Mercado

Consumidores devem impulsionar Japão

O mais recente relatório do governo japonês sobre a economia do país foi o mais positivo desde o estouro da bolha da década de 90, e a avaliação oficial quanto à recuperação da economia em julho foi promovida de “firme” para “sólida”. Em um reflexo da melhora das condições financeiras para os domicílios japoneses, as estimativas são agora de que o consumo no país suba 2,6% em termos reais no ano fiscal de 2004, ante a previsão de 1,1% de crescimento anual divulgada em janeiro.

A despeito da crescente confiança das autoridades, continuam a haver dúvidas quanto à capacidade de sustentação desse aumento no consumo, o principal fator contribuinte para o PIB (Produto Interno Bruto) japonês, dada a tendência de envelhecimento e queda da população do país. O consumo na verdade se beneficiará das mudanças sociais e demográficas previstas para o Japão na próxima década e desempenhará um papel cada vez mais importante na sustentabilidade da recuperação econômica.

O Japão está passando por uma mudança geracional de cultura, que implica substituir o espírito de poupança instalado depois da Segunda Guerra Mundial por uma disposição maior ao consumo. Como resultado, o consumo vem crescendo, no longo prazo, e agora responde por 57% do PIB do Japão, ante a marca de 70% que representa no PIB norte-americano e a probabilidade é de que essa tendência se mantenha.

As mudanças no quadro demográfico representam um risco menor para o crescimento do consumo do que muitos parecem imaginar. Ainda que a população do país como um todo deva começar a cair por volta de 2007, a população em idade de trabalho se manterá estável ainda por um período considerável e o número de pessoas com mais de 25 anos de idade só começará a cair em 2014. O crescente número de aposentados ajudará a estimular a economia, à medida que começar a gastar o capital acumulado em toda a vida e os pagamentos que receberão em suas aposentadorias. A geração grisalha do Japão já está começando a exercer impacto sobre a economia, por exemplo na compra de bens de consumo sofisticados como TVs de plasma.

O consumo vem sendo igualmente estimulado na ponta oposta da tábua demográfica. O número de domicílios com apenas um morador e de domicílios sem crianças e com duas fontes de renda -grupos que tendem a gerar índices elevados de consumo per capita- está aumentando no país. Esses pessoas mais jovens e mais prósperas cada vez mais vêm optando por carros de preço mais alto e gastando parte maior de sua renda no aperfeiçoamento de suas casas, na tentativa de elevar sua qualidade de vida. Embora alguns consumidores ainda se mantenham cautelosos devido a preocupações quanto às suas aposentadorias, o ímpeto de gastar mais provavelmente se intensificará. Mesmo que a renda real comece a cair, com um total de 55% dos ativos financeiros dos domicílios, avaliados em US$ 14 trilhões, mantido na forma de divisas e depósitos de alta liquidez, e com mais US$ 11 bilhões em ativos sólidos como imóveis, os consumidores japoneses continuam a ter uma capacidade de consumo considerável. Com quase 50% desses ativos controlados por pessoas com mais de 65 anos, é igualmente provável que o patrimônio das gerações mais jovens venha a ser ampliado com heranças.

As mudanças no sistema tributário que entraram em vigor no ano passado ampliarão de forma significativa o impacto dessa transferência de riqueza. Enquanto no passado apenas o primeiro milhão de ienes (cerca de US$ 9.000) de um espólio estava isento de impostos de herança, agora a isenção foi ampliada para 25 milhões de ienes. O mercado da habitação já começa a se beneficiar dessa transferência antecipada de fundos dos pais para os filhos. Essas mudanças servirão para sustentar o consumo ao encorajar as gerações mais jovens a começar a gastar dinheiro mais cedo e, até mesmo, a contrair dívidas.

Embora as preocupações quanto às aposentadorias e quanto a mudanças nos impostos sobre a renda e o consumo possam abalar a confiança e os gastos dos consumidores, o consumo como maneira de melhorar a qualidade de vida é uma tendência que chegou ao Japão para ficar. Com a comprovada persistência dos hábitos de consumo, um grande fundo de capital em forma de poupança que pode ser utilizado e o impacto positivo do envelhecimento da população -tanto em sua condição de consumidores quanto como fonte de renda adicional para as gerações mais jovens-, é altamente provável que o consumo continue crescendo.

Com os comentaristas de mercado prevendo desacelerações econômicas nos Estados Unidos e na China, e com o aumento dos riscos políticos tanto internos quanto internacionais, a boa notícia é que o consumo servirá de sustentação para a recuperação da economia japonesa. Presumindo que as reformas políticas e econômicas continuem avançando e que não surjam choques sérios, os gastos dos consumidores desempenharão papel ainda mais positivo para acelerar o retorno do Japão a uma posição de força na economia.

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