JornalCana

Commodities ameaçam meta do BC

Ficou ainda mais difícil para o Banco Central (BC) cumprir a meta de inflação deste ano, de 5,1% – já estendida para acima da faixa de 4,5% definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) -, depois que surgiram, nas últimas semanas, novas pressões de preços de importantes commodities, como petróleo, cobre , soja e milho.

O cenário inspira preocupação, concordam economistas.

Eles lembram também que o efeito da valorização do real ante o dólar nos últimos meses, ainda que tenha tido impacto reduzido para aliviar os índices de inflação, não vai se repetir.

Nas contas do economistachefe do Banco Pátria, Luis Fernando Lopes, o BC teria de elevar a taxa básica de juros (Selic) de 19,25% para 22% ao ano se quiser atingir a meta de inflação. Só em 2000 foi possível acertar o centro da meta, observa. Segundo ele, a meta de inflação deste ano é excessivamente ambiciosa.

Lopes também pondera que a alta do petróleo e dos grãos, por conta da estiagem, além da valorização do dólar em relação ao real, terão reflexos no bolso do consumidor. Neste mês, o índice geral de preços em dólar das principais commodities agrícolas e metálicas exportadas pelo Brasil aumentou 6,8% na comparação com fevereiro e 7,7% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo cálculos da MSConsult.

A consultoria constrói o indicador ponderado pela participação de cada item na pauta da balança comercial. O índice inclui as cotações de açúcar, café, suco de laranja, soja ( óleo, grão e farelo), frango, ouro, alumínio, estanho, aço, minério de ferro, celulose, papel e petróleo.

Só as cotações das commodities agrícolas, por exemplo, subiram em março 10,1% na comparação com fevereiro, puxadas pela disparada da soja (16,4%), do café (13,4%) e do suco de laranja (8,9%). Se nessa conta fosse incluído o milho, o salto seria ainda maior. Nas últimas três semanas, o preço do grão aumentou 22,6% no atacado em São Paulo.

O índice de preços das commodities não agrícolas, por sua vez, aumentou 3% este mês na comparação com fevereiro e foi impulsionado pelo petróleo, com alta de 15%, pelo alumínio (5,7%), zinco (5,6%), entre outros. O cobre, por exemplo, que não está nesse indicador, atingiu no dia 17 deste mês a maior cotação em 15 anos na Bolsa de Metais de Londres (LME). A tonelada do metal foi negociada por US$ 3.424,50. Não se trata de um desastre, mas a tendência é ficarmos mais distantes da meta, diz o sócio da MSConsult, Fábio Silveira. De acordo com o economista, as pressões são ainda localizadas, mas preocupam por que recaem sobre commodities que estão na base da cadeia de produção. Por conta de oferta apertada, a consultoria projeta que o preço médio do barril de petróleo no ano deve ficar 23% acima do anterior.

Com isso, observa Silveira, em algum momento as pressões vão se manifestar nos preços dos derivados do produto, como óleo diesel, gasolina e resinas plásticas.

O cenário começou a virar até mesmo para as commodities agrícolas, que até há um mês estavam em queda. A estiagem no sul do País causou perda nas lavouras de milho e reduziu as expectativas da produção de soja. Na média do ano, o preço do grão deve ficar entre 12% a 15% acima do de 2004, estima a consultoria. No caso da soja, a cotação já subiu 18% desde o fim de fevereiro. O quadro preocupa, diz o economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa.

Ele observa que a quebra da safra de milho tem efeito multiplicador sobre os preços porque afeta diretamente o custo de produção do frango que, por sua vez, arrasta outras carnes. No varejo, esse efeito ainda não apareceu, diz ele. No atacado, no entanto, o movimento de alta foi captado.

Na segunda prévia de março, o Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) ficou em 0,55%, ante 0,22% da segunda prévia de fevereiro. O indicador foi puxado pela aceleração dos preços no atacado, de 0,09% para 0,55%, sobretudo pela alta dos produtos agropecuários, que ficaram 2,17% mais caros no período.

Rosa destaca que o maior fator de pressão está no petróleo. Mesmo que o BC trabalhe com a expectativa de reajuste zero para a gasolina, conforme foi explicitado na ata da última reunião do Copom, o preço local dos combustíveis está abaixo da cotação no mercado internacional. Aumentou o risco, a inflação deste ano medida pelo IPCA está mais para de 5,5% a 6%, observa o economista-chefe da LCA Consultores, Luís Suzigan. Mas ele acredita que os fatores de pressão são transitórios e não devem levar a um descontrole da inflação. Ele concorda com os demais economistas que a alta das commodities não agrícolas preocupa mais do que a das agrícolas, especialmente por conta do crescimento da China, que está em fase de urbanização. Segundo ele, a safra de grãos do Centro-Oeste poderá compensar as perdas no Sul.

Inscreva-se e receba notificações de novas notícias!

você pode gostar também
Visit Us On FacebookVisit Us On YoutubeVisit Us On LinkedinVisit Us On Instagram