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Contra parecer técnico, governo eleva mistura de álcool na gasolina para 25%

Sob intensa pressão dos usineiros, o governo decidiu ontem elevar de 20% para 23% o percentual de mistura de álcool anidro na gasolina. A alteração foi recebida como um “agrado” ao setor pelo apoio emprestado à campanha de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A concessão foi reforçada pela intervenção direta da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, segundo informaram membros do Conselho Interministerial do Açúcar e do Álcool (Cima), responsável pela determinação da mudança a partir de 20 de novembro.

O ministro da Agricultura, Luís Carlos Guedes Pinto, era contra a mudança. Parte dos técnicos do governo também era, sobretudo por causa do histórico recente de descumprimento de acordos pelos usineiros.

No início de 2003 e neste ano, ainda sob a gestão do ministro Roberto Rodrigues, os usineiros não cumpriram acordos feitos para evitar aumentos de preços ao consumidor e eventual desabastecimento. Agora, às vésperas do período da entressafra, os preços já começaram a subir e devem superar R$ 1 nas usinas. No início deste ano, o preço chegou a R$ 1,30.

Em documentos, palestras e demonstrações internas no governo, os usineiros se comprometeram a garantir preço e abastecimento. Para evitar surpresas, porém, o governo fará uma nova avaliação da safra a partir da próxima semana. Se houver sinais de elevação de preços ou crise há possibilidade de reverter a decisão, apurou o Valor.

Em diversas reuniões na Casa Civil, os especialistas alertaram para um aumento de 700 milhões de litros nas exportações, a elevação do consumo por causa da maior produção de carros com motor bicombustível (flex), o crescimento da produção de açúcar e, ainda, a redução na produtividade das lavouras. Esses pontos poderiam deixar a oferta de álcool mais ajustada à demanda justamente num período da entressafra, que se estenderá até o fim de abril.

Além disso, os técnicos indicaram que os estoques de passagem, estimados em 5,1 bilhões, deixariam pouca margem de manobra em caso de aumento de preços ou uma crise no mercado. Sem mudanças, avaliaram os técnicos, haveria uma chance maior de entrar na próxima safra sem problemas. “Os técnicos do Cima avaliaram que a perspectiva de abastecimento na entressafra está muito tranqüila”, afirmou em nota o diretor do Departamento da Cana-de-Açúcar e Agroenergia, Angelo Bressan Filho. “É ambientalmente mais vantajoso e também deve provocar uma pequena redução no preço final da gasolina”, acrescentou.

A elevação do percentual da mistura provocará uma demanda adicional de 60 milhões de litros por mês até abril de 2007. No total, a medida resultará num acréscimo de 360 milhões de litros na demanda. A produção total de álcool deve chegar a 17,8 bilhões de litros neste ano. As exportações devem atingir 2,6 bilhões.

Com a alteração, o governo estima um estoque de 614,3 milhões de litros em maio de 2007. Antes, calculava um estoque em 921,2 milhões de litros. Em 1º de outubro, os estoques nas usinas somavam aproximadamente 5,1 bilhões de litros de álcool, segundo informou Angelo Bressan Filho.

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