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Contra o etanol

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Na Rio 92, o governo brasileiro encontrou a melhor maneira de fazer propaganda de uma energia renovável bem nacional: os carros oferecidos às autoridades eram todos movidos a etanol. Funcionou.

De lá para cá, a tecnologia do etanol também funcionou. Tudo melhorou. A produção de cana tornou-se mais eficiente e sustentável, inclusive com a progressiva eliminação do penoso corte manual, as usinas são mais produtivas, o etanol gera mais energia, sendo, pois, mais econômico, e, ponto forte, o motor flex é um marco tecnológico. Também se começou a produzir energia a partir do bagaço da cana, processo duplamente sustentável. O Brasil tornou-se exportador de todo esse complexo.

Mas na Rio+20, nem a presidente Dilma vai de carro a álcool. Ainda na quinta-feira, a presidente defendeu o etanol brasileiro, mas o fato é que isso está em baixa no Brasil, e não é de hoje.

Boa parte dos ambientalistas, locais e estrangeiros, não gosta do etanol brasileiro. Há três broncas principais: a cana vem da Amazônia desmatada; é produzida com trabalho escravo; e reduz a produção de alimento.

Vamos supor que fosse verdade para toda a produção brasileira, atual e antiga. Mesmo assim, o etanol continuaria sendo energia verde e renovável. Melhor que gasolina, por exemplo. Ou seja, o problema estaria no modo de produção, que sempre pode ser corrigido e melhorado, do que no produto. E, de todo modo, deveria ser condenado apenas o etanol produzido na Amazônia e com trabalho escravo.

Mas as broncas não têm fundamento. Não aquelas, pelo menos. Começa que a maior parte desse negócio está no Estado de São Paulo e em outras regiões muito distantes da Amazônia. As condições de trabalho na cana têm melhorado claramente. E não tem faltado açúcar.

Resumindo, o agronegócio brasileiro tem condições de produzir etanol e açúcar em condições mais do que razoáveis, em padrões internacionais. E a indústria pode entregar os carros flex.

Aqui aparece a verdadeira bronca. Tem muita gente que detesta o agronegócio – coisa de usineiro – e os carros. É pura ideologia anticapitalista. De um modo ou de outro, mesmo com a defesa explícita da presidente Dilma, o governo dela trabalha como se fosse para atrapalhar o etanol.

Em 2011, por exemplo, o consumo de combustível derivado de petróleo aumentou 19% no Brasil. O de etanol caiu 29%. Culpa do governo, que manteve estável o preço da gasolina e ainda reduziu o imposto (a Cide) para manter barato o litro na bomba. O uso do etanol só é vantajoso quando for 70% do preço da gasolina. Mantido baixo o preço desta, o etanol também cai e deixa de ser rentável para o produtor. Cai a produção.

Na semana passada, a diretora gerente do FMI, Christine Lagarde, retomou a proposta de taxar a poluição. O produto gerado com maior emissão de carbono tem de ser mais caro. O custo ambiental precisa estar no preço, justamente para desestimular o uso.

O jeito mais simples de fazer isso é cobrar impostos sobre a emissão. Resumindo, a gasolina deveria ser super taxada e o etanol, totalmente isento. Há países que não têm alternativa à gasolina. Não há oferta suficiente de etanol e carros com esse combustível. Mas, o Brasil tem – e faz o contrário.

A bronca com os usineiros e os carros termina em consumo de gasolina e automóveis mais poluidores. Termina também com a importação do etanol de milho dos EUA, menos eficiente e menos sustentável que o brasileiro.

Vai ver que estão preparando a demanda para o petróleo do pré-sal. Mas se for isso, poderiam ao menos parar com essa falsa conversa ambiental. E mais: o mundo inteiro está pesquisando como produzir mais etanol, de diferentes fontes. O mundo demanda esse combustível. O Brasil está perdendo seu lugar nessa corrida tecnológica.

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