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Comissão quer órgão para setor sucroalcooleiro

A Comissão de Agricultura e Política Rural decidiu criar um grupo de trabalho para estudar a criação de um órgão regulador do setor sucroalcooleiro. A informação foi anunciada hoje, na conclusão do seminário “Políticas para o Setor Sucroalcooleiro e a Reestruturação do Proálcool”.

Livre Concorrência

A decisão, no entanto, não foi consensual durante o seminário. O presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Alagoas, Pedro Robério de Melo Nogueira, criticou a falta de uma política do governo para o setor e defendeu o modelo atual de livre concorrência.

Ele fez uma retrospectiva do setor desde a década de 30, quando o governo interveio no mercado para regular a oferta de açúcar no País e do produto destinado à exportação.

Segundo Nogueira, na década de 70 a intervenção estatal aumentou com as crises do petróleo, e o governo financiou a modernização do parque industrial sucroalcoleiro. Nos anos 90, teria havido uma mudança total da política oficial para o setor, com a extinção do Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA), a liberação dos preços e o incentivo à concorrência.

“O resultado foi o aumento da produção. Entre 1970 e 1978, o Brasil produzia cerca de 111 toneladas de açúcar, e hoje a produção nacional é três vezes maior”.

Consumo

Durante os debates, o presidente da Comissão de Energia e Meio Ambiente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Henry Joseph, disse acreditar que a tendência no futuro próximo é haver mais automóveis flexíveis – aqueles que funcionam com álcool ou gasolina – do que a frota de veículos só a gasolina. Ele ressaltou que, dos quase 27 mil veículos novos vendidos neste ano, 6.148 são flexíveis (flex fuel).

Joseph classificou como “infeliz” a declaração do diretor da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Luiz Augusto Horta Nogueira, que afirmou em audiência na Câmara que o carro a álcool polui mais que o movido a gasolina. Luiz Nogueira defendeu essa tese ontem, ao participar do seminário.

Os carros zero quilômetro movidos a álcool, segundo Joseph, realmente poluem mais quando saem da fábrica; no entanto, como os veículos a gasolina sofrem desgaste maior, no período de cinco anos os carros a gasolina se tornam mais poluidores. “No final, os carros a álcool poluem menos”.

Exportações

O presidente da Agroindústria Canavieira de São Paulo, Eduardo de Carvalho Pereira, reclamou que o Governo parece não demonstrar interesse no setor sucroalcooleiro. O industrial citou como exemplo o caso da Argentina, que sobretaxa o açúcar brasileiro em 21% e ainda conseguiu excluir o produto da pauta de negociações do Mercosul. “Também fiquei chocado em ver que o Brasil aceitou a exclusão do açúcar das pautas de negociações com a Alca e com a Comunidade Européia. Estou cansado de falar sobre o assunto em vários fóruns; é tudo para inglês ver”, desabafou.

O dirigente disse que o Brasil poderia dobrar as exportações de álcool nos próximos dois anos, passando dos 2 bilhões atuais para 4 ou até 5 bilhões de dólares (cerca de R$ 15 bilhões) no período. Pereira lembrou que hoje o setor sucroalcooleiro oferece um milhão de empregos diretos, e que poderia passar para dois milhões.

Planejamento

O secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Marcio Fortes de Almeida, afirmou que há necessidade de planejamento das exportações brasileiras de álcool. “O Brasil não tem capacidade para suprir a demanda mundial hoje”, disse.

O secretário informou que a produção nacional é de 12,5 bilhões de litros de álcool; a capacidade de armazenamento é de 9,45 bilhões de litros; e o consumo interno é de 11 bilhões de litros. “Teríamos apenas 0,8 bilhões para exportação e 0,7 bilhões para utilizar na indústria e em outros aplicativos do álcool”.

Almeida estima que só o Japão teria uma demanda de 5 bilhões de litros/ano. Ele afirma que, para o Brasil produzir o suficiente para atender ao mercado mundial, precisaria de no mínimo dois anos – o tempo de uma colheita – e de investimentos da ordem de 7,2 bilhões de dólares (cerca de R$ 21,6 bilhões) nesse período.

Também o coordenador-geral da Secretaria de Petróleo, Gás e Combustíveis Renováveis do Ministério de Minas e Energia, Ricardo Gusmão Dorneles, apontou o Japão como o mercado mais promissor para a exportação brasileira de álcool. Ele informou que uma comitiva japonesa está visitando o Brasil, interessada em conhecer o programa Proálcool e em importar o produto para adicioná-lo à gasolina.

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