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Cosan põe em foco a governança

Assim que selar a parceria bilionária com a Shell, a Cosan pode aproveitar a chegada do novo grande sócio para ampliar a dedicação aos seus pequenos acionistas. A companhia precisa melhorar a imagem no mercado – e, com isso, o preço de suas ações – para compensar o passado marcado pela polêmica.

Para começar, seria necessário uma reforma da estrutura societária, que invariavelmente passaria pela controladora Cosan Limited, na qual o fundador Rubens Ometto possui ações que lhe dão direito a 10 votos cada.

Esse superpoder é a principal razão dos arranhões na imagem da governança. Marcelo Martins, diretor financeiro e de relações com investidores, admite que o assunto estará em pauta, mas fala pouco sobre os planos. “Vamos ver o que faz mais sentido para a empresa.”

A criação da Cosan Limited, em 2007, com ações na Bolsa de Nova York, gerou a primeira crise do Novo Mercado, onde a Cosan brasileira (operacional) é negociada desde 2005. A operação, por isso, sofreu interferência da Bovespa e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e teve de passar por alguns ajustes.

Entre analistas e investidores, a expectativa é que a Cosan Limited seja extinta. A companhia perdeu sua principal função a partir do momento em que a associação com a Shell foi costurada na sociedade operacional, que fica no Brasil. Ometto criou o supervoto na Cosan Limited para poder promover uma grande consolidação internacional e se manter no comando mesmo diluindo sua participação a menos de 10%. Agora, qualquer movimento nesse sentido terá que ser feito a partir da sociedade brasileira, na qual a Shell participa.

O fim da holding seria importante para que o valor de mercado da Cosan se aproximasse da avaliação utilizada para o acordo com a Shell. Os executivos das empresas trabalham neste momento em Londres para acertar os detalhes finais da parceria. O memorando de entendimentos foi assinado em 1º de fevereiro, para que o negócio fosse finalizado até o início de agosto.

Atualmente, a Cosan vale R$ 9,6 bilhões na BM&FBovespa, mas o preço implícito na transação com a multinacional é da ordem de R$ 13 bilhões, sem contar os cerca de R$ 4,5 bilhões de dívida que irão para a nova sociedade. De acordo com dados da Bloomberg, a média de 14 projeções de analistas indica que a companhia deveria valer em bolsa o mesmo preço usado na associação. O preço-alvo médio para as ações é de R$ 30,37.

É justamente com a meta de elevar o preço das ações que a Cosan vem adotando medidas para melhorar a percepção dos investidores, especialmente desde o fim de 2009. Em novembro ocorreu a principal das iniciativas, quando o empresário e controlador Rubens Ometto deixou a presidência executiva – assumida por Marcos Lutz – para ficar só com a chefia do conselho de administração, cargos que acumulava.

Embora tido como o visionário responsável pela forte expansão da Cosan, Ometto centraliza demais as decisões para os padrões da chamada “boa governança”.

De 2005 para cá, a Cosan se multiplicou e se reinventou. E o mercado sabe que a ambição do fundador por crescimento foi fundamental para isso.

De uma companhia apenas de açúcar e álcool, tornou-se um grupo verticalizado que atua desde a gestão de terras e a logística até o varejo da cana de açúcar, com a distribuição de açúcar e combustíveis. Com isso, está diluindo os riscos do mercado sucroalcooleiro com outros negócios.

Há cinco anos, quando chegou no pregão paulista, tinha receita líquida de R$ 1,9 bilhão e capacidade para moer 27 milhões de toneladas de cana. Para 2011, espera receita entre R$ 16,5 bilhões e R$ 18,5 bilhões, após moer entre 58 milhões e 62 milhões de toneladas de cana e vender de 5,4 milhões a 5,9 milhões de litros de combustíveis. Tudo isso antes da parceria com a Shell. Combinada, a empresa deverá ter um faturamento bruto de R$ 40 bilhões.

O aumento da complexidade da operação com o crescimento e a verticalização, segundo Martins, exigiu além de melhorias nos sistemas de gestão, maior transparência. Atualmente, o comitê de gestão de risco conta com os líderes de cada área de atuação da empresa e se reúne semanalmente.

A partir deste ano, o planejamento dos negócios e a remuneração variável dos executivos passam a seguir conceitos de um modelo de gestão denominado valor econômico adicionado (EVA, na sigla em inglês), cujo objetivo é mais do que gerar lucro, é remunerar o capital empregado na operação. O sistema termina de ser implantado neste segundo semestre.

Para o público externo, desde o ano passado, a área de relações com investidores ampliou as informações para ajudar o mercado a compreender melhor o negócio, aumentando sua previsibilidade.

O balanço anual e os trimestrais passaram a ser publicados no formato de uma “carta financeira”, que inclui projeções de resultado e operacionais. Para o quarto trimestre do ano fiscal de 2010 (encerrado em março), a companhia estreou ainda a divulgação de uma “prévia” dos números.

“Temos feito melhorias, mas ainda não estamos no estado ideal”, ponderou Martins. “Isso é um processo, e estamos constantemente em busca de avanços.”

O próximo passo será a realização do dia da empresa, ou “Cosan Day”. No fim de setembro haverá uma reunião com investidores em São Paulo e, no começo de outubro, em Nova York.

A companhia quer investir no diálogo e na aproximação com os investidores, disse. Além de eventos coletivos, a ideia é ter mais encontros individuais com investidores, com visitas às atividades da empresa no Brasil.

A Cosan, principalmente após confirmar a associação com a Shell, tem potencial para ganhar destaque no Índice Bovespa. A expectativa é que o apetite do estrangeiro pelo negócio aumente, após o acordo com a Shell, uma espécie de indicador da governança da empresa, tanto interna quanto externa, já que carrega junto parte da imagem da multinacional.

Atualmente, ela tem participação de 0,85% na principal carteira do mercado. Contudo, até mesmo para esse avanço, a extinção da Cosan Limited contribuiria, pois a holding estrangeira concentra cerca de um terço da liquidez total – somando Nova York e Brasil.

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