A 9ª Conferência DATAGRO & CEISE Br, que marcou a abertura da 28ª edição da FENASUCRO & AGROCANA, apresentou um panorama geral do setor, com números, expectativas e desafios.
O presidente da consultoria, Plínio Nastari, apresentou números que mostram a grandiosidade da indústria da bioenergia, que foi se adaptando ao longo das décadas, com estímulos à eficiência energética.
De acordo com Nastari, que apresentou uma timeline da evolução da sustentabilidade da cana, setor que envolve diversas atividades econômicas, “a agricultura energética pode aumentar significativamente a oferta de bioenergia sem afetar a oferta de alimentos.
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“É muito relevante o que a gente já conseguiu fazer, substituindo 47% da gasolina por etanol. E outros países estão perseguindo esse mesmo objetivo. Nós já economizamos 1/4 das nossas reservas de petróleo desde 2000 até 2021 com a substituição de gasolina por etanol. Uma economia de divisas entre 1975 e 2021 equivalente a 281,5 bilhões de dólares sem considerar o custo da dívida externa”, informou Nastari.
Segundo ele, o etanol e o biometano podem ser entendidos como hidrogênio envelopado na forma de combustíveis, práticos, fáceis, seguros, eficientes e econômicos de capturar, armazenar e distribuir.
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“As usinas foram pensadas inicialmente para serem grandes moedoras de cana por meio da combustão. O maior aproveitamento da cana, no entanto, fez com que sua produção saltasse de 7,1 milhões de toneladas de açúcar em 1975 para 94,4 milhões de toneladas, retrocedendo recentemente, por causa da crise hídrica, para 81,5 milhões. Ou seja, a indústria se modernizou, pensando em uma energia cada vez mais limpa e sustentável”, destacou.
Atualmente, o estado de São Paulo reúne a maior quantidade de unidades produtoras de etanol e é o maior consumidor da agroindústria canavieira. Cenário que eleva a competitividade nas bombas e move a economia do setor.
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Além disso, Nastari disse que o potencial pode ser ainda maior, devido à integração de diferentes culturas, e a recuperação de solos degradados, tudo para tornar o estado ainda mais competitivo.
Nastari falou também da virtuosidade do RenovaBio e da rota de diversificação da cana que passa pelo açúcar, etanol bioeletricidade, etanol 2G, bioplástico, biogás e biometano, pellets de bagaço, integração etanol de milho, levedura de fermentação, captura de CO2, bioquímica.
“O RenovaBio é virtuoso, porque estimula o índice de eficiência energética ambiental. Nós avaliamos o aumento da nota de eficiência do RenovaBio, das empresas que fizeram a certificação no início do programa, até agora no segundo semestre de 2022. E houve uma média de crescimento de 3,3%, que se traduz em redução de custos e redução de preços ao consumidor”, explicou.
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Evandro Gussi, presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (UNICA), disse que “esta semana as três montadoras que representam 50% dos veículos produzidos no Brasil, disseram que graças ao RenovaBio, nós sabemos a curva de intensidade de carbono que a gente vai ter nas próximas décadas, e conseguimos planejar os nossos investimentos”.
Em sua palestra, ele ressaltou a importância de o setor trabalhar com horizonte estratégico de longo prazo.“Esta indústria não vai acabar, porque esse setor ao lado de toda a economia circular, de toda tecnologia, de toda sustentabilidade, é resiliente como a cana. Temos que ter em nosso horizonte um posicionamento claro. Precisamos estabelecer uma prateleira de oportunidades para o futuro. Porque o elemento mais fundamental do mercado, que é a demanda, nós já temos e não precisamos mexer uma palha nesse sentido, porque isso o mundo está falando todos os dias. O que precisamos é propósito, visão estratégica e muito trabalho. Vamos olhar para a frente e garantir o match desse processo”, afirmou.
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O presidente do Fórum Sucroenergético e da Siamig, Mário Campos, destacou a capacidade de reação das lideranças do setor para defender os interesses deste etanol, em meio às mudanças tributárias provocadas pela PEC dos combustíveis, principalmente em relação às alíquotas de ICMS.
“Foram quase 20 anos de trabalho para aplicar essa diferenciação de imposto entre o álcool e a gasolina e de repente, a partir de junho deste ano, em menos de 20 dias tudo mudou. Por isso, foi muito importante essa capacidade de mobilização das lideranças do setor”, disse.
Na ocasião, “a paridade pela média ponderada antes da mudança era de 67,8% com 4 estados dentro da paridade pró consumo de etanol que representavam 78,67% do consumo de etanol hidratado no Brasil. Ou seja, o etanol é um produto muito consumido aqui na nossa região, porque nós produzíamos e também por que criamos esse diferencial tributário ao longo do tempo”, afirmou. Campos.
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Lembrando que esse diferencial de tributos também existia no campo federal com o PIS/Confins. “O etanol tinha uma carga tributária de 24 centavos e a gasolina de 169 centavos. Aí vieram as mudanças com a lei que estabeleceu para o ICMS uma alíquota geral, alguns estados era 17% e outros 18% e o PIS/Confins foi zerado até 31/12.
Porém graças a articulação das lideranças, o setor conseguiu sugerir uma emenda, que culminou na Emenda Constitucional 123. “Ela trouxe um negócio muito interessante para nós. Primeiro, colocou o etanol, os biocombustíveis no capítulo do meio ambiente da nossa Constituição. E nos garantiu, até que uma lei complementar sobre o tema seja aprovada, 20 anos com a relação de tributos equivalentes a maio deste ano, antes de todas essas mudanças tributárias. E assim os Estados passaram a reduzir a alíquota em relação ao etanol”, explicou Campos ao traçar o atual retrato tributário do setor.