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Contenção de preço de combustíveis traz mais perdas e distorções que benefícios

Desde os idos de 1985 a 1989, o setor sucroenergético não era tão afetado, como agora, pela política distorcida de preço dos combustíveis.

A diferença é que naquele período a moagem média de cana era de 223 milhões de toneladas, ante os cerca de 600 milhões atuais.

No passado, houve pouca repercussão internacional a esse tipo de ação, pois a participação do Brasil no mercado mundial de açúcar era reduzida -em 1990, representava somente 4%.

O impacto atual é muito maior, para o Brasil e o resto do mundo. Em 2010, a participação brasileira nas exportações mundiais foi de 51%, mas em 2011 já caiu para 45%.

Os preços defasados dos combustíveis controlados, principalmente da gasolina, afetam em primeiro plano a Petrobras, ao diminuir a geração dos recursos necessários para execução do seu plano de investimentos.

Mas os preços defasados da gasolina têm afetado também o setor sucroenergético, desestimulando a produção de etanol ao estabelecer um teto artificial de preço.

Isso ocorre enquanto a demanda potencial por etanol é elevada e crescente nos mercados interno e externo.

No mercado interno, o potencial é considerável pela dimensão atingida pela frota flex, capaz de usar etanol hidratado, que já representa mais de 50% da frota total.

No mercado externo, o potencial também é grande, em particular agora que caíram as barreiras para a exportação de etanol ao mercado norte-americano.

Para atender o mercado mundial, os produtores brasileiros estão cada vez mais preparados para exportar etanol com certificação de sustentabilidade. Apesar disso, o Brasil perde terreno.

Em 2006, os EUA superaram o Brasil como maior produtor de etanol. Em 2011, superaram-no também como maior exportador (4,5 bilhões de litros, ante 1,97 bilhão).

Além de preços defasados, o governo também errou ao reduzir a mistura de etanol anidro à gasolina, de 25% para 20%, a partir de outubro.

Obrigou a Petrobras a importar gasolina a preços mais elevados que os do mercado interno, em volume superior à equivalente redução da mistura, pois a produção interna caiu pela necessidade de se produzir gasolina com maior octanagem para compensar a redução do teor de etanol.

Essa medida foi mais um fator de desestímulo no momento em que a indústria havia se preparado, com produção e importações, para suprir o mercado interno.

Resultado: os produtores adicionam água ao etanol anidro que deveria estar sendo misturado à gasolina, vendendo-o como hidratado.

A experiência anterior mostra que a contenção artificial do preço tem efeito temporário e traz mais distorções e perdas no longo prazo do que benefícios.

Para o setor sucroenergético, o desestímulo a investimentos representa mais uma oportunidade perdida e uma chance para que produtores de outros países avancem.

PLINIO NASTARI, mestre e doutor em economia agrícola, é presidente da Datagro Consultoria.

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