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Comprador de usina encara preço 147% maior

Só nos três primeiros meses deste ano, o setor de açúcar e álcool do País registrou quatro aquisições concluídas. O número praticamente se iguala com o total registrado nos anos de 2004 e 2005, com cinco aquisições cada. Mas a grande procura por usinas à venda fez o preço dos ativos disparar, o que leva o grupo Cosan a acreditar em uma segunda fase de consolidação do setor.

Maior produtora de cana-de-açúcar do mundo e maior consolidadora do mercado de açúcar e álcool brasileiro, a Cosan interrompeu uma estratégia agressiva de aquisições em razão da elevação do preço das usinas, mas agora acredita que os preços dos ativos do setor devem cair, junto com os preços do açúcar.

Mas esse processo parece ainda não ter começado. Considerando as quatro aquisições anunciadas no primeiro trimestre, a Cosan calcula que o preço médio dos negócios tenha ficado em US$ 99,50 por tonelada de capacidade de moagem da usina.

Nas suas quatro últimas aquisições, entre os meses de abril de 2005 e abril de 2006, a Cosan pagou em média US$ 40,20 por tonelada de capacidade das indústrias que comprou. Ou seja: em cerca de um ano, o valor que um comprador precisa desembolsar para levar uma usina subiu 147%.

Na verdade, a própria Cosan ajudou a elevar a média de preços deste primeiro trimestre com sua oferta de mais de US$ 1 bilhão pela Companhia Açucareira Vale do Rosário, de Morro Agudo (SP). O negócio não foi concretizado com a Cosan porque os minoritários da Vale exerceram o direito de preferência sobre a venda de ações e compraram a empresa pelo valor oferecido pela Cosan.

Mas a hipótese de novas aquisições está longe de ser descartada pela Cosan. “O custo das aquisições está nas nuvens, mas deve cair acompanhando a queda nos preços do açúcar. Estamos esperando um momento difícil no setor”, afirma o vice-presidente financeiro do grupo, Paulo Diniz. Os altos preços da commodity no ano passado estimularam o aumento da produção, o que está levando a um quadro de maior oferta mundial.

“O açúcar está saindo de uma situação de déficit para superávit na relação mundial de oferta e demanda”, pontua o consultor Gil Barabach, especialista nos mercados de açúcar e álcool da consultoria Safras & Mercado. No primeiro semestre de 2006, a cotação do açúcar na Bolsa de Nova York chegou próximo de 20 centavos por libra-peso, e agora está em 9,80. Segundo o consultor, trata-se de uma “acomodação” à nova realidade do mercado.

Com o início de uma segunda fase de aquisições no setor sucroalcooleiro, a Cosan prevê que até 2013 os cinco maiores produtores do mercado dominem 80% da produção nacional, projetada em 670 milhões de toneladas naquele ano. Atualmente, os cinco maiores grupos de usinas dominam apenas 17% da produção nacional. “Em comparação com outros setores, vemos que o segmento de açúcar e álcool ainda é muito pulverizado, o que o torna propício à consolidação”, avalia Diniz.

Construir para crescer

O alto custo para realizar novas aquisições levou a Cosan a decidir por realizar o seu primeiro investimento greenfield (construção de usinas novas) para não parar de crescer. O grupo confirmou ontem um investimento de US$ 650 milhões para construir três usinas em Goiás, nos municípios de Montividiu, Jataí e Paraúna.

A capacidade de moagem total do projeto será de 10 milhões de toneladas de cana, o que leva o custo por tonelada de capacidade a US$ 65, bem abaixo dos US$ 99,50 praticados pelo mercado de usinas já existentes mas bem acima do antigo custo de aquisições da companhia.

“Com a estabilização do preço internacional do açúcar próximo ao patamar histórico, o preço das usinas deverá cair, mas nunca voltará ao que era há dois anos porque existe uma demanda muito maior pelos ativos”, prevê Barabach. Pela média histórica, o açúcar tende a se estabilizar entre 8 e 9 centavos por libra-peso.

Outro grande investimento da Cosan será feito no aumento da capacidade de suas unidades. O custo de ampliações será de US$ 501 milhões nos próximos quatro anos. Somado ao projeto de Goiás, ao investimento de US$ 448 milhões na co-geração de energia a partir da queima do bagaço e a aplicações menores, a Cosan planeja investir US$ 1,7 bilhão nos próximos quatro anos.

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