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Cresce cultivo de sorgo para etanol no país

Historicamente tratado como o “primo pobre” do milho no mercado de rações para aves e suínos, o sorgo está ganhando novas roupagens em regiões agrícolas do país. Com menos grãos do que o sorgo destinado à alimentação animal – o granífero -, o sorgo sacarino é o mais novo “convidado de honra” dos produtores brasileiros de etanol, e com isso conseguiu até ressuscitar pesquisas de melhoramento genético que foram paralisadas ainda na época do Proalcool.

Desde o ano passado, despontam experimentos de plantio de sorgo sacarino em usinas de São Paulo, Goiás e Minas Gerais para seu uso na produção de etanol. Em outubro de 2010, pelo menos sete grupos sucroalcooleiros, entre eles os maiores do segmento, cultivaram 3,1 mil hectares com híbridos da multinacional americana Monsanto, que com a marca CanaVialis está entre as três empresas privadas que apostam na retomada dos estudos desse tipo de sorgo no país.

Neste ano, somente a companhia americana tem disponíveis sementes para semear uma área até 20 vezes maior, de 50 mil a 60 mil hectares. E a empresa acredita que esse volume não será suficiente para atender à demanda crescente das usinas, que neste ano padecem de baixa produtividade em suas áreas de cana-de-açúcar. “O cenário é de pouca cana, muita demanda e preços altos. A demanda pelo sorgo sacarino está crescente”, diz o líder de Negócios da CanaVialis, José Carlos Carramate.

Antes do interesse para uso em biocombustíveis, o sorgo sacarino praticamente não era cultivado no país. Não consta sequer nas estatísticas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) – que, no entanto, agora não descarta inclui-lo em levantamentos de dados no futuro.

Carramate explica que a planta se assemelha a do sorgo granífero (para ração), mas que é entre 30 a 50 centímetros mais alta – mede de 1,8 metro a 2 metros. Essa altura, próxima do tamanho da planta de cana-de-açúcar, permite que a colheita seja realizada com o mesmo maquinário canavieiro, otimizando os custos fixos da usina, explica o executivo.

O sorgo sacarino tem menos grãos e mais colmo, que é onde se concentra a maior parte do açúcar fermentável da planta, explica o especialista. Esse açúcar, no entanto, é rico em frutose – e não sacarose como na cana – o que restringe a produção com sorgo apenas ao etanol. “Não dá para fazer açúcar”, completa.

Quase todos os grandes grupos sucroalcooleiros do setor colheram sorgo neste ano, a partir de fevereiro e março, época da entressafra da cana. A Raízen (Cosan / Shell), colheu 92 hectares e agora prevê o plantio de mais 1000 hectares em sua unidade Jataí, em Goiás. A Nova Fronteira Bioenergia (São Martinho / Petrobras) produziu etanol a partir de 257 hectares de sorgo sacarino e espera mais que dobrar a área neste ano para 600 hectares, também no Estado do Centro-Oeste brasileiro. A Cerradinho, que já plantou a maior área do Brasil de sacarino (1,85 mil hectares), volta neste ano para 700 hectares para ajustes agronômicos. Até a indiana Shree Renuka promete sair da escala de experimento para a comercial neste ano, mas o tamanho da área não foi informado.

O desafio dessa tecnologia é aumentar o nível de açúcar do sorgo sacarino. O rendimento nessa primeira safra foi de 1,2 mil litros de etanol por hectare na Nova Fronteira, conta o diretor de operações da joint venture, Agenor Cunha Pavan. A companhia espera que as pesquisas de melhoramento genético e de manejo ajudem a elevar esse desempenho para níveis de 4 mil litros por hectare.

“Só foi possível apostar nessa alternativa porque as empresas de biotecnologia mostraram interesse em investir em novas variedades”, diz Pavan. A adoção dessa cultura não demanda área adicional, explica ele. O sorgo sacarino substitui a soja ou o amendoim na renovação do canavial, que precisa ser feita todos os anos na proporção de 17% a 20% do canavial. O plano do grupo é usar metade da área de renovação da cana para o cultivo do sacarino em sua usina de Goiás (unidade Boa Vista).

Algumas empresas estão apostando em parcerias com produtores rurais – já tradicionais nas culturas de grãos – para obter o sorgo para fabricar etanol durante a entressafra da cana. A Raízen, diz João Sacomano, gerente do polo Centro-Oeste, está propondo um acordo no qual o produtor rural parceiro planta e a usina fica responsável por colher.

O pagamento, segundo ele, seria feito de acordo com a quantidade de “açúcar fermentável” contido no sorgo, nos mesmos moldes como é feito hoje em dia com os fornecedores de cana que recebem pela quantidade de Açúcar Total Recuperável (ATR) contido na matéria-prima. “Muitos já cultivam o sorgo para o mercado de ração. Agora, eles têm outra alternativa que é o sorgo sacarino para o mercado de etanol”, avalia Sacomano.

O maquinário para colher, plantar e processar o sorgo sacarino é o mesmo usado para a cana, diz o executivo da Raízen, com algumas simples adaptações. “O objetivo é ter uma produção adicional de etanol, usando a mesma terra e os mesmos ativos industriais, ou seja, diluímos o custo fixo”, explica.

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