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Combustível caro muda a rotina de motoristas em diversos países

Em todo o mundo, os motoristas vêm recorrendo a algumas medidas extremas para combater os preços altos do petróleo.

Os alemães estão abastecendo seus carros com óleo de aquecimento doméstico. Os poloneses cruzam a fronteira com a Ucrânia para comprar gasolina mais barata. Em um caso trágico, no Alabama, o proprietário de um posto de gasolina foi atropelado e morreu quando tentou impedir que um motorista saísse sem pagar pelo combustível.

Mas nem todos os consumidores são iguais quando se trata de preços da gasolina.

Na Europa, a gasolina já muito é mais cara do que nos Estados Unidos devido aos impostos mais altos usados para financiar projetos governamentais e para encorajar as pessoas a usar serviços de transporte coletivo.

Os consumidores pagam duas ou até três vezes mais que os norte-americanos pelo combustível. A desigualdade é agravada por salários freqüentemente inferiores à média norte-americana. Nos países em desenvolvimento, a situação é ainda mais difícil.

Os norte-americanos consideram que ir de carro onde e quando queiram é um direito básico, e dadas as deficiências no transporte público em boa parte do país, as autoridades dos Estados Unidos, no passado e no presente, evitaram impor custos mais altos de combustível aos seus contribuintes, sabendo que pagariam caro por isso nas eleições.

O governo também sabe que subsidiar os longos percursos que os americanos fazem em seus carros para chegar ao trabalho ou entregar produtos estimula a economia, o que permite que as receitas mais baixas com impostos sobre a gasolina sejam compensadas por arrecadação mais alta de impostos de renda e corporativos.

Na ponta oposta, os países europeus, com distâncias mais curtas e densidade populacional maior, têm interesse em cobrar mais das pessoas pelo direito a dirigir.

As economias européias dependem menos da cultura do automóvel para seu crescimento, e os impostos altos os ajudam a enfrentar o perene problema dos congestionamentos, bem como a cumprir os compromissos da região com a proteção ambiental.

Na Europa, impostos e taxas adicionais sobre os carros novos, uso de estradas e pedágios tornam ainda mais dispendioso se deslocar de carro. Na Noruega, por exemplo, um imposto de 100% sobre os carros zero duplica o que seria o preço básico de venda. Determinar até que ponto as medidas funcionam, no entanto, é questão bastante diferente.

“Nós aceitamos muita coisa”, fiz Egil Otter, da Associação Automobilística Norueguesa, sobre o alto custo do transporte por automóvel, que inclui preços de 11 coroas (R$ 4,11) por litro de gasolina. “Quando os custos de uso do automóvel sobem, as pessoas não dirigem menos. Preferem reduzir seus gastos em outras áreas.”

Com a alta do preço do petróleo, aumentaram os preços nas bombas, e os operadores de postos de gasolina estão atualizando suas tabelas de preços cada vez que o preço por barril muda. Na Holanda, um litro de gasolina custa o equivalente a R$ 3,44, ou US$ 1,42, mais do dobro do preço pago nos Estados Unidos.

Quase dois terços desse valor representam impostos e tarifas. Se as taxas fossem eliminadas, o litro de gasolina holandesa custaria menos de R$ 1,57, ou US$ 0,65.

Alemães, franceses, italianos, belgas, portugueses e britânicos pagam quase tanto por sua gasolina quanto os holandeses e uma vez mais os impostos respondem pela maior parte do preço.

Agravando o problema, os salários nesses países são quase sempre mais baixos do que nos Estados Unidos. Os prósperos suecos, por exemplo, têm renda per capita de 275 mil coroas, o equivalente a US$ 36 mil, ainda alguns milhares de dólares abaixo do ganho médio de um americano.

As coisas são ainda mais difíceis em outras partes do mundo.

No Haiti, o país mais pobre do hemisfério ocidental, a maior parte das pessoas sobrevive com menos de US$ 1 (R$ 2,42) por dia -mais ou menos o preço de um litro de gasolina, com os impostos respondendo por um terço disso.

“Se o preço da gasolina se mantiver elevado, jamais terei dinheiro para me casar e ter filhos”, disse Jean-Louis Pierre, 25, que ganha a vida embarcando a cada dia o maior número possível de passageiros em seu “tap-tap”, uma picape que ele usa como lotação.

Na fronteira

Embora medidas severas da alfândega tenham reduzido o contrabando de gasolina da Ucrânia e Romênia para a Hungria, os húngaros que vivem perto dos dois países costumam cruzar as fronteiras para encher os tanques de seus carros com o combustível mais barato à venda do outro lado -como fazem os alemães que vivem perto da Polônia e os poloneses que vivem perto da Ucrânia.

“Eu vou cerca de três vezes por mês”, disse Roman Grasse, motorista de táxi berlinense, sobre suas jornadas de 100 km até a cidade polonesa mais próxima, onde abastece seu carro.

Alguns motoristas ucranianos agora carregam latões de gasolina nos porta-malas de seus carros para vender na Polônia.

A polícia alemã começou a deter carros a diesel para verificar se não foram abastecidos com óleo de aquecimento doméstico -praticamente a mesma substância, mas tributada com alíquotas mais baixas.

No sudoeste da Suécia, a cidade de Trollhattan, que abriga uma fábrica da Saab, se tornou atração ainda maior para os donos de automóveis, porque uma guerra de preços entre postos reduziu o preço do combustível em 30%.

“A única coisa ruim são as filas de 30 ou 40 carros”, disse o motorista Stig Andreasson ao jornal sueco “Expressen”. “E quando você consegue chegar à bomba, às vezes a gasolina acabou.”

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