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Colheita de cana crua faz voltar a cigarrinha

Uma praga mantida sob controle por muitos anos vem causando grandes estragos nas lavouras de cana-de-açúcar do Estado. A cigarrinha da raiz da cana encontrou na nova tecnologia de colheita sem queimada um ambiente propício. O problema tem atingido a área em que a colheita é mecanizada, cerca de 1 milhão de hectares em São Paulo.

Mas ainda não há estimativas exatas dos prejuízos. A Usina Colorado, de Guaíra, foi uma das primeiras a registrarem o surgimento da praga, a partir de 1998. Segundo o coordenador de Produção Agrícola da usina, Nagib Taiar Neto, dos cerca de 11 mil hectares em que a colheita é mecânica, entre 6 mil e 7 mil são infestados, todo ano. “É um efeito indesejado da nova tecnologia”, diz.

O combate da cigarrinha pode ser feito por tratamento químico, controle biológico e afastamento da palha da cana, diz a pesquisadora do Centro de Cana do instituto Agronômico de Ribeirão Preto, Leila Luci Dinardo-Miranda.

Região – O sucesso de cada um deles depende da região. Taiar Neto explica que na Usina Colorado apenas o controle químico é bem-sucedido. O biológico, com fungos que atacam a cigarrinha desde a fase de ninfa até a adulta, não deu resultados.

E a hipótese de afastamento da palha do solo está descartada, porque na região de Ribeirão, de clima seco e quente, ela protege o solo do sol e reduz a perda de umidade.

Outro problema da retirada da palha é a grande quantidade. Segundo Taiar Neto, cada hectare gera em média 15 toneladas de palha. Leila explicou que a melhor alternativa é associar os recursos disponíveis em um programa de manejo integrado, de acordo com as características de cada região.

“Dadas as atuais circunstâncias, será difícil erradicar essa praga, mas é possível controlá-la com todas as ferramentas disponíveis”, afirma.

Pesquisa Constante – De acordo com Leila, não há uma solução estática para o problema. “As pesquisas precisam ser constantes”. Na Usina Colorado, a experiência mostrou que o combate químico é o de maior sucesso, mas é também o mais caro. Para aumentar a eficiência desse controle e reduzir custos, a empresa optou por otimizar o manejo dos produtos.

“Se não for controlada, a cigarrinha pode reduzir entre 30% e 40% a produtividade”, diz Taiar Neto. Ele acrescenta que os técnicos fazem o controle para descobrir o melhor momento da aplicação química, evitando desperdício e prejuízos.

“Também estamos e a aplicação na época mais adequada. “Porém ainda é cedo para comemorar”, diz. O combate começa a ser feito quando a conseguindo economia com a aplicação de doses menores”. Taiar Neto comentou que a usina obteve avanços com a diminuição do uso de inseticida incidência da praga é de 4 a 12 ninfas por metro linear da cana.

Em São Paulo, os níveis de infestação da cigarrinha variam conforme a variedade da cana, mas todas estão sujeitas aos ataques e às conseqüentes perdas de produção. Leila conta que os programas de combate ao inseto surgiram há cinco anos.

“Nesse período obtivemos bons avanços”. Mas ela comentou que algumas áreas no Estado precisam ser mais bem estudadas, como a região norte.

A praga está presente nas lavouras desde a década de 70. Porém, a queimada da cana matava os ovos que eram colocados na palha e na superfície do solo, combatendo eficazmente a cigarrinha.

“Era uma praga sem importância econômica”, diz Leila. Com a colheita mecânica, os ovos encontram lugar ideal para se multiplicar. A colheita mecanizada, entretanto, não será abandonada.

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