irá impactar a vida da maioria da população direta ou indiretamente, sem contar a falta que farão os benefícios como o convênio médico”, lembra.

Mariana Roque, sócia proprietária de uma empresa cerealista, também percebeu que a Jardest tinha muita influência no comércio da cidade. Logo no início da hibernação já havia um receio em relação às compras. “Sentimos uma queda significativa nas vendas após o anúncio da empresa. Sentimos certa preocupação para comprar, com os clientes que conversamos. Eles são ótimos e muito assíduos e alavancaram nosso negócio, mas agora o futuro é incerto”, disse logo após a hibernação.

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