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CNI também ataca política comercial

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) fez ontem duras críticas à política comercial do governo. Segundo Osvaldo Douat, presidente da Coalizão Empresarial Brasileira e presidente do Conselho de Integração Internacional da CNI, os interesses políticos do governo estão se sobrepondo aos ganhos econômicos nas negociações comerciais. A CNI se juntou à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e à Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), que atacaram o rumo das negociações comerciais na terça-feira, em reportagem do Estado. “No caso da China e do acordo com os países andinos, os interesses políticos do governo foram mais importantes do que as vantagens comerciais”, disse Douat ontem, durante o Encontro Nacional de Comércio Exterior. Empresários acreditam que o governo fez concessões demais, em troca de apoio para o Brasil se tornar membro permanente do conselho de Segurança daONUe para perseguir umprojeto de liderança entre os paísesemdesenvolvimento. “Uma preocupação excessivacom aspectos políticos pode comprometer os resultados econômicos das negociações”, disse Douat. Segundo ele, o País fez muitas concessões aos andinos e conseguiu uma redução tarifária muito limitada. Já no caso da China, para Douat, o setor privado sequer foi consultado em relação ao reconhecimento de economia de mercado que o Brasil concedeu ao país asiático. Antonio Simões, assessor econômico do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, rebateu as críticas. “Não estamos subordinando o político ao comercial”, disse. “Mas é claro que temos uma estratégia política de longo prazo, essa é a diferença entre ser um Estado e ummascate.” Segundo Simões, os empresários precisam entender que é necessário fazer concessões. E ele disse que, com o reconhecimento da China, as ações antidumping contra o país ficam mais trabalhosas, mas não impossíveis. Douat também criticou a ênfase do governo nas negociações Sul-Sul. “Acordos Sul-Sul têm um papel complementar e, até agora, tiveram uma abrangência muito limitada”, disse. O secretário- executivo do Ministério do Desenvolvimento, Márcio Fortes, admitiu que os acordos negociados com a Índia e a África do Sul são tímidos. “Sabemos que são acordos limitados, que incluem um número pequeno de produtos, e estamos tentando ampliá-los”, disse. Fortes respondeu também a críticas sobre o acordo com a Rússia. Para alguns empresários, o Brasil prometeu à Rússia que vai apoiar sua entrada na Organização Mundial do Comércio, mas não levou nada em troca, nem a suspensão do embargo à carne brasileira. “Nós ainda estamos negociando o apoio, e, entre as ofertas que a Rússia pode nos fazer estáummaior acesso na área de serviços e uma mudança no esquema de preços para importação de açúcar”, disse Fortes . A indústria continua atacando o acordo com aChina. “O que negociamos com a China teríamos conseguido sem dar esse reconhecimento, que, aliás, não é verdadeiro, pois a China não é uma economia de mercado”, disse o presidente da Fiesp, Paulo Skaf. Segundo ele, antes não houve invasão dos produtos chineses porque o dólar estava alto. “Mas agora, com o câmbio baixo e a demanda aquecida, o risco é grande. Estamos em estado de alerta vermelho por causa da China.” Skaf divergiu de seu diretor do Departamento de Relações Internacionais, Roberto Giannetti. Giannetti prega uma revisão do Mercosul, para que o acordo se transforme em uma área de livre comércio e o Brasil possa negociar de forma independente com outros países. A posição de Giannetti teria causado mal-estar com o governo. “Não há consenso sobre a opinião do Giannetti, ainda não desistimos do Mercosul”, disse. “Mas podemos reavaliar essa posição; não vamos permitir que a tolerância de fortalecer oMercosul prejudique as negociações do Brasil com outros países”. Oministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, tentou pôr panos quentes na chiadeira do empresariado.“Uma parte das negociações são tratadas a nível presidencial, a portas fechadas, e não podem ser colocadas a público antes da hora; é claro que o presidente russo e o chinês não vieram ao Brasil só para fazer turismo.”

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