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Coluna panorama econômico

A velha máxima — sempre repetida pelo economista David Zylbersztajn — de que, a longo prazo, todas as previsões sobre petróleo estão erradas continua a fazer vítimas. Os especialistas não imaginavam que o preço do barril pudesse bater em quase US$80, e também não imaginavam que fosse cair a US$58. Tudo neste mercado está ligado a variáveis demais. Na terça-feira, a interrupção de fluxo num oleoduto do Alasca fez o preço subir um pouco. Mas ontem ele voltou a cair.

— Há três meses, disse numa entrevista que o petróleo estaria a US$55 no fim do ano. Ele vai continuar caindo, exceto em alguns momentos em que houver um contratempo — diz David.

Sempre haverá grandes movimentos de oscilação de preços por causa do mercado de papéis, o futuro de petróleo.

— Aqueles contratos de compra e venda não se realizam, 98% deles acabam se anulando no final, mas eles servem de indexador para o mercado à vista — diz.

As razões para a queda do preço são várias: há um pouco menos de incerteza, a vitória democrata nos EUA começa a abrir a possibilidade de se chegar, algum dia, à solução do conflito no Iraque. As possibilidades de produção de petróleo no Iraque são enormes. Ele precisa apenas de paz, produto que o país não tem nem no mercado à vista, nem no mercado futuro. A economia mundial está se desacelerando lentamente, e não houve a prevista temporada de furacões no Golfo do México. E tem mais:

— A Rússia tem aumentado sua produção e está quase passando a Arábia Saudita — lembra David.

Outro fator importante é a preocupação com o aquecimento global e o efeito no planeta do uso de combustíveis fósseis, que está aumentando o interesse por outras fontes de energia. Um petróleo muito caro, aumenta o interesse nessas fontes. Serve, assim, como um regulador do mercado.

A revista “Economist”, na edição desta semana, informa que os investimentos em energia limpa estão aumentando sensivelmente. Dobraram em dois anos: de US$30 bilhões em 2004, para US$63 bilhões este ano. “Isso é uma excelente notícia para a sociedade. Mais investimento privado em tecnologias verdes vai significar energia limpa mais barata, menos consumo de combustíveis fósseis e maior chance de reverter os riscos de mudança climática.” Como tudo o que é novo, às vezes, tem entusiasmo demais. Algumas das novas tecnologias demorarão a ser viáveis, alerta a revista.

Mas há uma contradição: quanto mais altos forem os preços da energia fóssil, mais atraentes são as fontes de energia menos poluidoras; mas, quanto mais houver investimento nessas novas fontes, mais chance há de que os preços do petróleo caiam. Claro que esse mercado responde a uma série de variáveis imprevisíveis, como os problemas nos países produtores, mas o custo da produção de energia limpa tem caído. O preço da eólica caiu à metade desde 1990 pela oferta de turbinas mais baratas e com capacidade maior de produção. Mesmo assim, a diferença de preço ainda existe entre as energias limpas e as poluentes. Usar gás é mais barato que a energia eólica. O carvão, a mais poluente das fontes, é também a mais barata. Segundo a “Economist”, isso só não é verdade em alguns países, como o Brasil, cujo etanol da cana-de-açúcar pode ser mais barato que muitas fontes tradicionais. Mas 49 países, segundo um estudo da Goldman Sachs, aprovaram a idéia de promover, cada vez mais, o uso de energia renovável, mesmo significando um custo maior para o consumidor, que pagará mais pelo produto ou diretamente, ou através de subsídio. “Mudança climática é um problema real, e a única saída é reduzir a distância entre os preços da energia fóssil e da energia alternativa”, diz a revista.

Há ainda a maneira de reduzir essa diferença cobrando mais imposto da fonte de energia que produz mais emissões de gases do efeito estufa. O Prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz, em artigo publicado no GLOBO, defendeu a idéia de que os governos aumentem a taxação sobre quem polui. Do ponto de vista econômico, os poluidores não estão pagando pelo dano que causam, diz Stiglitz.

O preço do petróleo vai continuar oscilando por vários fatores: as confusões de sempre nos países produtores; demanda mundial, que tem aumentado, mas pode reduzir o ritmo; preços competitivos de outras fontes de energia; aumento da preocupação com o aquecimento global, forçando empresas e países a investirem mais em outras fontes. É certo que o mundo tentará, com mais empenho do que já tentou, encontrar outras fontes. Atende a um pedido do contribuinte-eleitor que começou a mandar sinais, cada vez mais claros, para os governantes, de que são bem-vindas as iniciativas mais limpas. Num dos seus comícios para a vitória na reeleição, o governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, não foi nada sutil: “Eu sinto a energia, eu sinto a eletricidade. Energia limpa é o futuro.” Por frases assim, e decisões de incentivo à mudança do padrão de consumo e produção de energia na Califórnia, é que o governador está convencendo ambientalistas de que ele faz o papel de mocinho no filme da redução dos riscos enfrentados pelo planeta pelo uso descontrolado da energia fóssil.

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