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Consumidor reduz compra de açúcar, mas usina investe

Ele engorda, dá cáries e, dizem, até vicia. Por essas e outras, o açúcar é o vilão da vez para o consumidor brasileiro. Tanto é que, desde 2007, as vendas do produto têm caído nos supermercados. Mesmo assim, grandes grupos sucroalcooleiros estão investindo milhões para ensacar e vender o tradicional açúcar refinado no varejo nacional. Um deles é a paulista Colombo. Dona do açúcar Caravelas, vice-líder de mercado, a empresa anunciou que vai destinar cerca de R$ 300 milhões para a construção de uma nova usina em São Paulo para ampliar sua presença nas prateleiras. Até companhias estrangeiras, como a Olam, com sede em Cingapura, planeja erguer uma fábrica no país, com aportes também de R$ 300 milhões.

Por mais contraditório que pareça, para esses grupos, o varejo de açúcar no Brasil continua valendo a pena por um simples motivo: ele abre portas para as vendas às indústrias de alimentos e bebidas, o maior filão das usinas do setor. “A dona-de-casa consome menos açúcar em casa, mas em compensação come mais fora do lar”, diz uma fonte do setor.

Assim como o brasileiro que vai ao supermercado, a indústria põe na balança certos atributos na hora de se decidir por um fornecedor. Para o consumidor, segundo o instituto de pesquisas de mercado LatinPanel, o atributo que pesa mais na hora da escolha é a marca. O mesmo acontece com a indústria, segundo especialistas desse mercado. “As indústrias de alimentos e bebidas trabalham com um enorme leque de usinas como clientes, mas compram das que têm tradição neste setor”, afirmou, em sigilo, um usineiro.

Nesta safra 2009/10, a produção nacional de açúcar está estimada em 35,1 milhões de toneladas. Deste total, cerca de 24 milhões de toneladas – ou 68% do total – terão como destino o mercado externo. Outros 7 milhões de toneladas (20% da produção) vão para a indústria de alimentos e bebidas. Cerca de 2,2 milhões de toneladas, ou 6% do total, para as gôndolas, segmento em que a margem de lucro líquida é bem mais baixa, girando em torno de 2% a 4%. O restante, cerca de 2 milhões, é ensacado como cristal, para atender nichos de mercado, sobretudo no Nordeste.

“A margem do açúcar para o varejista também é muito baixa. Por isso a gente não prioriza o produto”, diz Emílio Bueno, presidente da rede de supermercados Econ, com cerca de 30 lojas na Grande São Paulo.

“Se o supermercadista dá 20% de desconto no produto, o consumidor nem percebe, uma vez que o custo unitário é baixo”, acrescenta Martinho Paiva Moreira, vice-presidente da Associação Paulista de Supermercados (Apas). Além disso, segundo ele, o açúcar não está com m! uito prestígio junto à clientela. “O consumidor tem mostrado até uma certa vergonha na hora de colocar o saco de açúcar no carrinho”, explica Moreira.

É por isso, segundo a Nielsen, que o açúcar já não atrai mais tantas donas-de-casa. De janeiro a julho passado, o volume comercializado de açúcar nos supermercados recuou 6,7% na comparação com o mesmo período do ano passado. “Essa onda de vida saudável tem afastado os consumidores do açúcar. E como a renda tem subido para algumas camadas sociais, muita gente migrou para produtos dietéticos, que custam mais caro”, diz Filipe Abolafio de Souza Silva, coordenador de pesquisas especiais da Nielsen.

Essa migração do açúcar para alternativas consideradas mais saudáveis tem beneficiado também outros tipos de açúcar, como o mascavo e o orgânico. Nos primeiros sete meses deste ano, o mascavo (cor de caramelo, não refinado) teve alta nas vendas ao varejo de 4,05%. O orgânico (que não utiliza agrotóxico em nenhuma etapa do cicl! o de produção e é cerca de 30% mais caro que o convencional), por sua vez, disparou 56,63%.

Líder nas vendas de produtos orgânicos, o grupo Balbo, dono da marca Native, foi o pioneiro neste segmento no país. Leontino Balbo Júnior, diretor do grupo, diz que este tipo de produto já é bem aceito na Europa e nos Estados Unidos e cresce também no Brasil. “A resposta do consumidor tem sido muito rápida”, diz.

Do mercado total de açúcar no varejo do país, o mascavo representa só 0,4% e o orgânico, menos ainda: 0,1%. Já o refinado tem 45,7% das vendas e o cristal lidera com 53,8%.

“A produção de açúcar orgânico no país gira em torno de 2 mil toneladas”, afirma Balbo.

De qualquer maneira, mesmo em queda, o mercado varejista de açúcar não pode ser desprezado. “Essa ainda é uma categoria destino, ou seja, o açúcar faz parte daquele grupo de produtos que, quando falta, faz o consumidor sair de casa para ir ao supermercado”, diz o vice-presidente da Apas. Prova disso é a presença do item nos lares brasileiros, uma das mais altas do mercado: 99,3%, conforme a LatinPanel.

Sem contar também que o açúcar – apesar de todas as dietas e regimes – ainda é um dos poucos produtos alimentícios que movimentam mais de R$ 2 bilhões em vendas anualmente. Este ano, como os preços nas gôndolas já subiram 16,4% entre janeiro e julho, o faturamento pode ser ainda maior que o do ano passado, fechado em R$ 2,035 bilhões. A alta nos preços do açúcar é reflexo da valorização da commodity no mercado internacional, que neste ano acumula valorização de 104% na bolsa de Nova York, por conta da produção mundial menor.

De olho nesses bilhões, o grupo Colombo, com três usinas no país (uma delas inaugurada este ano), está em processo de aprovação de sua licença ambiental para a construção da quarta unidade, segundo Sidinei Colombo, diretor-geral da companhia sucroalcooleira. Além da marca Caravelas, a empresa comercializa em mercados regionais a marca Colombo. “Também vendemos açúcar para redes como Carrefour, Pão de Açúcar e Wal-Mart para marcas próprias”.

Já a Olam ainda depende de aprovação da matriz da empresa, em Cingapura, para construir sua usina de açúcar no país a partir de 2010 e entrar no varejo, afirmou Marcelo Pedro, presidente da companhia no Brasil, em recente entrevista ao Valor. Para a empresa, que compra açúcar no Brasil para exportar (o país é o maior produtor e exportador de açúcar), o varejo pode ser importante para os negócios no mercado interno.

O grupo Cosan comprou em abril, por meio de troca de ações, a Nova América, líder de mercado com a tradicional marca União. A incorporação da empresa foi concretizada em junho e permitirá à Cosan – dona da marca Da Barra, a terceira mais vendida – avançar ainda mais neste segmento. No ano que vem, a companhia, considerada a maior de açúcar e álcool do país, deverá preparar uma grande campanha nacional ! para comemorar os 100 anos da marca União. A empresa, que também já negocia açúcar orgânico, deverá se dedicar mais a este produto, afirmou uma fonte da companhia.

Correndo por fora, a Açúcar Guarani não pretende fazer grandes investimentos neste segmento, por conta das baixas margens, segundo explicou Jacyr Costa, presidente da companhia no país. Controlada pelo grupo francês Tereos, a usina tem boa participação no varejo com a marca Guarani no interior de São Paulo e também no Rio de Janeiro, sobretudo no interior do Estado. Segundo Costa, a meta é priorizar as vendas para as indústrias de alimentos e bebidas e também ao mercado externo.

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