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Cresce pressão pelo fim da tarifa dos EUA sobre álcool

Desta vez os holofotes estarão sobre Jeb Bush, ex-governador da Flórida e irmão do presidente americano George W. Bush, e Roberto Rodrigues, ex-ministro brasileiro da Agricultura. Ambos comandam a Comissão Interamericana do Etanol (CIE) e participarão de eventos sobre o combustível em São Paulo e Brasília. A idéia é dar continuidade ao diálogo recentemente aberto entre os presidentes Lula e George Bush, mas o roteiro das discussões já está um pouco diferente, uma vez que são mais evidentes os sinais de excesso de oferta no Brasil. A pressão pela queda do protecionismo dos EUA, portanto, tende a ser maior.

O Brasil tem em suas mãos os mais altos estoques de álcool para um início de safra dos últimos quatro anos, por conta de sucessivas safras recordes. Nesse cenário, cresce a preocupação de como administrar esses volumes excedentes em um momento que os preços estão em queda e o apetite dos americanos pelo combustível brasileiro parece estar mais tímido.

No país a partir de segunda, Jeb Bush reforçará um discurso de aproximação com os interesses brasileiros no etanol. Lançará, em São Paulo e Brasília, a idéia de uma redução gradual da tarifa de importação imposta pelos EUA sobre o álcool brasileiro e a criação de uma cota com elevação progressiva para a exportação do produto ao mercado americano livre de taxas (US$ 0,54 por galão, mais 2,5% de tarifa ad valorem).

Os empresários brasileiros também estão preocupados com os estoques previstos para o início de 2008. Em 2007, os estoques para abril estão calculados em 1,3 bilhão de litros, segundo fonte do governo. Com a entrada em operação de 17 novas usinas no país, a produção atual crescerá de forma acelerada e o instrumento de elevar a mistura do álcool anidro na gasolina, dos atuais 23% para 25%, já não seria suficiente para enxugar a oferta do mercado.

“É preciso uma encomenda firme dos EUA. Armazenar etanol é caro. Temos de ter uma demanda para sete ou oito anos, até para dar fôlego aos produtores levantarem recursos para investir na produção”, afirma fonte envolvida nas negociações da CIE. Mas, se depender das previsões atuais, os EUA não vão ajudar muito o Brasil este ano. Com uma produção maior, estimada em 25 bilhões de litros, os americanos devem reduzir pela metade as importações diretas do álcool brasileiro. Em 2006, os EUA importaram 1,7 bilhão de litros do Brasil. Há um mês, na visita oficial de Bush ao Brasil, este assunto não era preocupação do setor privado.

Há um pedido para que Jeb Bush anuncie os volumes de importação de álcool dos EUA no médio prazo. Uma parte da importação seria livre de tarifas e o restante estaria condicionado à elevação gradual da produção brasileira. A discussão sobre o fim, mesmo que gradual, das tarifas não é fácil neste momento nos EUA. O forte lobby dos produtores de milho e a perda de poder dos republicanos no Congresso complicam a situação. Mas, avalia-se que, a longo prazo, os EUA terão que expandir as fontes de fornecimento de etanol, uma vez que não poderão ser dependentes do milho e a demora na viabilização do etanol de celulose.

Ao mesmo tempo, a CIE ganha influência no governo americano. Em recente reunião em Washington, Jeb Bush exigiu o reconhecimento institucional da comissão pelo Departamento de Estado dos EUA e pediu que todas as ações com o setor privado fossem feitas por meio da comissão. A entrada do ex-premiê japonês Junichiro Koizumi na direção da CIE também ajudou a elevar o status internacional da comissão.

Eduardo Pereira de Carvalho, presidente da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), diz que as discussões sobre o fim das tarifas de importação dos EUA e até mesmo a negociação de cotas para aquele mercado estarão em pauta na reunião com Jeb Bush.

Levantamento da Datagro mostra que os estoques iniciais efetivos de álcool de 2007/08 serão de 657 milhões de litros (contabilizando a antecipação da nova safra), a partir de maio. Na safra passada, marcada pelos altos preços do combustível na entressafra, os estoques iniciais efetivos foram de 591 milhões de litros. Para 2008, esses estoques iniciais de passagem estão projetados em 688 milhões de litros. Plínio Nastari, presidente da consultoria, prevê que boa parte dos estoques será consumida internamente, já que os preços estarão mais baixos.

A atual safra começa com uma estimativa de produção de em torno de 415 milhões de toneladas no centro-sul, 11,3% mais que em 2006/07, segundo a Datagro. São 17 novas usinas que entram em operação na safra 2007/08. No ano passado, foram 12 unidades, de um projeto de 86 novas unidades, de um investimento de US$ 17 bilhões.

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