A ocorrência do evento climático El Niño traz incremento para os preços do açúcar, mas os efeitos sobre a oferta total podem ser suavizados por vários fatores locais de cada país, diminuindo o potencial de alta. “Os preços do açúcar dificilmente devem voltar a reagir de forma intensa ao fenômeno climático antes de este já estar totalmente estabelecido”, afirma o analista de açúcar, João Paulo Botelho, em estudo divulgado pela consultoria INTL FCStone.
Para o Brasil, país responsável por mais de 20% da produção global do adoçante, o impacto seria sentido sobre as duas safras. Enquanto no Centro-Sul a maior precipitação no inverno levaria a maiores dificuldades para realizar a colheita da cana, majoritariamente mecanizada, no Nordeste a seca durante a entressafra local prejudicaria o desenvolvimento da cana, diminuindo a produtividade agrícola.
Apesar disso, a consultoria pondera que as características do setor sucroenergético do país podem suavizar os efeitos de intempéries climáticas sobre a moagem total da safra. Com isso, seria necessário um volume muito grande de chuvas durante a temporada mais seca do ano para prejudicar significativamente a produção de açúcar.
Ao diminuir o volume de chuva durante as monções (período de desenvolvimento cana) e torná-las mais irregulares, o El Niño também diminuiria a produtividade dos canaviais indianos, apesar dos efeitos incertos. “As culturas concorrentes da cana têm maiores custos por hectare ou são mais sensíveis a intempéries climáticas, o que pode levar a aumento da área canavieira em caso de perspectiva de El Niño intenso”, destaca Botelho. A consultoria avaliou que o país asiático teria “médio” impacto absoluto na produção.
Já no sudeste asiático, a Tailândia (assim como ocorreria na Índia), também poderia sofrer com as chuvas abaixo da média durante a entressafra. Apesar disso, o setor sucroenergético do país é capaz de manter nível elevado de moagem total mesmo depois de entressafra relativamente seca, como ocorreu em 2014/15.