JornalCana

Crise derrete preços do álcool e começa a derrubar os do açúcar

A mesma crise de crédito que obrigou as usinas a liquidarem álcool para levantar recursos e pagar dívidas, agora também mina as cotações do açúcar. Sem dinheiro para iniciar a safra e com o álcool fechando fortemente no vermelho, a saída para as indústrias do setor vem sendo ofertar mais açúcar no mercado. A pressão nos preços fica mais intensa porque, do outro lado do balcão , o comprador está mais retraído, à espera de preços menores a cada dia. O mercado está comprando da mão para a boca. Somente o estritamente necessário. “Quem costumava comprar 1 mil sacas por semana, em vez de comprar tudo de uma vez, negocia metade em um dia, e depois compra a outra parte. A perspectiva é que no dia seguinte sempre estará mais barato”, diz um trader.

O resultado é que em dez dias o preço da saca de 50 quilos em São Paulo caiu 5,4%, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP), de R$ 49,53 para R$ 46,82. Já o álcool, cujos preços despencaram em plena entressafra, continuam em retração. Desde janeiro, a queda acumula 15%.

De acordo com o trader, a maior oferta de açúcar pelas usinas nas últimas semanas elevou o desconto feito no produto para exportação, atualmente na casa de 50 centavos de dólar por libra-peso (VHP).

José Carlos Toledo, presidente da União dos Produtores de Bioenergia (Udop), que representa as usinas sucroalcooleiras do Oeste paulista, explica que muitas indústrias já iniciaram a moagem de cana da safra 2009/10. Ele estima que metade das usinas do Oeste de São Paulo – que vai desde Barretos até Presidente Prudente – já iniciou a moagem. “Mas é preciso ponderar que o volume de cana processado ainda é pequeno, pois como normalmente ocorre nesta época do ano, o clima ainda está chuvoso e o solo úmido”, acrescenta Toledo. A região Oeste de São Paulo so! ma moagem de 160 milhões de toneladas, de um total de 500 milhões de toneladas processados em toda a região Centro-sul do Brasil.

Mirian Bacchi, professora da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) e pesquisadora do Cepea, acrescenta que também é preciso considerar que o próprio início da safra traz necessidades adicionais de recurso às usinas que têm de pagar fornecedores para iniciar a safra. “Há também o efeito psicológico de começo de ciclo, quando a perspectiva é de preços mais baixos”, acrescenta a pesquisadora.

De acordo com um trader, o fato de o álcool estar dando retorno muito negativo às usinas, também está motivando as indústrias a venderem o que está gerando lucro. O produto, cuja cotação caiu 22% desde o começo de fevereiro, foi o primeiro a sofrer o impacto da falta de liquidez das usinas.

Sidnei Benelli, gerente industrial da usina Alvorada do Oeste, em Santo Anastácio (SP), conta que na safra 2008/09 a indústria não cons! eguiu reter estoques na entressafra, como normalmente faz. Ele relata que toda a produção de 85 milhões de litros foi comercializada, quando, o programado era deixar um estoque de 12 milhões para passar a entressafra. “Moemos até fevereiro e pretendemos iniciar a outra safra em dez dias. Vendemos tudo o que produzimos para pagar fornecedor e outros credores”, relata Benelli.

“A usina está precisando vender para ter lucro e, neste momento, somente o açúcar traz esse retorno. O álcool está muito abaixo do custo de produção”, avalia Arnaldo Luiz Correa, da Archer Consulting.

Toledo, da Udop, diz ser arriscado apresentar um valor único de custo de produção de álcool, cuja cotação está na casa dos R$ 0,63. “Fala-se em um custo de produção de R$ 0,74, mas na realidade, há o custo financeiro dos investimentos feitos nessas usinas que é de cerca de R$ 0,17. Com isso, o custo real está próximo de R$ 0,95 por litro”.

Inscreva-se e receba notificações de novas notícias!

você pode gostar também
Visit Us On FacebookVisit Us On YoutubeVisit Us On LinkedinVisit Us On Instagram